Por: Marcelo Constantino

Para o torcedor do Colorado Avalanche, os anos de 2008 e 2009 foram os piores possíveis. Depois de assistir ao arqui-rival humilhar o time em quatro definitivas e incrivelmente fáceis vitórias nos playoffs passados -- e ainda tendo de assistir ao arqui-rival chegar à quarta Copa Stanley em 12 anos --, os Avs assistirão ao playoffs pela TV novamente. Pela segunda vez em três anos. Possivelmente cerrando fileiras para torcer contra o arqui-rival, que estará novamente lá, pela 18ª vez consecutiva.

Mas a temporada de 2008-08 dos Avalanche não foi somente isso. Foi a pior da Conferência Oeste. Observando dados de segunda-feira, o Colorado é o time mais vazado da Conferência. E só fica atrás de peneiras furadas como Toronto Maple Leafs, Tampa Bay Lightning, Atlanta Thrashers e New York Islanders no geral. É o time que menos faz gols na Conferência. Consegue a façanha de marcar menos gols que o anêmico ataque do Minnesota Wild.

É a pior temporada da história do time, que vai terminar com um aproveitamento abaixo de 50% desde que se tornou Colorado Avalanche, ou seja, desde que a franquia saiu de Quebec em 1995. Pior: além de terminar a temporada na última colocação do Oeste, no geral só não conseguiu superar os Isles, que todos sabem ser um time intruso na NHL, um time de segunda divisão merecedor apenas de piedade por parte dos cristãos da liga.

Depois de centenas de jogos consecutivos com casa cheia, agora a Pepsi Center geralmente anda cheia de assentos vazios. Nesta temporada o Colorado foi um dos times com menor público em casa.

Diante da vergonhosa situação, as atenções agora se voltam para o sorteio da ordem do recrutamento, que ocorrerá no próximo dia 14. Coisa de time pequeno, que não condiz com aquilo a que nos acostumamos a ver do Colorado.

É bem verdade que esse ciclo é relativamente natural na NHL. O San Jose Sharks, por exemplo, era sinônimo de time ruim há cerca de dez anos. O Tampa Bay também já foi pavoroso, mas conquistou uma Copa em 2004. Agora voltou à ruindade. O Toronto já foi um grande time, já conquistou até Copas Stanley, e nos últimos anos tem sido apenas uma porcaria. O NY Islanders..., os Isles não são um bom exemplo de ciclo. Talvez o Colorado esteja na fase baixa do ciclo.

A transição da antiga NHL para a nova, com teto salarial, parece ter feito mal ao Avalanche. Talvez agora a franquia esteja pagando por todas aquelas fantásticas negociações de Pierre Lecroix nos anos em que os Avs dominavam a liga ao lado do Detroit Red Wings e do New Jersey Devils (estamos falando da segunda metade dos anos 90 até um pouco antes do locaute). Grandes estrelas foram adquiridas ao custo de jovens jogadores, futuros prospectos e escolhas altas nos recrutamentos.

Seria esse o grande motivo do fracasso atual do Colorado? Não. A gerência do Detroit fazia a mesma coisa, mas talvez sem tanta ousadia quanto a livrar-se de jovens prospectos.

Será então que os olheiros do Colorado falharam em enxergar bons jogadores para os recrutamentos? Pode ser, mas não justifica. Isso não é exclusividade dos Avs: toda a liga deixou que jogadores como Pavel Datsyuk e Henrik Zetterberg fossem recrutados somente nas inacreditáveis 6ª e 7ª rodadas, respectivamente.

Seria a insubstitutibilidade de Patrick Roy? Afinal, desde a aposentadoria dele que os Avs não acertam no gol. A resposta é novamente não. E novamente é necessário olhar para o arqui-rival: quem foi o goleiro campeão do ano passado? Chris Osgood. Precisa dizer mais alguma coisa? A verdade é que os goleiros atuais, Peter Budaj e Andrew Raycroft, apenas acompanharam a medonha campanha da equipe. Insinuar que José Théodore faria diferença é piada.

Justificativas para o declínio da franquia merecem um estudo mais profundo, mas o fracasso desta temporada pode ter justificativas mais à mão. Sobretudo as várias contusões de jogadores importantes da equipe.

Paul Stastny, por exemplo, cotado para ser o líder da nova geração do time, o craque do futuro, atuou em pouco mais da metade da temporada. E, quando esteve no gelo, não parecia aquele vigoroso jovem atacante das duas últimas temporadas.

O capitão Joe Sakic, que dispensa comentários, atuou em apenas 15 partidas nesta temporada. Acidentou-se em casa, fraturou alguns dedos e machucou as costas. Está fora da equipe até hoje, mas luta para tentar jogar em algum dos jogos finais. A grande especulação em Denver é se ele estaria lutando para jogar pela última vez com a camisa do Colorado. Não se sabe dos planos do capitão para o futuro (leia-se para mais uma temporada na NHL). Ele terá 40 anos para a próxima temporada e já declarou que gostaria de jogar as Olimpíadas de 2010 pelo Canadá, embora tenha dito também que não tem planos de longo prazo em mente.

O time termina a temporada aos cacos: além de Stastny e Sakic, Adam Foote, Ryan Smyth, Brett Clark e Ruslan Salei são alguns dos outros jogadores entregues ao departamento médico.

Com tantas contusões, e sem elenco para dar conta do recado ("Darcy Tucker ainda joga na NHL?!"), o Colorado Avalanche pareceu um NY Islanders do Oeste na temporada. Essa talvez tenha sido a maior ofensa a uma torcida que sempre apoiou a equipe.

Marcelo Constantino prefere o sim ao não.

AP
Cena comum na temporada: o adversário marca, comemora e o Colorado sofre.
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Página publicada em 8 de abril de 2009.