Por: Humberto Fernandes

Em dezembro de 2008, na edição n.º 212 de TheSlot.com.br, escrevi sobre o provável término da relação entre Atlanta Thrashers e Ilya Kovalchuk. O assunto ganhou a capa da edição.

Mais de um ano depois, aquele texto não poderia ser mais atual: os Thrashers perderam o seu maior jogador e nada mudou na forma de gerenciar a franquia.

O Atlanta trocou Kovalchuk, Anssi Salmela e a escolha de segunda rodada no recrutamento por Nicklas Bergfors, Johnny Oduya, Patrice Cormier e as escolhas de primeira rodada e segunda rodadas do New Jersey Devils.

O gerente geral, Don Waddell, dizia que, para levar o russo, a equipe interessada deveria oferecer um atacante top-seis, um defensor top-quatro, uma escolha de primeira rodada e/ou um prospecto.

Indo direto ao ponto:

Bergfors, 22 anos, selecionado na primeira rodada de 2005, é um atacante promissor, mas ainda é só isso, uma promessa. Ele pode vir a ser um atacante top-seis, mas os especialistas indicam que é mais provável que ele seja top-nove, ou seja, um atacante de terceira linha. Essa é a sua primeira temporada completa na NHL, tendo marcado 15 gols e 30 pontos em 57 jogos com os Devils.

Oduya, 28 anos, entrou para a liga como agente-livre em 2006-07, depois de ser selecionado na sétima rodada do recrutamento de 2001 e dispensado pelo Washington Capitals. É mais um daqueles achados dos Devils, assim como Brian Rafalski, por exemplo. O sueco pode ser um defensor top-quatro para um time que não tem profundidade defensiva, como o Atlanta, mas não é um jogador dotado de muitos recursos, ou seja, tecnicamente, ele não é um top-quatro por excelência. Em sua quarta temporada, atua 20 minutos por jogo.

Cormier, 19 anos, foi selecionado na segunda rodada do recrutamento de 2008. Em dezembro de 2009, foi nomeado como capitão da Seleção Canadense que disputou o Campeonato Mundial Júnior, sendo reconhecido internacionalmente por sua habilidade em usar o cotovelo para atingir a cabeça dos adversários. Nos jogos que antecederam ao Campeonato, Cormier derrubou Anton Rodin, da Suécia, e Teemu Hartikainen, da Finlândia, em apenas três dias. No mês passado, em sua terceira partida com o Rouyn-Noranda Huskies da QMJHL após ser negociado pelo Rimouski Oceanic, Cormier entrou no gelo e mirou a cabeça de Mikael Tam, que carregava o disco no centro do gelo. A cotovelada foi certeira e tão forte que Tam sofreu uma convulsão. A QMJHL suspendeu o agressor pelo restante da temporada, incluindo os playoffs, o que pode deixar uma marca indelével na carreira de um atacante promissor.

A escolha de primeira rodada dos Devils, agora pertencente ao Atlanta, tende a ser uma das mais baixas, ficando entre as posições 23 a 26. É claro que vai depender diretamente do desempenho do New Jersey nos playoffs, podendo ser até a última, caso o time seja campeão. O fato é que os Thrashers não terão a menor chance de recrutar um dos fenômenos disponíveis nas primeiras posições.

Salmela, 25 anos, é um defensor nascido em Nokia, na Finlândia. Isso é tudo. Ele foi o contra-peso da troca, uma exigência dos Devils, que precisavam tapar o buraco deixado por Oduya na defesa e apostaram em alguém que já defendera a equipe na temporada passada.

A inversão das escolhas de segunda rodada diminui o impacto da perda da escolha de primeira rodada para os Devils. Eles perderam uma seleção, possivelmente entre 23-26, e outra entre 53-56, mas levaram para casa alguma perto de 35-37. Acredite: a gerência do New Jersey vai fazer mais com a escolha na casa dos 30 do que a gerência dos Thrashers com a escolha dez posições antes. O histórico dos times não deixa dúvidas.

Alguém pode dizer que Waddell conseguiu o que queria, ou que, dadas as limitações, extraiu o máximo da situação.

Eu discordo. Quando você troca o seu melhor jogador por um pacotão-do-mal, já está errado. Mas fica pior, neste caso, quando o nome mais famoso do pacote é o do prospecto desmiolado que usa o cotovelo em vez do cérebro.

Kovalchuk, 26 anos, é o maior goleador da NHL desde 2001-02, quando estreou na liga, com 328 gols em 598 jogos. Desde o locaute, ele é o segundo maior, atrás apenas do seu compatriota Alexander Ovechkin. Nas últimas cinco temporadas, Kovalchuk marcou 40 ou mais gols, ultrapassando a marca dos 50 em duas delas.

Waddell trocou tudo isso aí por um defensor esforçado, porém limitado, um atacante promissor, mas que ainda não justifica a aposta, um prospecto perturbado e duas escolhas ruins.

Imediatamente você se lembra da troca que levou Marian Hossa para o Pittsburgh Penguins.

Do retorno daquela troca, pouco ou nada sobrou. Erik Christensen já está em sua segunda equipe desde que passou pelo Atlanta, Colby Armstrong pode ser trocado depois das Olimpíadas, Angelo Esposito arrebentou o joelho direito pela segunda vez, o que coloca a sequência de sua carreira e o seu potencial em dúvida, e a escolha de primeira rodada, 29.ª geral, materializou-se em Daultan Leveille, alguém que ainda está na universidade e que demanda mais alguns anos de preparação.

Aquela foi a primeira vez que a franquia foi arruinada. Na semana passada, a segunda.

Depois de tantas escolhas altas no recrutamento — mais precisamente, oito entre as dez primeiras em onze anos — e dois craques negociados, os Thrashers não chegaram a lugar algum.

Waddell é o gerente mais incompetente da década na NHL.

Para os Devils, Kovalchuk imediatamente se tornou o maior atacante a já ter vestido a camisa do time. Sua aquisição coloca a equipe algumas posições acima na lista dos favoritos à conquista da Copa Stanley para a imprensa em geral — mas não para esse simples colunista, que não acredita naquele time mesmo assim. Em julho, quando seu contrato expirar, os Devils terão o suficiente no teto salarial para firmar com ele um vínculo de longo prazo.

Antes que seja tarde demais, é preciso levantar uma pequena consideração sobre o caráter de Kovalchuk.

Se é verdade que ele rejeitou todas as propostas do Atlanta, inclusive uma de US$ 70 milhões por sete anos que faria dele o jogador mais bem pago da liga, e outra de US$ 101 milhões por 12 anos, ele nada mais é do que um egoísta. Se o que deseja é ter uma remuneração de quase 20% do teto salarial de um time, valor máximo permitido pela liga, então ele não quer ganhar a Copa Stanley, mas sim ficar rico. Mais rico.

Com US$ 101 milhões, Kovalchuk compraria 60% do Tampa Bay Lightning, vendido recentemente, ou assinaria TheSlot.com.br por seis meses, com direito a um brinde.

No mundo ideal, Kovalchuk teria continuado em Atlanta, ajudando a desenvolver aquela organização. Também no mundo ideal, Waddell já estaria longe de lá.

Humberto Fernandes é gerente geral do Disk Pizza Capelão, time líder de sua liga fantasia no Yahoo!.

TheSlot.com.br
A capa da edição n.º 212 já bancava a saída de Ilya Kovalchuk.
(12/12/2008)

Jim McIsaac/Getty Images
Kovalchuk com o vermelho e preto do New Jersey Devils, tornando-se o atacante mais fantástico a vestir essa camisa.
(05/02/2010)

AP
Erguei as mãos e dai, glória!, adeus, Waddell!
(17/10/2007)

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Página publicada em 11 de fevereiro de 2010.