Terça-feira da semana passada não foi um bom dia para o hóquei. Aquela terça-feira deveria ter sido de Scott Gomez ou Maxim Afinogenov ou Jon Sim (ver abaixo). Ao invés disso, ela foi tomada por algo completamente dife-rente.
A NHL, colhendo os frutos de um retorno muito melhor do que poderia esperar depois do locaute que cancelou a temporada passada inteira, acabou como destaque no SportsCenter naquela noite. E, como tem sido mais co-mum do que deveria, ela ganhou esse destaque pelo motivo errado. Aliás, errado aqui é um belo de um eufemismo.
Desta vez, não foi sobre violência acima do limite ou uma disputa tra-balhista recheada de golpes baixos. Não, desta vez foi graças a um assunto que faz qualquer um envolvido com um esporte profissional pular da cadeira.
Era sobre apostas, o famoso gambling americano.
Nas próximas semanas, saberemos mais sobre as acusações levantadas contra Rick Tocchet, assistente técnico dos Coyotes (e de Wayne Gretzky) e ex-jogador da NHL, por promotores do estado de Nova Jersey. Essas acusações — que incluem promoção de apostas, lava-gem de dinheiro e conspiração — são muito sérias. Se Tocchet for julgado e condenado por tais acusações, isso pode significar para ele mais tempo na cadeia do que ele passou em bancos de penalidades. E olha que ele passou um bom tempo nestes.
Nesta quarta-feira, Tocchet iria a Nova York encontrar-se com o comissário da NHL, Gary Bettman, que provavelmente não estará de bom humor. Depois de todas as histórias estranhas que teve de enca-rar até agora em seu mandato como comissário, Bettman deve estar se perguntando o que mais pode acontecer.
Após seu encontro com Bettman, Tocchet (de acordo com vários veículos americanos) irá cruzar o rio Hudson, chegando a Nova Jersey para responder à intimação judicial emitida pelo estado. Promotores de lá dizem que Tocchet provavelmente terá de pagar fiança e encarará um depoimento entre sete e dez dias depois.
O tempo dirá como será o desdobramento desta história. Eu não me arrisco a especular numa história tão bizarra, mas ao menos uma coisa é certa: terça-feira passada não foi um bom dia para o hóquei.
No gelo
Tente achar por aí o gol que Jon Sim marcou contra os Caps na noite de terça-feira passada. Foi um belo de um golaço. (Em um jogo dos Capitals, você normalmente esperaria um golaço de Alexander Ovechkin, não de Jon Sim.)
Sim chutou contra o goleiro do Caps, Olaf Kolzig, que fez uma defesa e viu o disco quicar para a direita. Sim, que acabou indo parar atrás do gol depois do chute, viu o disco sem dono. Rapidamente, ele foi na di-reção do mesmo, mergulhando de trás do gol. Ainda no ar, fez um swing à beisebol. Ele acertou o disco, mandando-o por cima de Kolzig e para o fundo das redes.
Ele terminou a partida com um hat trick na vitória de seus Panthers por 5-0, na quinta vitória seguida do time da Flórida contra os Ovechkins. A noite só não foi toda de Sim por causa de... bem, o motivo está nos primeiros parágrafos desta matéria.
Em Nova Jersey, os Devils golearam o Lightning por 7-4. Scott Gomez contribuiu com quatro pontos, enquanto seu colega de linha Patrik Elias anotou três. Ora, até o defensor defensivo Colin White teve um gol e uma assistência pelos Devils.
A apenas 2:09 do fim do jogo, o árbitro Rob Shick expulsou o técnico do Lightning, John Tortorella. O mau-humorado técnico dos Bolts esta-va demonstrando em alto e bom som seu descontentamento com uma penalidade por boarding contra o ponta novato Evgeny Artyukhin. Na jogada em questão, Artyukhin deu um forte tranco de ombro em Elias, que estava com o domínio do disco. É possível que Artyukhin tenha recebido a penalidade simplesmente por ser tão grande. O russo (que chega a lembrar King Kong sobre patins) é listado como tendo 1,95 m e 115 kg.
Tortorella, que foi diplomático e pediu mil desculpas na entrevista cole-tiva após o jogo, acredita nisso. Ele falou sobre como Artyukhin parece receber atenção especial dos juízes e que tinha de lidar com o mesmo problema na AHL. Nesse caso, ele achou que deveria proteger seu jo-gador.
Artyukhin não parece ser um jogador sujo. Ele é só um sujeito grande que patina bem e adora finalizar seus trancos. Não deveria haver nada errado com isso.
Os jornalistas que cobrem o time — Erik Erlendsson, do jornal Tampa Tribune, e Damian Cristodero, do St. Petersburg Times — dizem que ainda falta a Artyukhin algumas noções de finalização na arte do tran-co. Tortorella concorda. Bem, se Artyukhin um dia conseguir aprender essa parte do jogo, pode vir a se tornar uma força na liga.
A modificada tabela da temporada regular da NHL faz com que todos os times joguem com cada rival de divisão por oito vezes. Até 2003-04, eram apenas seis vezes. A alteração, feita com a intenção de fomentar rivalidades, ajudou as potências da Divisão Central, Red Wings e Predators a acumular duas das quatro melhores campanhas no Oeste, ao se aproveitarem de Blackhawks, Blue Jackets e Blues, de longe os três piores times da conferência (o Detroit tinha 14-1 contra esses times até sexta-feira; o Nashville, 12-2).
Bem diferente é a situação da Divisão Noroeste, onde cinco pontos separavam na quinta-feira o líder Calgary do quarto colocado Colorado. Mesmo o lanterna Minnesota tinha respeitáveis 28-24-4. Alex Tanguay, do Avalanche, opina: "Sabíamos antes de a tempora-da começar que a nossa divisão seria muito mais disputada que o resto da conferência."
O fato de que a tabela prevê apenas dez jogos interconferências (cada time do Oeste joga em casa contra uma divisão do Leste e fora contra outra, não jogando contra a terceira) tem feito muitas pessoas ligadas ao esporte reclamar de que times que atrairiam um maior público, como os Flyers e os Rangers, assim como jovens estrelas como Sidney Crosby, dos Penguins, e Alexander Ovechkin, dos Capitals, vão visitar cada cidade do Oeste apenas uma vez a cada três anos.
Tirando isso, a nova tabela parece ter agradado. "Quando você joga mais jogos dentro da divisão, você consegue ver melhor a cara do seu time", fala Ken Hitchcock, técnico dos Fleyers. "Os jogos são mais intensos e emocionais."
Os jogadores comemoram as viagens mais curtas
— assim como os departamentos financeiros; o Vancouver, por exemplo, deve gastar 25% a menos com viagens do que em 2003-04 —, e mesmo aqueles sofrendo no Noroeste estão otimistas que seu esforço pode render alguns benefícios mais para a frente. "Ter tantos times bons na nossa divisão nos mantém mais afiados mentalmente", fala o ponta Ian Laperriere, do Avalanche. "Isso nos mantém em clima de play-offs a temporada inteira. Todos os jogos são importantes."
(A.G.)
Alexandre Giesbrecht, 29 anos, vai entrar na igreja para seu casamento, no mês que vem, ao som de Alice In Chains.
FUTURO SOMBRIO Tocchet, na foto atrás dos jogadores, pode ter de pagar fiança para poder voltar a Phoenix (Deirdre Hamill/Arizona Republic - 20/12/2005)