Domingo, 1º de novembro de 1959. Nossos livros de história não nos permitem lembrar desse dia como uma data histórica no nosso país. Possivelmente os livros de história no Canadá também não. Mas nos livros de história do hóquei, e agora nas páginas de TheSlot.com.br, você verá que o dia 1º de novembro foi uma data que mudou a história do esporte, com uma inovação que redefiniu uma das principais posições do jogo. Uma inovação aparentemente simples, mas que representou um dos maiores avanços na segurança dos jogadores: a máscara do goleiro.

Madison Square Garden, Nova York. Rangers e Canadiens se enfrentavam em mais um jogo de temporada regular. Os Canadiens eram então tetracampeões, uma constelação que contava com os irmãos Maurice e Henri Richard, Doug Harvey, Jean Beliveau, Bernie Geoffrion e Jacques Plante (todos membros do Salão da Fama). Os Rangers eram um dos times mais fracos da uma liga que tinha apenas mais cinco. Conta a história que Andy Bathgate, o único craque daquele time — e então vencedor do troféu Hart — teria prometido vingança a Plante, goleiro de Montreal que supostamente o havia atingido com o taco em um encontro semanas antes. E a vingança acabou por mudar a história não só do jogo, mas do "Jogo". Com três minutos de jogo, Bathgate desfere uma tacada que acerta Plante em cheio, cortando seu rosto e seus lábios, e fraturando seu nariz. O goleiro, que já era conhecido por seu estilo diferenciado dos demais, como por exemplo, sendo o primeiro goleiro a "sair jogando" com o disco fora da área, estava prestes a tomar sua medida mais revolucionária.

Naquele tempo cada equipe contava com apenas um goleiro na escalação, e com Plante machucado, só havia como opções esperar que o goleiro fosse recuperado da contusão, recrutar qualquer pessoa presente que estivesse disposta a jogar no gol (e sofrer as mesmas conseqüências), ou simplesmente abandonar a partida e ceder o famoso "W.O." aos Rangers. Plante continuou no jogo, após levar todos os pontos necessários para parar o sangramento e fechar os cortes, mas lançou mão de um artefato que já vinha desenvolvendo há algum tempo, mas que sempre insistia na relutância do conservador (e vitoriosíssimo) treinador Hector "Toe" Blake, que não permitia que seu goleiro utilizasse uma pequena máscara feita em fibra de vidro, a única proteção facial para um jogador de hóquei na época.

No entanto, as alegações de Blake, de que a máscara atrapalharia a visão de seu arqueiro, não permitiam a Plante experimentar seu invento. Curiosamente, um ato vingativo de Bathgate fez com que o turrão treinador finalmente cedesse aos pedidos de seu pupilo, no melhor estilo "ou uso ou não jogo". Desta forma, Jacques Plante retornou ao gelo 21 minutos depois do incidente, e, com sua máscara protetora, realizou 27 defesas naquela partida, cedendo apenas um gol, e ajudando seus Canadiens a sair de Nova York com o triunfo por 3 a 1, e Bathgate não marcou gols.

Plante, que vinha de uma seqüência de apenas 7 gols sofridos em 6 partidas anteriores, seguiu o bom momento já utilizando o novo equipamento, vencendo 10 partidas e empatando uma durante o mês de novembro, parte de uma sequência dos Canadiens de 18 jogos invictos, nos quais Plante cedeu no máximo 2 gols em 17 deles. Ao final daquela temporada, os Canadiens mais uma vez ergueram a Copa Stanley, a quinta consecutiva - feito único até hoje, e consagrou o invento de Jacques Plante, o primeiro goleiro a vencer uma Copa usando uma máscara. Máscara essa que embora já havia sido experimentada por Clint Benedict (outro lendário goleiro de seu tempo), do Montreal Maroons, em 1930, por razões semelhantes: um nariz quebrado por conta de uma tacada (de Howie Morenz) que levou Benedict a usar uma pequena proteção de couro em seu rosto (proteção essa que no entanto durou apenas 5 partidas, quando novamente o goleiro teve seu nariz machucado durante uma partida, o que o levou inclusive a encerrar sua carreira). No entanto foi mesmo Jacques Plante o homem que imortalizou o uso da máscara para os goleiros. Ironia ou não, motivado por uma vingança, e contrariando seu treinador.

Mas hoje, 50 anos depois, o que conta é o aniversário desta data histórica. E para mostrar como essa peça evoluiu aos níveis que você vê hoje nas partidas — diga-se de passagem, que não lembram em nada o original de Plante — a próxima edição de TheSlot.com.br vai falar um pouco mais da história das máscaras dos goleiros, um dos principais equipamentos de segurança do esporte.

Quem pensa no entanto que Jacques Plante teve seu nome imortalizado apenas por esta história que você acaba de ler, está enganado. O promissor goleiro de Quebec, após temporadas nas ligas menores, iniciou sua carreira nos Montreal Canadiens na temporada 1952-53, e assumiu o posto de titular do gol dos Habs em 1954-55, começando no ano seguinte a mais duradoura das dinastias de Montreal, onde o time venceu 5 Copas Stanley e Plante venceu 5 troféus Vezina como melhor goleiro. Em 1962, a máxima coroação individual ao ser agraciado com o troféu Hart de melhor jogador da liga. Seu estilo de jogo também revolucionou a maneira de se jogar a posição. Funções hoje normais de um goleiro como sair da área para jogar o disco, se posicionar atrás do gol e "ajeitar" o disco para o início de uma nova jogada, avisar o time quando um "icing" estava por acontecer, todas foram obras de Plante. Como também foi dele a liderança de um movimento pela introdução de um goleiro reserva nos elencos das equipes para as partidas. Sua maneira de jogar em pé também é iconizada até hoje. Plante aperfeiçoou o posicionamento do goleiro para o momento da defesa, fechando ângulos e reduzindo espaços para o atacante marcar o gol. Tamanho conhecimento o fez lançar o livro "Art of Goaltending", uma referência para as futuras gerações de goleiros.

Após a temporada 1962-63, Plante transferiu-se para os Rangers — pondo fim a uma série de desentendimentos entre ele e "Toe" Blake —, onde jogou mais dois anos, antes de se aposentar, àquelas alturas já muito abalado pelos problemas com a asma e diversas lesões. Em 1965, participou ainda de um jogo contra a seleção Soviética e o time júnior dos Canadiens, onde foi o goleiro vencedor do jogo e o craque da partida. No entanto, a expansão de 1967 o trouxe de volta a NHL, desta vez no St. Louis Blues, onde se juntou a outro futuro grande em Glenn Hall, onde chegaram a duas finais de Copa Stanley, e dividiram o troféu Vezina de 1969. Já com mais de 40 anos, Plante ainda disputou temporadas por Toronto, Boston e Edmonton (este último ainda nos tempos de WHA). Sua carreira prosseguiu fora do gelo, onde atuou como técnico e gerente geral do Quebec Nordiques (também da WHA) e observador para os Blues. Jacques Plante, foi indicado ao Salão da Fama em 1978, para o "Time dos Sonhos" dos Canadiens em 1985, e teve sua camisa (número 1) aposentada pelo Montreal em 1995. Em 1986, aos 57 anos, Jacques Plante faleceu, deixando um legado de conquistas e inovações, marcas registradas de sua carreira.

Joseph Jacques Omer Plante
Nascido em 17 / Janeiro / 1929 (Notre-Dame, Quebec, Canada)
Falecido em 27 / fevereiro / 1986 (Genebra, Suiça)
Carreira (NHL - Montreal , New York, Toronto, St. Louis)
837 jogos
434 vitórias
247 derrotas
146 empates
49533 minutos
1965 gols sofridos
82 shutouts
2,38 media de gols sofridos
Titulos:
Troféu Vezina: 1956, 1957, 1958, 1959, 1960, 1962, 1969
Troféu Hart: 1962 Copa Stanley: 1953, 1956, 1957, 1958, 1959, 1960
1º Time All-Star da NHL: 1956, 1959, 1962
Recordista dos Canadiens em jogos (556), vitórias (311) e vitórias em uma temporada (42)

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