Por: Marcelo Constantino

Na semana que passou, o Detroit Red Wings anunciou a realização de sua tarefa mais na temporada: a renovação de contrato com Henrik Zetterberg por assombrosos 12 anos de contrato, com média de US$ 6 milhões ao ano.

Zetterberg, escolhido o jogador mais valioso dos playoffs passados, sabe que conseguiria bem mais que os US$ 6 milhões no mercado, se decidisse ficar com o passe livre. Analistas estimam que ele conseguiria facilmente um contrato de US$ 8 milhões/ano. Mas Zetta preferiu a estabilidade de longa duração com receita garantida e a permanência em Detroit.

Uma renovação desse naipe, com toda essa duração envolve risco? Sim. Diante do cenário de crise macroeconômica atual, inclusive com expectativas ainda sombrias e que se avolumam diária e negativamente, 12 anos de contrato envolvem uma dose considerável de risco. Você não tem como afirmar que daqui a dez temporadas os salários ainda estarão subindo, ou mesmo no patamar atual. Isso é o que se espera, diante do curso normal das coisas. Mas o cenário atual é de início de um choque sobre esse curso normal. Ninguém tem como afirmar nem mesmo qual será a conseqüência sobre a NHL da atual crise. Mas, enfim, assim foi feito.

O ponto subseqüente mais importante desta renovação é a abertura de espaço para a possibilidade de realizar o que até então era considerado impossível: renovar tanto com Marian Hossa quanto com Johan Franzen.

O problema principal está, claro, na renovação de Franzen, que ainda tem um salário bem abaixo (US$ 1,15 milhões) do que pode conseguir. Ainda mais que não há consenso sobre quanto o jogador valeria no mercado. Nesses casos, geralmente surge um time oferecendo um contrato astronômico ao jogador, muito acima do que ele realmente demandaria e mereceria, inflacionando grotescamente o mercado. Exemplos disso, pré e pós locaute, não faltam.

De qualquer forma, o segredo para conseguir renovar com ambos é seguir a mesma linha da renovação de Zetta, com um cronograma anual de pagamentos de forma que sempre caibam no teto salarial da equipe, tendo, claro, pagamentos mais pesados nos anos iniciais.

Em números: com Zetterberg valendo na faixa de US$ 6 milhões/ano num contrato de longa duração, podemos dizer que Hossa valeria cerca de US$ 5-5,5 milhões/ano, enquanto Franzen estaria na faixa de US$ 4 milhões/ano. Tudo isso, repito, num cenário de contrato de longa duração, até a aposentadoria, e com ambos aceitando receber menos do que poderiam para permanecer em Detroit. É evidente que tanto Hossa quanto Franzen valem mais do que isso hoje. E é evidente que o Detroit oferecerá mais do que isso a ambos para os próximos anos. A questão é desenhar o contrato de forma que hoje seja pago um valor maior, enquanto esse valor vai diminuindo ao longo dos últimos anos de contrato. O contrato de Zetterberg, por exemplo, paga a ele "míseros" US$ 1 milhão/ano nos últimos dois anos. E, claro, paga mais de US$ 7 milhões nesses primeiros anos. Assim pode ser feito com Hossa e Franzen.

Tudo isso depende fundamentalmente da aceitação de ambos em receber menos para ficar em Detroit. Porque, no fim das contas, ambos estarão escolhendo um contrato de longa duração (estabilidade), porém ganhando menos do que poderiam ganhar caso fossem para o mercado com passe livre.

A renovação com Hossa e Franzen tem outras implicações. Jogadores como Mikael Samuelsson dificilmente teriam espaço no orçamento. Isso porque imagina-se que Samuelsson, agora bem mais famoso do que quando chegou em Detroit, preferirá testar o mercado para buscar uma boa elevação em relação aos US$ 1,2 milhões que atualmente recebe. Dificilmente ele receberá um aumento substantivo em Detroit.

Para manter Hossa e Franzen e ficar dentro do teto salarial, talvez seja necessário inclusive desfazer-se de jogadores. Quando se fala em negociar jogadores em Detroit, o primeiro nome de toda e qualquer lista é Andreas Lilja. Mas isso não é corroborado pela gerência, muito menos pela comissão técnica, já que o criticado defensor parece ter seu pequeno prestígio inabalado. Descartando uma nova temporada de Chris Chelios no gelo e imaginando que Jonathan Ericsson deve finalmente fazer sua primeira temporada cheia, talvez o espaço fique pequeno demais para Lilja. Talvez.

Mas não apenas ele. Se for realmente necessário, veteranos com sólidas raízes na franquia, como Kirk Maltby, por exemplo, podem ser forçados a encerrar a carreira (supondo, claro, que não haja mercado para ele em outro time). Até mesmo Kris Draper poderia entrar na roda, embora eu realmente não acredite e não consiga enxergar isso. Em última hipótese, até Jiri Hudler — que deve tornar-se agente livre restrito — poderia ser negociado para abrir algum espaço no orçamento. Embora seja útil e faça uma boa temporada, Hudler demonstra que não passará de um jogador de terceira linha (ou de segunda, se você tiver boa vontade) no Detroit, abaixo das expectativas inicialmente geradas.

O gerente do Detroit, Ken Holland, já indicou qual é a linha de pensamento sobre a renovação com Hossa e Franzen: "É possível, mas difícil — embora eu acredite que ambos gostariam de ficar. Eu quero renovar com um deles até os playoffs, e então esperar até o fim de junho para ver qual será o teto salarial."

Escolher ficar no Detroit não é exatamente algo desagradável. É escolher ficar numa franquia de longo e, até o momento, ininterrupto sucesso. Desde o começo da década de 90 está sempre nos playoffs, sempre figurando entre os favoritos ao título. Claro que nem todos se contentam com isso (vide Sergei Fedorov, que cismou de sair, mesmo que para ganhar menos e/ou jogar em times de pouca expressão — e Fedorov nunca mais conseguiu um décimo da representatividade que tinha em Detroit), e é certo que o dinheiro é imperativo para alguns. Mas não é o caso de Hossa, pelo que demonstrou para jogar pelos Red Wings nesta temporada. Vamos ver o caso de Franzen.

Que é possível manter ambos e manter um time competitivo, é. Que a gerência dos Red Wings tem gabarito para tanto, é indiscutível. O resultado nós veremos em junho próximo.

Marcelo Constantino ainda está chocado com a partida de Heinz Krug Junior.

AP
Marian Hossa recebe os cumprimentos depois de marcar o gol da vitória na disputa de penaltis contra o St. Louis Blues. Fazendo uma excelente temporada pelos Red Wings, é possível que ele permaneça em Detroit no próximo ano.
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Página publicada em 4 de fevereiro de 2009.