Por: Thiago Leal

Em 1970 a NHL ganhou mais dois times, dando continuidade à expansão que começara em 1967. Buffalo Sabres e Vancouver Canucks aumentavam o número de franquias que disputavam a Copa Stanley de 12 para 14. Com a adesão destes novos dois times, talvez uma outra expansão fosse demorar um pouco mais, afinal de contas, em quatro anos a liga saltou de seis para 14 franquias. Mas o surgimento da World Hockey Association fez a NHL mudar de ideia e, motivada pela necessidade de ganhar mercado, criar às pressas mais duas franquias logo em 1972: o New York Islanders e o Atlanta Flames. Tanto Long Island quanto Atlanta possuíam duas novas arenas, e, temendo que a WHA as ocupassem, a NHL chegou primeiro, aumentando seu o número de equipes para 16. Em cinco anos a NHL já tinha dez times a mais que na era dos Seis Originais.

Buffalo Sabres, Vancouver Canucks e New York Islanders seguem em atividade na NHL. O mesmo não pode se dizer a respeito do Atlanta Flames, e é exatamente por isso que a franquia é o tema da terceira parte da série Eu Não Existo Mais.

Fogo inesquecível
Em 1966 Atlanta ganhou seus dois primeiros representantes em grandes ligas, o Atlanta Braves na liga de beisebol, a MLB; e o Atlanta Falcons na de futebol, a NFL. Já em 1968 o empresário Tom Cousins, apoiado pelo ex-Governador do Estado da Geórgia, Carl Sanders, trouxeram de St. Louis a franquia da NBA Hawks, tornando-se o Atlanta Hawks. E o único motivo pelo qual ilustro esses acontecimentos é simples: os Hawks vieram porque a cidade já tinha os Braves e os Falcons. E foi através dos Hawks que Atlanta se credenciou a receber, no futuro, uma franquia da NHL, pois foi com o time de bola-ao-cesto que a cidade ganhou uma arena, o Omni Coliseum.

Em 1971 a NHL decidiu criar o New York Islanders de modo a ocupar o Nassau Veterans Memorial Coliseum. Como o número de franquias na liga tinha que ser par, a expansão concedia mais uma outra equipe, e o Grupo Cousins de Atlanta foi contemplado com a vaga. O nome escolhido para a franquia deriva da queimada de Atlanta, evento da Guerra Civil ocorrido em 11 de novembro onde a cidade foi evacuada e completamente queimada por ordens do General do Exército William Sherman. Lógico que a franquia foi vista com desconfiança, assim como Kings e Seals. Por que, afinal, levar uma franquia de hóquei no gelo para o Sul?

Atlanta Flames
Para gerente geral, Cousins nomeou Cliff Fletcher, então assistente de Scotty Bowman, gerente geral do St. Louis Blues. E para técnico, Bernie Geoffrion, o famoso Boom-Boom, cuja carreira de treinador tinha começado e encerrado há quatro anos, quando treinou por um curto período de tempo o New York Rangers, antes de se demitir do cargo por problemas de saúde. Ou seja, os Flames vieram para renovar a NHL, não apenas expandindo seu território, mas formando novos profissionais.

Após estrear bem na temporada 1972-73, com vitória por 3-2 sobre o também novato New York Islanders, o Atlanta precisou de seis jogos para tornar a vencer. A segunda vitória foi por 3-2 sobre o Minnesota North Stars em Bloomington. Entre os dois resultados positivos, quatro derrotas e um empate — 1-1 contra o Buffalo Sabres, no primeiro jogo realizado em casa. O início ruim logo deu lugar a resultados mais positivos, com o goleiro Dan Bouchard e a dupla de zaga Randy Manery e Pat Quinn fazendo um ótimo trabalho de defesa. Em janeiro, os Flames chegaram a ter uma sequência ivicta de seis jogos, surpreendendo os que não acreditavam na equipe do Sul. Mas o final da temporada regular acabou vendo mais uma queda de rendimento dos Flames, que acabaram fora dos playoffs. De qualquer forma, comparando ao colega caçula, os Flames tiveram desempenho bem melhor que o do New York Islanders, lanterninha da liga.

A primeira participação da franquia em pós-temporada aconteceu no ano seguinte, 1973-74, embora não tenha sido das melhores: foram varridos pelo Philadelphia Flyers logo na primeira rodada. Época dos Broad Street Bullies, os Flyers foram campeões daquela edição da Copa Stanley. Mas valeu para os Flames sua primeira experiência em playoffs, fase da qual eles ficaram de fora pela última vez em 1974-75. Foi nesta temporada, porém, que a equipe de Atlanta conquistou seu primeiro prêmio individual: o Troféu Memorial Calder para o calouro do ano Eric Vail.

Nas cinco temporadas seguintes, os Flames foram aos playoffs, sendo sempre eliminados na primeira rodada. Sua melhor temporada regular foi, sem dúvida, 1978-79, quando o time obteve um recorde pessoal de 41 vitórias, 90 pontos e 327 gols marcados. Foi nesta temporada que os Flames viveram uma surpreendente sequência de dez jogos invictos. Nesse período outros prêmios individuais aconteceram: Willi Plett tornou a trazer o Calder para Atlanta em 1977 e Bob MacMillan ficou com o Lady Byng em 1979.

Apesar da melhora dos Flames em 1979, havia um problema que a franquia não conseguia contornar: público, cada vez mais ausente do Omni Coliseum. À medida que o público diminuía, os custos do time aumentavam, deixando para seus donos toneladas de dívidas. Com contas a pagar, Cousins não teve alternativa senão aceitar a oferta de US$16 milhões de Nelson Skabania, interessado em apagar o fogo de Atlanta e reacendê-lo em Calgary, onde certamente se encontraria uma torcida mais presente, melhores quotas de televisão e os Flames poderiam, quem sabe, contornar seus problemas. 1979-80 foi a última temporada do time em Atlanta. Na temporada seguinte, a franquia já atuava em Calgary.

Fica, em Atlanta, as memórias: o primeiro capitão do time foi Keith McCreary; a primeira escolha de recrutamento foi Jacques Richard, segunda escolha geral de 1972; Eric Vail e Rey Comeau foram os recordistas de jogos, ambos com 469 partidas disputadas; Vail também detém o recorde de gols, 174; Tom Lysiak é recordista de assistências e de pontos, respectivamente 276 e 431; e Dan Bouchard detém todos os recordes de goleiro: mais jogos, mais vitórias, mais shutouts, mais vitórias numa única temporada...

Legado
Em Calgary e com novos donos, a franquia teve uma atitude surpreendente: manteve o nome Flames, o que não é muito comum. Para os investidores do time, em especial Skabania, "Chamas" tinha tudo a ver com Calgary, por ser uma cidade de Alberta, região de exploração de petróleo. Em sua primeira temporada em Calgary, os Flames mostraram o quanto a mudança fez bem: classificaram-se aos playoffs, varreram o Chicago Black Hawks na rodada pré-eliminar, eliminaram o Philadelphia Flyers em sete jogos e chegaram à final de conferência/semi-final da liga, perdendo para o Minnesota. Nove anos depois, os Flames conquistaram sua primeira e, até agora, única Copa Stanley.

Em 1996 o Calgary Flames comemorou os 25 anos da franquia de uma maneira bem original: o A, no ombro dos capitães alternativos, era semelhante ao A flamejante, antigo logo do Atlanta, fazendo uma bela homenagem à franquia original que segue sendo utilizada até os dias de hoje. Em 2004 os Flames chegaram pela última vez a uma final de Copa Stanley.

Em 1999, 19 anos depois, surgiu o Atlanta Thrashers, e a capital da Geórgia não estava mais órfã de uma franquia na NHL. A região metropolitana, no entanto, já havia solvido esse problema um pouco antes: em 1996 foi criado o Columbus Cottonmouths, franquia da Southern Professional Hockey League. Em 2003 o Gwinnett Gladiators foi fundado, para fazer parte da ECHL. Em 2006 os Gladiators decidiram a Copa Kelly, última vez que uma equipe do estado decidiu um título.

Além disso, e talvez o mais importante, o Atlanta Flames foi pioneiro na prática do hóquei no Sul dos Estados Unidos. Hoje além da própria Atlanta, cidades do sul que possuem franquia na NHL são Dallas, Nashville, Sunrise (região metropolitana de Miami), Tampa, Raleigh na Carolina do Norte, Washington — os Capitals foram fundados pouco depois dos Flames, em 1974. Talvez os que torceram o nariz tivessem um pouco de razão em 1972 quando duvidaram do insucesso de uma franquia da NHL no Sul dos Estados Unidos. De fato, o Atlanta não funcionou a princípio. Mas abriu caminho para que, alguns anos depois, franquias como o Florida Panthers e o Nashville Predators vivessem períodos de favoritismo ou, melhor ainda, as equipes do Dallas Stars, Tampa Bay Lightning e Carolina Hurricanes conquistassem a Copa Stanley. Para que isso acontecesse, alguém teve que desbravar as terras mais quentes e provar que isso era possível. O Atlanta Flames fez o serviço sujo.

Ficha — Atlanta Flames
Fundação:
1972 (NHL)
Adesão à NHL: 1972
História:

- Atlanta Flames (NHL), 1972-1980
Cidade:
- Atlanta, Geórgia, 1972-1980
Cores:
- Vermelho, amarelo e branco.
Arena: Omni Coliseum.
Títulos: Nenhum.
Melhor campanha: Playoffs em 1973 e de 1976 a 1980, sempre eliminado na primeira rodada.

Na próxima edição: o Colorado Rockies não existe mais. Não, a franquia da Major League Baseball não acabou. Estamos nos referindo ao time da NHL que atuou de 1976 a 1982, antes de virar o vencedor New Jersey Devils.

Thiago Leal está irritado com o seu sócio por não ter atualizado o Fanático Esporte Clube esta semana.
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"A" Flamejante: O clássico logo do Atlanta foi muito elogiado na NHL e, em 1996, voltou à camisa dos Flames, como símbolo dos capitães alternativos.

Rick Dikeman
Tom Lysiak (primeiro à esquerda) é o recordista em pontos da franquia.

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Troféu Memorial Calder em 1975, Eric Vail foi o principal goleador do time.

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Dan Bouchard detém todos os recordes de goleiro da franquia.

James Teterenko
Robyn Regehr, canadense nascido no Brasil e capitão alternativo dos Flames: note o "A" Flamejante no ombro.
(17/11/2006)

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Página publicada em 4 de novembro de 2009.