Na segunda-feira a Federação Americana de Hóquei no Gelo anunciou oficialmente o elenco da seleção que disputará em Turim, na Itália, os Jogos Olímpicos de Inverno, buscando a medalha de ouro que os Estados Unidos não vencem desde 1980.

Os EUA foram os primeiros a anunciar os convocados, sendo que os demais países até o fechamento desta edição não haviam se pronunciado.

Dos 23 selecionados, 12 nunca disputaram as Olimpíadas. Os outros 11, pelo contrário, são figurinhas repetidas em outras edições do torneio.

"Nós não apenas achamos que temos muita velocidade e pegada, mas também ofensividade suficiente", declarou o gerente-geral Don Waddell. "Nossa profundidade na defesa está tão boa como sempre. E quando você disputa esses torneios curtos, um goleiro em boa fase pode liderar a um grande feito".

Veja você mesmo o elenco norte-americano.

Goleiros:
Rick DiPietro, Robert Esche e John Grahame.

Defensores:
Chris Chelios, Derian Hatcher, Jordan Leopold, John-Michael Liles, Aaron Miller, Brian Rafalski e Mathieu Schneider.

Atacantes:
Jason Blake, Erik Cole, Craig Conroy, Chris Drury, Brian Gionta, Scott Gomez, Bill Guerin, Mike Knuble, Mike Modano, Mark Parrish, Brian Rolston, Keith Tkachuk e Doug Weight.

As palavras de Waddell parecem ter o intuito de "defender" seus jogadores e justificar as escolhas feitas por ele e por sua comissão técnica. E mais uma vez a certeza é de que a seleção norte-americana é até um bom time, mas não se compara às demais forças do hóquei mundial, como o Canadá ou os europeus.

Repetir a medalha de prata de Salt Lake City em 2002 já será um grande mérito para esta equipe, mas dificilmente os americanos ficarão entre os três melhores. Os problemas da equipe são muitos e estão em todas as posições.

Não há um grande goleiro e nenhum dos três convocados já disputou a competição. E mais: DiPietro, o provável titular, é o mais jovem do elenco, com apenas 24 anos, e não faz boa temporada no New York Islanders. Esche sofreu com contusões mas ainda é o número um do Philadelphia Flyers. Grahame há pouco tornou-se titular do Tampa Bay Lightning após a saída de Nikolai Khabibulin, sendo a terceira opção na seleção.

Na defesa, quem mais surpreende é Liles, pela forma ofensiva como vem atuando no Colorado Avalanche. Hatcher é grande e forte, mas muito lento no gelo, sendo que ainda está engrenando com os Flyers. Miller é parecido. Schneider é o melhor deles, ataca e defende como poucos e faz uma temporada sensacional no Detroit Red Wings. Rafalski conduz bem o disco, mas dificilmente não fracassa junto do New Jersey Devils na temporada. Leopold é o sétimo homem. Chelios merece um capítulo à parte.

Chelios chegará a Turim com 44 anos de idade, provavelmente como capitão da seleção norte-americana e titular da defesa, talvez relegado a especialista em matar penalidades. Será sua quarta participação em Olimpíadas — as outras foram em 1984, 1998 e 2002 — e sua convocação causou um misto de surpresa e espanto.

"Um defensor que é apenas dois anos mais novo do que eu?", disse Waddell. "Não, eu não imaginava isso quando começamos todo o processo".

No ataque os mesmos nomes de sempre e a esperança está na reunião de Modano, Guerin e Weight. Os três terão 35 anos durante a competição, longe do auge de suas carreiras não apenas pela idade, mas pelo que estão demonstrando no gelo nesta temporada, exceto por Modano, que tem sido destaque no Dallas Stars. No segundo escalão do ataque estão Gionta, artilheiro dos Devils, Conroy, em excelente fase no Los Angeles Kings, e Knuble, que tem sua vida facilitada por jogar ao lado de Peter Forsberg nos Flyers. As incógnitas são Tkachuk, o cara-pálida que chegou aos Blues fora de forma para iniciar a pré-temporada e recentemente fraturou a mão direita, e Drury, que somente agora na arrancada sensacional do Buffalo Sabres começou a pontuar mais freqüentemente. O resto é o resto.

Será a terceira vez que a NHL permite uma paralisação na temporada regular para a disputa das Olimpíadas de Inverno. Em 1998, os americanos fracassaram, não venceram sequer um jogo e ainda promoveram um quebra-quebra no hotel onde estavam hospedados em Nagano, no Japão. Em 2002 ficaram com a prata, perdendo para o Canadá.

Se não houve tanta reformulação no elenco como a gerência da equipe treinada por Peter Laviolette anuncia, pelo menos velhos nomes começaram a ser cortados. A mais notada ausência será a do defensor Brian Leetch, que perdeu jogos no começo da temporada devido a uma contusão no joelho. A não-convocação dos atacantes John LeClair e Jeremy Roenick já era esperada.

Prato cheio para o "showman" Roenick, que não perdeu a chance de fazer mais uma de suas declarações polêmicas e tornou público que, segundo ele, a federação americana o boicota desde setembro.

"Eu não conheço ninguém no time que tenha mais pontos na National Hockey League que eu. Mas se eles querem ir dessa forma, boa sorte", declarou o jogador, que em 1.156 jogos em sua carreira marcou 1.133 pontos. "Eu sou um jogador muito melhor do que os meus pontos [na atual temporada] indicam. Eu sou um dos caras que levou os EUA a serem o que são hoje", atirou.

Waddell explicou como o time foi formado. "Nós fizemos um sistema de pontuação o ano todo e estes caras mereceram estar aqui. Dissemos o tempo todo que não iríamos formar o time com base na história dos jogadores... mas em como eles estão jogando atualmente", declarou.

As explicações do gerente-geral são sensatas, mas dizem que houve muita pressão por parte da federação na escolha de certos nomes — e também na exclusão de outros, como Roenick.

Enquanto o Canadá decide quem será o último convocado entre os ótimos garotos Jason Spezza, Sidney Crosby e Eric Staal, os EUA não contam com suas últimas revelações — Ryan Suter, Dustin Brown, Zach Parise e Ryan Kesler ficaram para 2010.

Meros coadjuvantes, os Estados Unidos terão de fazer outro milagre no gelo para conquistar o ouro.

Na próxima edição: comentários sobre os elencos das principais nações que disputarão as Olimpíadas.

Humberto Fernandes é estudante de Administração e a Universidade em que estuda está sem aulas há quase quatro meses.