Por: Thiago Leal

Geralmente, no sistema de ligas americanas, onde as franquias recrutam jogadores, tende-se valorizar aqueles que são escolhidos primeiro. A escolha número 1 costuma ser a mais badalada da temporada. Às vezes temos um Mario Lemieux que vira um gênio no esporte; às vezes temos um Vincent Lecavalier, que pode não se comparar ao primeiro aqui citado, mas sem dúvida trata-se de um jogador talentosíssimo; e às vezes temos fracassos como Alexandre Daigle e Eric Lindros — quem lê TheSlot.com.br está cansado de ouvir sobre os dois.

Curiosamente, às vezes o buraco é mais embaixo (quase que literalmente). Se descermos um pouco na lista dos recrutamentos de cada ano, vemos que foi bem distante da primeira rodada de escolhas, surgiram grandes nomes da NHL. Aliás, chego a exagerar, e digo que certos jogadores não bem-recrutados são fundamentais para a história moderna do esporte.

Listando os bons e bem-sucedidos jogadores ainda em atividade que não apareceram nos jornais e noticiários na noite do recruramento, tendo como critério para determinar "mal-recrutado" sendo da segunda rodada de escolhas em diante, encontrei 40 nomes consideráveis. Eu não podia colocar todos aqui, uma vez que a coluna ficaria imensa e cheia de números e estatísticas. Então, selecionei dos 40 os que foram mais importantes para a liga nos últimos anos.

Daniel Alfredsson - PD - 133.ª escolha geral - 1994
Não dá para imaginar o Ottawa Senators sem Daniel Alfredsson. Em 1994 a franquia da capital nacional canadense teve a 3ª escolha geral, onde optou por Radek Bonk. 130 postos depois, os Senators escolheram o jovem atacante do Frölunda HC da Suécia. Um verdadeiro achado! Alfredsson estreou apenas um ano depois, na temporada 1995-96. De cara, ganhou o troféu Calder Memorial. Em 1999-00, após a recisão contratual de Alexei Yashin, Alfie assumiu o cargo de capitão dos Senators - sua liderança, aliada a sua habilidade e capacidade de marcar gols, já vinha sindo elogiada em Ottawa. Permaneceu capitão após a volta de Yashin, na temporada 2000-01, e assim o é até hoje. Entre seus feitos, estão ser o jogador que mais marcou pontos, gols e assistências pelo clube, assim como o que mais atuou por ele; é o único jogador que atuou em todos os jogos de pós-temporada da história da franquia; e o primeiro capitão europeu a levar um time à final da Copa Stanley. Tudo isso faz parte de suas temporadas memoráveis pelo clube. Claro pelo texto, Alfredsson continua em Ottawa. Tudo isso pela 133.ª escolha geral. É, de fato, um achado!

Chris Chelios - D - 40.ª escolha geral - 1981
Num recrutamento que, puxado por Dale Hawerchuk, trouxe para a NHL nomes como Ron Francis (4.ª escolha geral), Grant Fuhr (8.ª) e Al MacInnis (15.ª), o Montreal Canadiens, que já havia pego Mark Hunter (7.ª), escolheu Chris Chelios no final da segunda rodada. O defensor só estreou na NHL três anos depois, na temporada 1984-85, pelos Canadiens, onde ficou até a temporada 1989-90. Em 1990-91 mudou-se para Chicago, onde, junto com os Blackhawks, venceu o Troféu dos Presidentes em 1991 e disputou a Copa Stanley em 1992. Permaneceu com os Hawks até a temporada 1998-99, já com 37 anos de idade, no que parecia ser seu fim de carreira, quando foi envolvido numa transação com o Detroit Red Wings. Com a franquia vermelha, venceu finalmente uma Copa Stanley, em 2002. Quem viu Chelios mudar-se para Detroit em 99 e conquistar a Copa Stanley em 2002, dificilmente acreditaria que ele estaria aqui hoje em dia, no alto de seus 45 anos. Desde 2005 que Chelios vem renovando com os Wings por um ano. Em 2006, capitaneou a Seleção dos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Inverno de Turim. Ah, claro... vale salientar: o jogador em atividade que mais atuou pela NHL é também o recordista de penalidades. Ao fim de 2006-07 eram 2837 minutos no banco! Curiosidade: Chelios tem um bar/restaurante em Detroit: Cheli's Chili Bar.

Patrik Elias - PE - 51.ª escolha geral - 1994
Mais um bom jogador recrutado em 1994 - sendo este pelo New Jersey Devils. O tcheco Elias fez história na franquia que defende até hoje ao lado do compatriota Petr Sykora e Jason Arnott, formando uma forte linha vital para a conquista da Copa Stanley em 2000. Três anos mais tarde, Elias novamente foi fundamental para a conquista da Copa, e se firmou como um dos grandes nomes da história da franquia junto com Scott Stevens e o goleiro Martin Brodeur. Ao longo de sua carreira, tornou-se o líder em pontos, gols e assistência em pós-temporada na história dos Devils; e o jogador a marcar mais pontos numa mesma temporada (96 em 2000-01). Recentemente, contraiu Hepatite A, quando jogava pelo Metallurg Magnitogorsk (Rússia) durante o locaute, o que o fez perder parte da temporada da NHL 2005-06. Segue em New Jersey como assistente de capitão dos Devils.

Mathieu Schneider - D - 44.ª escolha geral - 1987
Este veterano defensor estadunidense abriu a terceira rodada do recrutamento de 1987, que viu sair em primeiro Pierre Turgeon, escolhido pelo Buffalo Sabres. O Montreal Canadiens, antes de Schneider, recrutou Andrew Cassels (17.ª), John Leclair (33.ª) e Eric Desjardins (38.ª). Ao lado deste último, Schneider foi importante na conquista da última Copa Stanley ganha por uma equipe canadense, pelos Canadiens em 1993. Permaneceu por mais duas temporadas com os Habs, e começou a intinerar pela Liga: New York Islanders, Toronto Maple Leafs, New York Rangers, Los Angeles Kings e Detroit Red Wings - depois dos Canadiens, único time que defendeu por mais de três temporadas. Ou seja, em toda sua carreira, Schneider acabou servindo mais como uma grande medalha de troca por qualquer time por onde passou. Atualmente defende o Anaheim Ducks. Curiosidade: É o jogador judeu com o maior número de gols na NHL.

Fredrik Modin - PE - 64.ª escolha geral - 1994
Detentor da "Tríplice Coroa no Hóquei no Gelo", seleto clube que inclui apenas 19 jogadores que já venceram um Campeonato Mundial, um Ouro Olímpico e a Copa Stanley, Modin foi recrutado um pouco antes de seu compatriota Alfredsson em 1994 pelos Leafs, que naquele recrutamento já haviam escolhido Eric Fichaud (16.ª) e Sean Haggerty (48.ª). Em 1999, foi mandado para Tampa, onde foi imprescindível para a conquista da Copa Stanley em 2004: formou a linha principal do time com Vincent Lecavalier e Martin St. Louis, o que, por si só, é difícil, no ponto que o sueco poderia se tornar mera sombra dos dois ídolos da equipe. Mas a importância de Modin foi além de estar junto dos dois canadenses, e seus 19 pontos nas 23 partidas da pós-temporada definitivamente foi um dos fatores que contribuiu diretamente com a conquista da Copa. Atualmente defende o Columbus Blue Jackets.

Chris Drury - C - 72.ª escolha geral - 1994
Drury foi o arremessador vencedor e MVP da Série Mundial da Little League Baseball (principal competição juvenil de beisebol nos EUA) pelo time de Trumbull. Ou seja... tivesse seguido no montinho do arremessador, certamente Drury teria sido também um excelente jogador. Felizmente, optou pelo hóquei no gelo. Drury foi recrutado em 1994 pelo ainda Quebec Nordieques, ano em que atuava pelo tradicional time da Universidade de Boston - onde é recordista em número de gols na história da instituição. Nunca chegou a defender a franquia em Quebec. Quando estreou, em 1998, o time já estava em Denver jogando como Colorado Avalanche. Suas boas temporadas nos Avs ajudaram o clube a conquistar a Copa Stanley em 2001. Defendeu o clube por mais uma temporada, antes de ser trocado pelo Calgary Flames, jogando apenas mais uma temporada. Seguiu para Buffalo onde jogou em 2003-04, 2005-06 e 2006-07. Atualmente defende o New York Rangers, realizando seu sonho de infância. Seu número, 23, é uma homenagem a Don Mattingly, ex-primeira base do New York Yankees.

Mark Recchi - PD - 67.ª escolha geral - 1988
Até ser escolhido pelo Pittsburgh Penguins, Recchi viu Mike Modano (primeira escolha geral), Trevor Linden (segunda), Martin Gelinas (sétima) Rod Brind'Amour (nona) e Teemu Selanne (décima) saírem em sua frente. Mas, certamente, foi o primeiro deles a conquistar a Copa Stanley: fez parte do time vencedor dos Pens em 1991, assinalando 113 pontos na temporada regular e 34 na pós-temporada. É uma pena que, mesmo com números tão bons, não tenha ficado para o bi-campeonato, uma vez que os Pens negociaram Recchi com o Philadelphia Flyers durante a temporada 1992-93. Na temporada seguinte marcou 123 pontos, o recorde de um jogador pelos Flyers em temporada regular. Fez boa temporada em 1993-94 também, marcando 107 pontos. Na temporada seguinte foi trocado com o Montreal Canadiens, onde jogou por mais cinco temporadas até voltar aos Flyers. Retornou ao clube que o recrutou em 2005-06, sendo trocado com o Carolina Hurricanes na metade da temporada - abrindo mão de uma cláusula em seu contrato que o impedia de ser negociado. A transação foi de grande valor para Recchi, que acabou vencendo a Copa Stanley 15 anos depois. Atualmente defende, mais uma vez, o Pittsburgh Penguins.

Para a alegria dos Wings...
Três dos jogadores mais importantes do Detroit Red Wings nas décadas de 1990/2000 passaram despercebidos durante o recrutamento. São eles:

Nicklas Lidstrom - D - 53.ª escolha geral - 1989
Mats Sundin fora a primeira escolha geral de 1989, num recrutamento que ainda teve como destaque da rodada de abertura Bill Guerin (5.ª) e Olaf Kolzig (19.ª). Os Wings recrutaram na primeira rodada Mike Sillinger. Isso enquanto um nome que viria a ser idolatrado no clube esperou até a terceira rodada: o sueco Nicklas Lidstrom. À época jogador do Västerås IK da Suécia, Lidstrom permaneceu em casa por mais dois anos, até que veio a estrear na NHL na temporada 1991-92. Desde então só vestiu a camisa de outro clube em 1994, durante o período de locaute, onde voltou a defender seu antigo Västerås IK. É estranho, para não dizer impossível, imaginar os Wings sem esse senhor em campo: sólido e resistente, Lidstrom dificilmente se machuca e, à altura dos seus 37 anos, ainda joga temporadas completas com o vigor de um menino de 21 anos. Lidas, como é conhecido em sua terra natal, ganhou com os Wings as Copas Stanley de 1997, 1998 e 2002, sendo eleito MVP nesta última, e recentemente confirmou o status de ídolo da Seleção Sueca ao ser um importante nome na conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Inverno Turim 2006. Ainda está com o Detroit, onde, atualmente, é capitão da equipe.

Sergei Fedorov - C - 74.ª escolha geral - 1989
Se Lidstrom só saiu na terceira rodada, o russo Sergei Fedorov, vindo da excelente escola soviética do CSKA Moscou onde atuava ao lado de Pavel Bure e Alexander Mogilny, teve de esperar até a quarta para ser puxado pelos Wings. Após o recrutamento, Fedorov ainda atuou uma temporada pelo CSKA até aterrissar definitivamente na NHL. Em sua primeira temporada com os Wings marcou 79 pontos em 77 jogos pela temporada regular. Bom, já dava pra acreditar... ali existia um grande jogador. Fogo de palha? Fedorov confirmou seu talento com a regularidade que mostrava a cada temporada, sempre com um rendimento excelente no rinque, superando a média de um ponto por partida - chegando ao auge em 1994, com 120 pontos na temporada regular e o troféu Hart Memorial na prateleira de casa. Daí em diante Fedex entararia para a história dos Wings, não só como membro do Russian Five ao lado de Igor Larionov, Vyacheslav Kozlov, Vladimir Konstantinov e Vyacheslav Fetisov, mas também por ser o quarto maior pontuador da história da franquia. Venceu as Copas Stanley de 1997, 1998 e 2002, todas pelos Wings. Atualmente defende o Columbus Blue Jackets. Em tempo: seu amigão Pavel Bure foi recrutado no mesmo ano, na 113.ª escolha geral, pelo Vancouver Canucks.

Darren McCarty - PD - 46.ª escolha geral - 1992
O homem-símbolo da conquista da Copa Stanley em 1997 só foi recrutado pelo Detroit Red Wings no final da segunda rodada, em 1992. Os Wings escolheram Curtis Bowen na primeira rodada, sendo a 22.ª escolha geral. O número 1 do recrutamento foi o tchecoslovaco Roman Hamrlik, puxado pelo Tampa Bay Lightning, então estreante na Liga. Independentemente da posição insatisfatória no recrutamento, McCarty marcou época na NHL. Mais que o Campeonato de 1997, repetido em 1998 e em 2002, o asa-direito figura lugar de destaque no coração de qualquer torcedor da franquia, principalmente, por suas memoráveis performances contra o Colorado Avalanche. Em 1997, partiu para cima de Claude Lemieux afim de dar o troco por uma entrada covarde do jogador no seu companheiro Kris Draper - dando origem a uma briga memorável na Joe Louis Arena e uma vitória inesquecível por 6-5 na prorrogação, com o gol vencedor marcado pelo próprio McCarty. A noite ficou conhecida como Fight Night at the Joe, Brawl in Hockeytown, Bloody Wednesday ou simplesmente Bloodbath. Na final da Conferência Oeste de 2002, McCarty estava diante do Avalanche novamente para atormentá-lo: com um hat trick no Jogo 1 da série e quatro gols no total, McCarty foi fundamental para o triunfo dos Wings em sete jogos contra os ainda quentes rivais. McCarty deixou os Wings após o locaute de 2004-05 e atualmente defende o Calgary Flames. Curiosidade: McCarty tem uma banda de rock em Calgary, chamada Grinder.

Na próxima edição: Nomes mais recentes como Pavel Datsyuk, Brad Richards, Maxim Afinogenov, Michael Ryder e François Beauchemin. Ainda: Os melhores goleiros com o pior posicionamento possível nos recrutamentos da NHL.

Thiago Leal acaba de receber sua edição especial limitada do álbum Vol. 3: (The Subliminal Verses), da banda estadunidense Slipknot, e considera "Vermilion Pt. 2" uma das músicas mais bonitas de todos os tempos.
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Nem Kovalchuk é páreo para Modin: da 64ª escolha para a 1ª linha do Lightning campeão.
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Darren McCarty, apenas a escolha geral de número 46. Alguém em Detroit lembra deste rapaz?
Phillip MacCallum/Getty Images
Daniel Alfredsson atuando pelo Ottawa Senators. Escolha número 133, rodada número 6, ídolo número 1.
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Mark Recchi, versão Penguins - Duas Copas Stanley conquistadas num intervalo de "apenas" 15 anos.
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Página publicada em 10 de outubro de 2007.