Seus
187.888 lagos e a proximidade com o círculo polar ártico, transformam
a Finlândia em um imenso complexo de rinques para a prática do
hóquei sobre o gelo, o que, por si só, consolida esse gélido e
inóspito país em um dos mais amados e invejados por nós, fanáticos
por esse esporte. É a nação de Saku Koivu, Antero Niitymaki, Jere
Karalahti, Jari Kurri e Teemu Selanne. É pátria da Tarja Turunen
— ex-vocalista da banda Nightwish, demitida do grupo após
descobrirem um suposto affair da bela com um colunista aqui da
redação. É também o país da telefonia móvel, dos pilotos de rali
e da vodka Finlândia — segundo os finlandeses, essa é a
única vodka do mundo a utilizar águas cristalinas provenientes
da filtragem natural ocorrida em rochas da era glacial! Enfim,
essa é a Finlândia, onde, assim como no Canadá, o hóquei sobre
o gelo reina soberano como esporte mais popular.
Mas, apesar desse cenário perfeito, existe algo de podre por lá.
Existe uma grande e histórica farsa finlandesa, e olhe que não
estou falando de Sami Kapanen! Antes de dizer qual, é de bom grado
pedir que você, nobre leitor, se controle e não cometa insanidades
quando souber do que se trata. Pois é bem provável que essa "revelação"
mude seu modo puritano de ser e lhe transforme numa rocha impenetrável
e sem piedade como Scott Stevens. Essa revelação talvez faça você
se sentir traído, pelas estórias que lhe contaram na sua infância.
Indo direto ao assunto: Papai Noel... não existe. Sim, você não
ouviu errado, o bom velhinho não passa de uma grande mentira.
Ele faz parte de um grupo de lendas que nunca foram comprovadas
ou vistas, como o treinador do St. Louis Blues, Mike Kitchen,
o coelhinho da páscoa, a liderança de Keith Primeau, casa cheia
nos jogos do New Jersey Devils na Continental Airlines Arena,
Atlanta Thrashers nos playoffs, etc. Repito: é tudo lenda.
E como cheguei a essa conclusão? Através da NHL, é claro. E é
por isso que escolhi este polêmico assunto para esta semana de
festas. Há praticamente um ano fiz os tradicionais pedidos ao
bom(?) velhinho e enviei a carta para sua aldeia em Rovaniemi,
na Lapônia — região bem ao norte da Finlândia. Como era
a primeira vez que eu cometia tal ato de crença desmedida, pedi
logo três "presentes": a NHL de volta, mulheres e cerveja. As
três coisas que permeiam minha mente na maior parte do meu tempo.
Mas ele, covardemente, mandou tudo pela metade.
Sim, a NHL está de volta, mas não para nós, do hemisfério sul.
Para assistirmos um jogo temos que ter uma ótima conexão de internet
e deixar o computador "trabalhar" na madruga, para que, com dias
de atraso, possamos assistir a ação da mais prestigiosa liga de
hóquei do planeta. Mulheres? Mandou uma por inteiro, mas a "festa"
durou menos do que a animação dos torcedores do Pittsburgh Penguins
com a atual temporada, e hoje me sinto mais só do que Alexander
Ovechkin no ataque do Washington Capitals. Já com a cerveja ele
não contribui em nada, já que eu trabalho oito horas por dia para
manter esse saudável hábito — se bem que devo subtrair as
três horas que gasto na internet com as comunidades de hóquei
do Orkut, grupos de hóquei e matérias para a TheSlot.com.br. Além
das duas horas de reflexão diária sobre o aquecimento global,
acaba dando umas três horas de trabalho diário, o que já muito
desgastante.
Mas tudo e todos merecem uma segunda chance, então mostro aqui
toda minha generosidade para com esse pseudo-ícone natalino. Só
que, como ele falhou miseravelmente na última vez, a lista de
pedidos subiu para dez. E, mostrando mais uma vez que sofro de
hoqueinite crônica, todos esses desejos têm a ver com hóquei.
Talvez um deles também esteja na lista de nossos nobres leitores:
Pedido 1: Como primeiro pedido, pensei em pedir a paz no Oriente
Médio, mas, pensando bem, isso pode esperar já que as condições
físicas de Manny Legace são mais importantes. Osgood não é confiável
sequer para o Grand Rapids Griffins da AHL e o novato Jimmy Howard
ainda não tem tarimba para ocupar uma posição tão exigente, ainda
mais quando os playoffs chegarem. Esse pedido é de grau de dificuldade
relativamente baixo. Noel não estará fazendo nada mais que sua
obrigação protegendo o goleiro nº. 1 do Detroit Red Wings, principalmente
na pós-temporada.
Pedido 2: Queremos o verdadeiro Sergei Gonchar de volta.
O Pittsburgh Penguins precisa dele, a seleção da Rússia precisa
dele, mas o que temos visto na linha azul da equipe da Pensilvânia
é um impostor. Parece que clonaram o Aki Berg, e colocaram as
feições e o físico de Gonchar. Alguns torcedores dos Pens afirmam
que ele vem atuando tão mal, tão displicentemente, que eles estão
começando a sentir a falta de Ian Moran!! Talvez "Gonch" esteja
apenas gastando um pouco de seus milhões acumulados em anos na
NHL em alguma casa de massagens próximo a sua Chelyabinsk natal.
Como a TheSlot.com.br é muito lida, de Moscou à Vladivostok, fica
o apelo: volte Gonchar, precisamos de você em Turim! Como quem
sabe não esquece, esse é outro pedido de fácil realização.
Pedido 3: O jogo está rápido, menos agarrões..., mas pode
melhorar.
O nosso companheiro Marcelo Constantino mandou muito bem —
como de costume — em sua coluna na histórica edição n.º
100, citando os trancos como um dos motivos do porque o hóquei
é um esporte magnífico. Palmas para um dos mais respeitados da
alta cúpula da TheSlot.com.br. Mas, além de trancos, as brigas
também são um dos aspectos apaixonantes desse esporte único. Porém,
a briga na NHL é uma espécie em extinção. É inadmissível que em
pleno século 21, com a violência explodindo em vários lugares
do mundo ao mesmo tempo, partidas entre Toronto Maple Leafs e
Montreal Canadiens terminem sem sequer um combate farofa entre
Darcy Tucker ou Tie Domi contra Sheldon Souray ou Mike Komisarek,
por exemplo. Reconheço que esse pedido é de alto grau de dificuldade,
já que Noel deverá brigar contra suas próprias raízes pacifistas
para garantir sangue para os fãs da NHL.
Pedido 4: Bob "the bad one" Probert no HHOF!
Sim, você leu isso mesmo, e, não, eu não estou alcoolizado nesse
momento — bem, não a ponto de escrever uma besteira major.
Já que estamos falando de brigas, nada melhor que falar no inconseqüente
Bob Probert. Poucos na história da NHL souberam honrar a camisa
que vestia como esse capanga de elite. Um homem que chegou a atingir
a marca de 398 minutos de penalidades em uma única temporada (1987-88)
e encerrou a carreira com 3.300 (o quinto mais penalizado até
novembro de 2005). Se não me engano — e isso acontece com
bastante freqüência — são necessárias três temporadas depois
de aposentado para estar apto a uma indicação. Probert aposentou-se
em 2002. Então que 2006 marque o ano da indicação do "The bad
one", que já duelou com gente do naipe de Stu Grimson e Dave Semenko.
Bob Probert, um mito, uma lenda, fique sabendo que desde aqui,
interior do estado do Rio de Janeiro, você é um dos grandes. Como
Bob já esteve envolvido com drogas — não me refiro ao período
em que jogou pelo Chicago Blackhawks —, o bom velhinho pode
não ter muita boa vontade de atender esse pedido.
Pedido 5: Poluição visual made in Vancouver, nunca
mais.
Em um ato nostálgico eles ressuscitaram um monstro, o primeiro
uniforme "dark" da franquia, um símbolo de como nem tudo nos anos
70 era brega, existiam coisas bizarras também. Apesar de horrenda,
ela perde em feiúra se comparada à camisa do mesmíssimo Vancouver
Canucks do final dos anos 70 e início dos 80: a gemada, com um
'V" que ia do pescoço até o estômago. É até hoje um dos mais horrendos
uniformes de todos os tempos, de todos os esportes, incluindo
aí, turfe e pólo aquático. Aliás, cabe aqui uma correção: foi
com essa camisa, mais feia que Mike Ricci, que os Canucks chegaram
a sua primeira final de Copa Stanley, em 1982. Portanto os vancouverites
já perderam duas Copas Stanley, e não apenas uma, como esse inepto
aqui escreveu no perfil do Pavel Bure, na edição n.º 100 da TheSlot.com.br.
Correção feita. Quanto ao pedido, totalmente aceitável, já que
até mesmo a própria torcida deve sentir náuseas dessa coisa horripilante.
Pedido 6: CCM Vector 120 One-Piece Composite para uma lenda
do "garagem hóquei".
Ah, Tsunami, um raro fenômeno, então qual a chance de acontecer
novamente? Portanto vou gastar esse pedido com algo realmente
importante para o mundo. Preciso de dois tacos novos, de preferência
dois CCM Vector 120 One-Piece Composite, tendo o Easton Synergy
SL Grip, como segunda opção. Para quem não sabe, sou praticante
de "garagem hóquei". E sou um dos maiores artilheiros do planeta
"garagem hóquei" aqui do meu bairro — Horto Florestal. Se
você, assim como eu, mal consegue ficar em pé em cima de um patim,
essa é a alternativa. O garagem hóquei consiste em apenas um jogador,
um gol, um disco, uma garagem vazia, um goleiro imóvel e, é claro,
muito talento e sede de gols. Como goleiro imóvel, utilizo um
triângulo desses de trânsito, o que sempre facilitou os gols de
wraparound. Covardia com o "goleiro"? Dane-se ele, quem
manda tentar privar o jogador de sua maior alegria, que é marcar
gols?! Por falar em gols, se eu contabilizasse os meus até a última
segunda-feira como sendo um jogador da NHL, eu estaria situado
em 23º geral em gols marcados, com 545 unidades, entre Michel
Goulet e Maurice Richard!! Só que meu taco Easton street já está
pedindo aposentadoria. Santa Claus pode perfeitamente realizar
esse pedido, já que na Finlândia são vendidos equipamentos das
melhores marcas, como Bauer, Nike, Itech, CCM, Jofa, Koho, Eagle
e Easton.
Pedido 7: Algo para o senhor Radek Bonk.
Falem o que quiserem desse central tcheco, mas ele consegue o
inacreditável: continuar vivendo, e, mais incrível ainda, jogar
na mais vitoriosa franquia da história da liga, mesmo apresentando
total falta de sangue no organismo. Bonk honra a expressão "sem
sangue". O que o Natal poderia fazer de bom por essa eterna promessa?
Uma transfusão. E o ideal seria o sangue de um jogador de raça
e entrega. O primeiro que me vem a cabeça é Rod Brind'Amour, dos
Hurricanes. Pedido complicado, mas se o Papai Noel faz renas voarem,
porque não faria de Bonk um jogador de raça... pensando bem, é
bem mais fácil fazer rena voar. Esse pedido, reconheço, é quase
impossível de ser realizado.
Pedido 8: Who let the dogs out? Quer que eu responda?
Desculpe se o leitor gosta de outro estilo musical que não seja
o rock, mas se tem um estilo que combine com o jogo mais rápido
do mundo, esse estilo é o rock. Por isso me decepcionei quando,
escutando um jogo entre Minnesota Wild e Detroit Red Wings no
Xcel Energy Center, ouvi que os pseudo-DJs das arenas também já
haviam sucumbido a febre do hip-hop. NHL é Seek & Destroy, do
Metallica, Go, do Pearl Jam, e principalmente clássicos(?) como
Hava Nagila no órgão. Deixem o hip-hop para o campeonato de boxe
amador de Wisconsin. Hip-hop combina tanto com hóquei quanto tocar
Bezerra da Silva em um funeral. Esse pedido pode ser fútil, mas
serve para ver se o papai Noel está mesmo comprometido com minha
lista. E nada de Jingle Bells.
Pedido 9: Poder de escolha para o povo.
A futilidade ainda não acabou... Cem edições e ainda não criamos
um troféu por conta própria? Vergonha senhores, vergonha. A TheSlot.com.br
— quando digo TheSlot.com.br incluo aí a parte mais valiosa
do processo, os leitores — deveria ter sua própria votação
de prêmio de melhores da temporada. O povo brasileiro também pode
escolher quem é o melhor jogador da temporada, o melhor calouro,
o goleiro mais fanfarrão. Mas não é só isso, que Maurice Richard
ilumine as mentes que farão a escolha dos nomes dos prêmios, e
que eles — os editores — resolvam homenagear nossas
companheiras, que dividem nosso entusiasmo desenfreado pelo jogo
de hóquei. Estou falando, é claro, da mais nutritiva e abençoada
bebida de todas, a cerveja. Nenhuma bebida combina tanto com o
jogo de hóquei do que essa. Já imaginou, Skol most valuable player,
Itaipava's Plus-Minus Award, Bohemia Weiss Player of the weekend…?
É um pedido mais do que razoável.
Pedido 10: NHL Center Ice.
Basta atender a esse, que eu esqueço os outros. Quarenta jogos
por semana? Eu renuncio à vida(?) pública.
Então é isso, está lançado o desafio. Se Joulupukki existe, ele
não vai perder essa chance de provar sua existência.
PS.: Joulupukki quer dizer Papai Noel em finlandês.
Eduardo Costa pede
desculpas pela coluna cretina, mas depois de ter feito o ranking
dos 100 da era ESPN/NHL no Brasil, ele não estava muito inspirado.
Ah, para todos os amigos colaboradores, leitores e patrocinadores
(alguém? Precisamos de um!) desejo um Natal de paz e muita saúde.