Por: Thiago Leal

Há 18 anos o Los Angeles Kings seria a primeira equipe californiana a vencer uma divisão na NHL, a então chamada Divisão Smythe, que englobava times que hoje se dividem entre a Divisão Pacífico e a Noroeste. À época, os Kings eram a única franquia da Califórnia na Liga. Dois anos depois, já com uma equipe vizinha, o San Jose Sharks, os Kings foram os primeiros no estado a vencer uma conferência, ainda chamada Conferência Clarence Campbell. A Copa Stanley, no entanto, foi perdida para o Montreal Canadiens. No ano seguinte a terceira e última franquia californiana entraria na NHL, o Mighty Ducks of Anaheim.

Foram os próprios Mighty Ducks os segundos californianos a vencer uma conferência: o clube conquistou a Oeste em 2003 e tornou a vencê-la em 2007, já com o nome Anaheim Ducks, quando também foi a primeira franquia da Califórnia a vencer a Copa Stanley.

Agora os Sharks estão prestes a entrar definitivamente para a história do hóquei na Califórnia, sendo a primeira franquia no estado a conquistar o Troféu dos Presidentes — basta uma vitória contra o Phoenix Coyotes, em casa, que o título será garantido. Mais que uma conquista como o Troféu Clarence Campbell ou a Copa Stanley, o Troféu dos Presidentes é uma confirmação da consistência do trabalho de uma equipe. A conferência ou a Copa podem ser conquistadas por um time que simplesmente consiga uma sequência de vitórias incomum, como já foi o caso do Florida Panthers, por exemplo. Mas ser o melhor time da temporada regular prova o valor que aquela franquia teve para a liga. Não é de hoje que os Sharks têm esse valor. O Troféu dos Presidentes é apenas a prova final disso.

O hóquei na Califórnia, assim como na Divisão Pacífico em geral e também na Flórida, é controverso. Muita gente se opõe. Como pode o Canadá, um país onde o hóquei é o esporte nacional, ter apenas seis franquias, enquanto a Califórnia e a Flórida, estados ensolarados, têm, juntas, cinco. E o Arizona, quente e completamente desértico, tem uma — que, por sinal, até 1996 jogava no Canadá. Dessa forma, qualquer fã de hóquei que não torcedor de algumas dessas franquias opõe-se a sua existência e coloca-as no topo de qualquer lista para relocação — inclua aí também o Dallas Stars, no Texas, e o Nashville Predators, no Tennessee, mais um estado sem nenhuma relação com o hóquei. E, para o pesadelo de muitos, ainda cogitam uma equipe em Kansas City, no Missouri, que já teve a sua entre 1974 e 1976, mudando depois para o Colorado e, por fim, para New Jersey.

Apesar de não ter muita tradição, o hóquei nesses estados mais quentes, que muita gente certamente critica, vem tendo sua importância na NHL. Não apenas pelos títulos dos Ducks e do Tampa Bay Lightning em 2004, mas também pela história que muitas dessas franquias vêm construindo, a exemplo dos Sharks, detendores de quatro títulos da Divisão Pacífico e uma das mais fortes equipes da liga na década atual. Nos últimos 12 anos, os Sharks só ficaram de fora da pós-temporada em 2003. Nas últimas quatro participações passaram da primeira fase. A franquia vem sempre beirando ou ultrapassando os cem pontos e mantendo uma média de quase 244 gols por temporada, incluindo a atual.

Hoje os Sharks vivem uma situação semelhante àquela que os Ducks conheceram em 2006-07, quando o clube foi montado para ganhar a Copa Stanley e todos acreditavam que isso iria acontecer. Todo o time estava concentrado nesse objetivo. Naquela ocasião, os Ducks chegaram a liderar o Troféu dos Presidentes, mas não tiveram peças de reposição para as lesões que aconteceram no decorrer da temporada. A franquia tinha um time mais preparado para jogar os playoffs — pois são os playoffs que levam à Copa. E é justamente esse o problema que vem atrapalhando os Sharks nas últimas pós-temporadas, quando o clube sempre chegou como um dos possíveis favoritos mas acabou eliminado.

Por quê?

O problema seria que os Sharks são um time mais preparado para a temporada regular que para a pós-temporada. Em todas as suas eliminações recentes, eles caíram em seis jogos. Em dois casos, contra os Oilers em 2006 e contra os Stars em 2008, eram francos favoritos. Chegaram a ser superiores ao Dallas no geral, mas foram derrotados pela grande facilidade dos texanos em marcar. Mas pelo Edmonton os Sharks tomaram o maior sufoco e foram eliminados sem nenhuma contestação, com total superioridade da franquia canadense. Contra os Wings em 2007 os Sharks não eram favoritos, e o Detroit também foi bastante superior na série em geral. De qualquer forma, não existe um padrão para a eliminação dos Sharks. Os principais jogadores da equipe, Joe Thornton, Patrick Marleau, Jonathan Cheechoo e Brian Campbell, não somem nesses momentos decisivos. A defesa trabalha de maneira esforçada, buscando bloquear chutes e anulando, na medida do possível, o ataque adversário com trancos. Nem dá para dizer que o problema seja Evgeni Nabokov, uma vez que seu número de defesas continua alto, mesmo nas eliminações. Aliás... é curioso que os Sharks tomem tantos gols em playoffs, porque o time costuma ter uma defesa excelente.

Talvez um motivo seja o baixo fator decisivo do time. Afirmei que Thornton, Marleau, Cheechoo ou Campbell não somem completamente, e de fato não somem. Mas na hora de decidir um jogo marcando gol vencedor ou assistindo um gol vencedor, nem sempre esses caras estão lá. Não que esses caras não sejam decisivos. Muito pelo contrário, como principais jogadores do time eles decidem jogos também. O que defendo é que o fator decisivo desses cidadãos baixa em partidas de pós-temporada, principalmente quando a equipe está perdendo ou quando se disputa prorrogações, talvez a situação em que o fator decisivo seja mais importante. Assim, foi Joe Pavelski o nome mais determinante para os Sharks nos jogos da pós-temporada passada.

Por essa razão, fica difícil apostar nos Sharks para o Troféu Clarence Campbell ou para a Copa Stanley. Não dá para prever o quanto eles vão funcionar.

A julgar pela temporada atual, aparentemente este é, definitivamente, "o ano do tubarão" na pós-temporada. A diferença desta vez não é apenas o potencial absurdamente alto que os Sharks têm mantido, mas também a diferença de nível que o clube tem hoje em cima dos possíveis rivais na briga pela Copa. A única equipe que atualmente tem um potencial semelhante aos Sharks é o Detroit Red Wings, com quem a franquia californiana travou belos confrontos na temporada regular.

Até o presente momento, os Sharks vêm fazendo história — e ela deverá ser confirmada após o fechamento desta edição. Mas com certeza o time sonha com uma história muito maior.

Façam suas apostas.

Thiago Leal odeia feriados religiosos inúteis, hipócritas, retrógrados, imbecis e retardados.
AP
Jonathan Cheechoo e Joe Thornton: impressionante capacidade decisiva que some misteriosamente nos playoffs.
(30/03/2009)

AP
Azar? Essa cena sempre se repete na pós-temporada...
(04/04/2009)

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Página publicada em 9 de abril de 2009.