Por
Fabiano Pereira
Quantos anos você tem? 10? 20? 30? 40? Bem, independente de sua
idade, imagine-se com 39, 40, 41 anos. Se você já tem,
ótimo, nem precisa imaginar. Agora, diga-me o que você
vê. Uma família, filhos, um emprego convencional. Talvez
um escritório, com secretária. Talvez um profissional
liberal. Um cachorro, dois carros, uma casa confortável. Mas
você consegue se imaginar patinando avidamente em um rinque, jogando
seu corpo contra o de outras pessoas, manejando um taco, passando e
chutando um pequeno disco de borracha, estourando seu corpo, levando
porradas de todos os lados?
Pois bem. Algumas pessoas, aos 40 anos, têm isso como seu motivo
maior de vida. São jogadores de hóquei e, apesar de serem
estrelas, ainda querem jogar, por simples amor ao esporte a que se dedicaram.
82 jogos numa temporada, lá estão eles, com suas barbas
já atingidas pelos fios brancos. Seus corpos já não
são os mesmo de suas juventudes, mas sabem jogar com muita inteligência
e, principalmente, sabem liderar.
Aos 40 anos e algumas temporadas não muito boas, o defensor do
Detroit Red Wings, Chris Chelios, enfrentava um grande dilema: parar
ou não de jogar? Após uma temporada onde jogou apenas
24 jogos, parecia que este defensor não tinha muito a oferecer.
Não? O que dizer então, de 79 jogos, 39 pontos, um +/-
de +40, e principalmente, uma indicação para o Troféu
Norris, de melhor defensor da liga? Nada mal para este bravo guerreiro
que, mesmo com o corpo arrebentado, ainda continua a atazanar a vida
daqueles que tentam ficar na frente de seu goleiro. Jogando seu corpo
em cima dos advesários, batalhando pelo disco nas bordas e ainda
com alguma contribuição ofensiva. Além de ter sido
um dos principais jogadores na conquista da medalha de prata pelos Estados
Unidos, nos jogos de inverno. Acho que chega, não?
Aliás, os Wings são conhecidos por ser o time mais velho
da liga. Grande parte desta estatística está na idade
de Igor Larionov, 42 anos, o jogador em atividade mais velho. Mas Larionov
não completa apenas o banco ou entra ocasionalmente. Ele é
peça fundamental no esquema de jogo dos Wings, servindo com maestria
os asas finalizadores do time, além de segurar muito bem o disco.
Pode-se dizer que os Wings já têm Yzerman e Fedorov de
centrais, mas a experiência de Larionov é imprescindível.
E Scotty Bowman sabe disso e confia em todos os seus veteranos. Mesmo
que já tenham passado dos 35.
Quem passou dos 35 também foi o central dos Hurricanes, Ron Francis.
E calmamente, sem muito alarde, como é seu estilo, ele simplesmente
passou dos 1.600 pontos e completou 39 anos. Mesmo com seus cabelos
grisalhos e aparência de senhor de meia-idade, toda noite que
seu time entra no gelo, lá vai ele, dar o possível pelo
time. Marcar gols, fazer passes, mas, principalmente, liderar por seu
exemplo. Você jamais ouvirá Francis gritar com sua equipe,
mas, se precisarem de um gol, para vencer ou empatar, pode ter certeza:
virá das mãos mágicas deste respeitável
senhor. E bem respeitável, pois é venerado tanto pelos
torcedores de Raleigh, quanto por seus companheiros de equipe.
Respeito é algo que Mark Messier conquistou em todas as equipes
por que passou. Mesmo com seus 41 anos, ao perguntar para os torcedores
de Edmonton ou dos Rangers (e de muitas outras equipes) qual é
um dos maiores capitães de todos os tempos, a resposta será:
o Messias, responsável por cinco títulos dos Oilers em
Edmonton (um sem Gretzky) e pelo fim da seca de 54 anos sem a Stanley
Cup no Madison Square Garden. Após sua contusão nesta
temporada, sua liderança fez falta na equipe, que pareceu ter
perdido o rumo e, mais uma vez, não se classificou para os playoffs.
É inquestionável a liderança de Messier em uma
equipe. Gritando, colocando seus companheiros contra a parede, o velho
guerreiro (não é o Chacrinha), parece ter mais gás,
pois ainda não está claro se volta ou não para
a próxima temporada.
Poderiam ser ditas muitas coisas de tantos outros jogadores, como John
Vanbiesbrouck, Doug Gilmour, Dave Andreychuk, Kevin Dineen, Gary Suter
ou Steve Thomas, mas todos nós sabemos o valor que os mais velhos
têm em qualquer instituição em nossa vida: trabalho,
escola, vida. E, para os times de hóquei, esta máxima
também vale.
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Fabiano Pereira estava ouvindo Phil Collins quando terminou este
artigo. E, convenhamos, o Phil Collins não é lá muito novo também. |
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