Por: Marcelo Constantino

O placar mostrava 3-1 para os Red Wings. Eram dois gols de diferença, faltavam cada vez menos minutos para o fim. Novamente os Penguins pareciam finalizados, tal qual no jogo 5. Só que agora eram dois gols de diferença, e não apenas um.

Três minutos para o fim. Disco vai, disco vem, Copa Stanley se aproxima. Dois minutos para o fim, e aí velhos demônios insistem em reaparecer, velhos pesadelos insistem na reprise.

Penalidade contra o Detroit, novamente Jiri Hudler. A penalidade parece boba, ainda mais em fim de jogo. Mas é aquela coisa, na teoria não existe penalidade pra ser marcada durante o jogo e não perto do fim. No ano passado Pavel Datsyuk também foi penalizado por algo tido como bobo no fim de um derradeiro jogo contra o Anaheim Ducks — que levou ao gol de empate e, posteriormente, à derrota na prorrogação. Hudler fora penalizado no jogo 5 (e ali não cabe qualquer questionamento), o que resultou no fatídico gol de Petr Sykora.

Ok, vamos em frente, vantagem numérica para os Pens. Eles já marcaram um gol, mas esta equipe especial dos Wings é boa. Mal começa e... está lá, gol rápido de Sergei Gonchar. O fantasma do jogo 5 estava de volta. Faltava pouco mais de um minuto para o fim e a diferença voltava a apenas um gol.

Dali em diante foi o desespero. De um lado o desespero de tentar marcar e reviver dois dias antes. Do outro o desespero de espantar o fantasma de dois dias antes e fechar logo a série. Duelo de desesperados.

Disco vai, disco vem, Penguins sem goleiro, um minuto para o fim do jogo.

Eu me lembro de três pontos nesses longos segundos finais: 1) Não houve qualquer ameaça de gol do Detroit na rede vazia; 2) Num determinado momento, segundinhos finais, se não me engano Pavel Datsyuk faz um belo movimento na defesa que tira todo mundo da jogada e consegue aliviar o disco; e, por fim, 3) Logo a seguir, segundésimos finalíssimos, deparo-me com dois Penguins entrando mais ou menos livres no ataque, "não é possível a esta altura do jogo!", o disco vai pro gol, alguém disparou, o barulho é intenso, me esqueci de respirar, Osgood defende mas não defende, o disco escapuliu, parece passar ao lado do gol, não era pra acabar?, quanto tempo ainda falta?, vem um atacante dos Pens e... nesses milésimos de segundos toda uma vida passa pela cabeça.

Não há mais respiração, o tempo acabou?, ainda tem jogo?, onde está o disco?, o narrador berra, a torcida inflama, fantasma do jogo 5 de novo não, de novo não!, cadê o disco?, já imaginou outro empate e outra prorrogação?, não, isso não!, o disco está no cantinho do gol, Osgood parece..., peraí, o time está comemorando, os Pens estão combalidos no gelo...

O Detroit é o campeão da Copa Stanley de 2008!

Ainda levou algum tempo para cair na real, espantar em definitivo todo e qualquer fantasma ou pesadelo, e vislumbrar:

O Detroit é o campeão da Copa Stanley de 2008!

Na verdade levou mais tempo que esse parágrafo acima. Ainda estático, pego o telefone pra falar com Humberto Fernandes e só me lembro de perguntar algo como "o que foi esse último segundo, cara, o que foi esse último segundo?".

Vejo o replay. É ainda pior do que eu pensava (a definição da transmissão via sopcast impede a visão perfeita das coisas). O disco já praticamente passava do gol quando Marian Hossa bateu nele pra dentro.

O bichinho passou por todo o gol, de um lado ao outro, sem entrar. E, pra piorar, o tempo já havia se esgotado. Já imaginaram se tivesse entrado? Declarar um campeão depois de revisão de vídeo?

Ok, o Detroit é o campeão da Copa Stanley de 2008, mas o impacto do "quase", do "quase-pesadelo" revisto, demorava a ir embora.

Chris Osgood mais tarde diria: "Nós sempre temos que fazer ficar mais interessante", sobre o lance final. Faz isso não, Osgood! Isso mata corações mais sensíveis.

Enfim, o longo e interminável segundo final terminou. Terminou vários minutos depois, ali pela apresentação do Conn Smythe, mas terminou.

O Detroit é o campeão da Copa Stanley de 2008!

Marcelo Constantino torce para o Detroit Red Wings e viveu exatamente o relatado acima.

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Página publicada em 8 de junho de 2008.