Por: Alessander Laurentino

O Montreal Canadiens tinha certeza que estava no caminho certo rumo ao retorno às glórias do passado, afinal de contas o time estava bem acertado, tinha poder de fogo, uma vantagem numérica que funcionava, uma defesa bem postada e uma grande promessa no gol para segurar o time rumo aos playoffs. Os mais empolgados chegaram a comparar Carey Price com o imortal St. Patrick.

Quando o negócio era para valer, as esperanças quebequenses se esvaíram, e a esperança derreteu como açúcar na água. Na verdade, derreteu como Price no gol durante os playoffs.

Tido como um dos principais culpados pela eliminação vexatória dos Habs pelos Flyers naquele ano, Price caiu em desgraça e descrédito frente a maior parte da torcida de Montreal. Um dos poucos que continuaram defendendo o jovem goleiro e que bancavam a sua titularidade no gol era o GM Bob Gainey. Agora Gainey se foi. O atual ex-GM da equipe pediu as contas essa semana e deixou o cargo de maior pressão da província do Québec. Até mesmo Jean Charest, primeiro-ministro da província, está atrás em importância quando comparado ao cargo de gerente geral da paixão "nacional" que é o Montreal Canadiens.

O eterno número 23 dos Habs falou que estava cansado e que não tinha condições de se comprometer por mais quatro ou cinco anos com a equipe, então era melhor sair agora e passar o bastão para outro. Com a elegância e a educação de sempre, Gainey se despediu do comando geral da franquia e passou o bastão para o seu assistente Pierre Gauthier, que não parece ser tão defensor assim do jovem Price.

Perguntado sobre a situação, Gauthier se limitou a dizer que no momento a equipe tem dois bons goleiros e que isso pode ser importante nessa reta final, já que se um não estiver bem o outro pode assumir o posto.

Para piorar a situação de Carey Price, o então reserva Jaroslav Halak resolveu jogar. E está jogando muito. Enquanto o jovem natural de Vancouver, BC (Price) tem apenas 12 vitórias, 17 derrotas e 4 derrotas na prorrogação/pênaltis, e registra uma média de gols sofridos de 2,80, com percentual de defesas de 91,1%, o seu adversário de Bratislava, Jaroslav Halak, registra 17 vitórias, apenas 9 derrotas e 2 derrotas na prorrogação/pênaltis, com 2,45 gols sofridos em média e percentual de defesas de 92,7%.

Como fazer, então, para convencer a imprensa e a torcida de que o goleiro com números piores, que não tem mais tanto apoio da torcida e nem mesmo dos seus companheiros, e que mostra momentos de desempenho medíocre, deve ser o goleiro titular? Como acreditar que o mesmo goleiro, que quase entregou a série contra o Boston e logo em seguida detonou seu time contra os Flyers nos playoffs de 2008, é o goleiro que vai ter a maior carga horária e o papel de guardião do gol da sua equipe?

Os números estão aí e são difíceis de serem contestados. Em janeiro, quando os Habs não conseguiam marcar pontos com Price no gol, foi Halak quem salvou o time de afundar na classificação se distanciando dos playoffs. Ele, inclusive, conseguiu parar o forte New Jersey Devils e os Rangers quando os Habs registraram um saudoso shutout na vitória de 6 a 0 sobre o time de New York. Num espaço de pouco mais de duas semanas, Halak conseguiu registrar cinco vitórias, uma derrota nos pênaltis e uma no tempo regular. No mesmo período, Price só fez perder.

O resultado disso foi a chuva de notícias e matérias na imprensa do Québec pedindo que a comissão técnica desse o posto de goleiro titular para Halak, afinal de contas ele estava fazendo por merecer. Outros mais afoitos disseram que já era hora dos Habs reconhecerem que Price não é o goleiro que eles precisam.

E isso tudo acontece exatamente às portas da data limite para trocas na NHL. Até que ponto é verdade, não sabemos, mas corre em Montreal o rumor de que Halak e seu agente se reuniram com Gainey no começo da temporada e foram explícitos ao dizer que se não fosse para ser titular em Montreal, ou pelo menos ter uma chance de disputar seriamente a posição, Halak pediria para ser trocado antes do dia-limite.

Será que os Habs vão insistir em Price, mesmo com Halak jogando mais e inspirando mais confiança nos seus companheiros? Porque é inegável que quando Price está no gol seus companheiros estão mais cautelosos e isso acaba prejudicando a ofensividade dos Habs. Afinal de contas, eles nunca sabem quem vai estar no gol: o Price capaz de defesas milagrosas no melhor estilo St. Patrick Roy, ou o Price tomador de frangos ridículos capazes de desestimular até o mais profissional dos seus companheiros.

Também é difícil agora imaginar que os Habs possam simplesmente abrir mão de um dos dois às vésperas dos playoffs. Obviamente, se aparecesse a chance de contratar um goleiro topo de linha sem estourar o teto salarial eles fariam isso. Mas essa possibilidade não existe, e se os Habs confirmarem a vaga nos playoffs, eles terão de contar com a falta de experiência em pós-temporada de Halak e os traumas de Price.

Como abrir mão de seu melhor goleiro quando os playoffs estão à porta? Por isso é difícil trocar Halak agora. Até porque a gerência não quer ver o barco afundar novamente nos playoffs e eles não terem um plano B no gol. Sem falar no medo de ver Halak parar em um rival e vencer 40 partidas na próxima temporada.

Já quanto a Price, é difícil abrir mão agora de um goleiro em quem o time investiu tanto e sem dar uma chance final a ele. Afinal de contas, Price ainda tem lampejos de talento e de capacidade fenomenal. O que temos que saber é se ele realmente pode se desenvolver e se transformar no goleiro que muitos esperavam dois anos atrás que já seria hoje.

Ao ver a situação de Price, eu me recordo de outros goleiros que passaram pela NHL, prometiam muito mas na hora decisiva deixavam a desejar. Quem não se lembra de Dan Cloutier e suas vitórias fantásticas na temporada regular, mas que nos playoffs era uma negação? Que o diga o time do Detroit, que adorou quando ele entregou a série que os Canucks tinham na mão.

Por tudo isso, é pouco provável que existam vencedores no duelo entre Halak e Price, uma vez que os Habs vão perder um bom goleiro ou um goleiro promissor. Resta saber em quem eles vão depositar suas fichas e qual será a aposta.

Alessander Laurentino aproveitou uma rara folga para voltar a uma edição de TheSlot.com.br.
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Página publicada em 11 de fevereiro de 2010.