Por: Eduardo Costa

Após Andrew Brunette pôr de forma surpreendente um ponto final na carreira de Patrick Roy, em abril de 2003, o Colorado Avalanche sabia que seria quase impossível encontrar alguém que fizesse tanto pelo time quanto seu campeoníssimo ex-arqueiro.

Pelo menos esperava encontrar alguém que mantivesse um respeitável padrão de qualidade entre as traves.

David Aebischer, Philippe Sauvé, Tommy Salo, Peter Budaj, Vitaly Kolesnik e José Théodore foram os herdeiros de uma expectativa superlativa. Ficaram sob os holofotes de uma torcida que se acostumou com excelência na posição mais importante do hóquei.

Excetuando boas seqüências do suíço Aebischer e do franco-canadense Théodore — em seu ano de final de contrato, é evidente —, o antes ponto forte da franquia passou a ser seu calcanhar de Aquiles.

Para a atual temporada muitos duvidam da capacidade da dupla de goleiros que o gerente geral François Giguère colocou à disposição de Tony Granato. Um duo de baixíssimo custo, condizente com o histórico de ambos.

Budaj, entrando em seu quarto ano com o time, ganhou a companhia de Andrew Raycroft, dono de um começo animador na carreira — Troféu Calder de 2004 — e de uma queda vertiginosa, acentuada em sua passagem catastrófica pelo Toronto Maple Leafs, onde o ambiente também não ajudava.

Dois cortejos dentro da novíssima temporada e quatro pontos foram para o ralo essencialmente devido a péssimas aparições de Budaj.

A estréia contra os Bruins recebeu atenção especial da mídia especializada devido a volta ao gelo de Patrice Bergeron, após longa inatividade, onde até mesmo o encerramento da carreira foi cogitado. O habilidoso central foi bem, somou duas assistências, mas seu retorno só teve um final feliz graças à frouxa atuação de Budaj. A vitória dos Avs escapou nos minutos finais.

No embate número dois, no Rexall Place em Edmonton, a fórmula foi mantida. Os Avs tiveram um claro domínio territorial, de fundamentos e de idéias. Chegaram mais. Chutaram mais. Foram brutalmente superiores nos faceoffs. E também sofreram demais para vazar Mathieu Garon.

Após sofrer o priemiro tento, o empate chegou em um lance em que o disco teimava em não entrar na meta de Garon. Uma. Duas. Na terceira tentativa, Joe Sakic, com calma tibetana (?) chegava à terra prometida.

Mas nada como retribuir à boa tarefa de seus companheiros, que vinham deixando os Oilers com poucas chances de qualidade para chutes no embate, colocando um inocente (?) disco que veio de veio de trás de sua meta, para dentro de seu gol. Dustin Penner, em processo de reconquista da torcida local, foi o agraciado.

O experiente Steve Staios até tentou equilibrar os erros capitais do jogo. Infantilmente neutralizou um disco com a mão em sua área. Garon, de ótimo aproveitamento em penalidades máximas, foi batido com classe por Milan Hejduk.

Se o empate era um resultando injusto para o time de Denver, algo ainda pior aconteceria. Se contra os Bruins o time teve um curto tempo para tentar forçar o tempo extra, em Edmonton o relógio mostrava que restavam apenas 5,4 segundos.

Após tentativa falha em aliviar o disco de sua zona, um festival de ricocheteio, iniciado por Sheldon Souray, e que passou por Ethan Moreau e Penner, vencia, pateticamente, Budaj. A face desolada de Adam Foote, testemunha próxima, logo na noite em que atuava pela milésima vez na NHL, era o retrato fiel da incredulidade do time.

Craig MacTavish, assim como Claude Julien, reconheceu que a vitória foi "achada". O goleiro eslovaco, dono de um medonho percentual de defesas (79,5%), por sua vez, também assumiu que não fez as defesas que deveria.

Granato se disse contente com o produto apresentado no gelo. Mas, após 120 minutos de hóquei e uma vantagem de 72-39 em chutes, sua equipe ainda busca seu primeiro ponto em uma NHL equilibrada ao extremo.

A maratona está apenas começando, porém competidores como Coyotes, Blackhawks, Canucks e os próprios Oilers estão em melhor forma que na última temporada, o que significa que a concorrência nos quilômetros finais será ainda mais brutal para os Avs no Oeste. Perder dois jogos em que dominaram a ação, um deles contra um rival de divisão, pode ser a diferença na linha final.

Não precisa beber litros de Biotônico Fontoura para ter uma memória boa suficiente para lembrar como foram as duas últimas temporadas do Avalanche. Margens pequenas significaram o fracasso de 2006-07 e o relativo sucesso de 2007-08.

Contra o Calgary Flames, na terça-feira é bom os guarda-metas do time começarem a mostrar serviço. Ou a lista de apostas continuará aumentando.

Bônus track (?): Os sucessores e por onde andam

O suíço David Aebischer, reserva de Roy por bom tempo, teve aparições elogiáveis durante a vencedora temporada 2001-02, embora tenha tido participação mínima nos playoffs. Quando recebeu a pesada herança de ser o titular da equipe, virou um refém da inconsistência. Foi peça chave na frustrante temporada 2003-04, quando, mesmo com os reforços de Paul Kariya e Teemu Selanne, os Avs não brilharam. Aebischer teve um péssimo começo de série contra os Sharks; quando elevou seu jogo, era tarde demais. Disputou 43 partidas na temporada pós-locaute, antes de ser trocado para o Montréal Canadiens por José Théodore.

Após passagem apagada pelos Habs, conseguiu a proeza de ser mandado embora do San Antonio Rampage, afiliado dos Coyotes na AHL, para abrir espaço para Alex Auld (!). Hoje está em seu país de origem, onde atua no HC Lugano. Recentemente foi visto levando um caminhão de gols no clássico da região de Ticino, contra o Ambri-Piotta.

Philippe Sauvé disputou 17 embates pelo time na temporada 2003-04 sem chamar muita atenção. De fato, muitos torcedores dos Avs lembram mais desse guardião (?) quando atuava pelos Flames e se envolveu em uma briga com Aebischer em 2006. Um duelo entre titular e seu ex-reserva! Sauvé trocou de camisas algumas vezes até chegar à DEL (principal liga germânica), onde defendia, até pouco tempo, o Hamburgo Freezers.

Perto do dia-limite de trocas de 2004, Tommy Salo trocou os Oilers pelos Avs. Passou perto de um shutout logo na estréia contra os Coyotes. Foi sua única vitória em cinco jogos pelo time das rochosas. Atuaria ainda 26 minutos naquela pós-temporada, substituindo Aebischer em uma derrota para o San Jose Sharks. Hoje tem ligações estreitas com o Kungälvs IK, acumulando funções diversas no time sueco, menos a de jogador.

Também com vitória estreou outro goleiro europeu com a vestimenta do clube. Vitaly Kolesnik levou a melhor sobre os Bruins de Raycroft em julho de 2005, mas igualmente teve uma passagem curta. Considerado dispersivo, o cazaque foi preterido por Budaj e Théodore e teve que buscar novos horizontes. Hoje disputa a meta do Atlant Mystishchi, da KHL, com o indócil Ray Emery. Kolesnik apresenta melhores números, mas Emery, na condição de grande contratação do time, recebe uma quota maior de atenção.

Como já mencionado, a saída de Aebischer em 2006, rendeu o ex-troféu Hart, José Nicholas Théodore ao clube. Por ter as mesmas origens étnicas e por também vir dos Canadiens, alguns cometeram a heresia de comparar a sua chegada com aquela de Roy em 1995. Contusões, alto investimento que comprometeu o bolo salarial do time e poucas atuações estrelares. Foi basicamente isso que Théo representou na maior parte do tempo para a franquia.

Théodore repartiu a posição na temporada 2006-07, em que andou bastante pelo departamento médico, com Peter Budaj. Foi a primeira, e única vez, que os Avs ficaram fora dos playoffs desde a recolocação do clube em 1995.

A dupla foi mantida para a versão seguinte da NHL. Théodore até rendeu em sua última temporada regular com o time, quando buscava um novo contrato. Nos playoffs foi bem contra o Wild, apenas para ser empalado sem dó por Johan Fránzen & Cia, na série seguinte contra os Red Wings. Gripe aviária? Pode apostar que sim.

Recentemente foi visto falhando com a camisa dos Capitals contra os Thrashers e os Blackhawks. Pelo menos seus companheiros levaram os dois pontos contra o Chicago.

Se a memória não me trai, o jovem Tyler Weiman chegou a ver alguma ação na última temporada, contra o Nashville Predators, mas foi apenas um caso emergencial. Logo retornou ao Lake Erie Monsters, da AHL.

Chegamos então aos atuais

Budaj como reserva nunca comprometeu, mas quando teve que mostrar aquele algo a mais para se tornar titular pleno e absoluto, não convenceu. Até mostrou algo mais do que Théodore na série contra os Wings, mas ser superior ao franco-canadense naquele momento não era nenhuma tarefa de outro mundo. Granato ficou satisfeito com o que o eslovaco mostrou no campo de treinamento. Na realidade chamada temporada regular, a confiança da torcida está abaixo de zero no momento.

A alternativa para gol agora é Raycroft. Que gera ainda mais desconfianças que Budaj.

Como podemos ver, a vida sem o Rei dos Goleiros continuará não sendo fácil para a numerosa torcida azul-borgonha.

Eduardo Costa não sente falta das migalhas da ESPN.
Jimmy Jeong/CP
Dustin Penner faz sociedade com Peter Budaj. Os Avs dominaram, mas perderam outra.
David Zalubowski/AP
Kyle Beach tenta aumentar a fatura durante a vitória por 7-4 dos Blackhawks sobre os Avs na pré-temporada. Andrew Raycroft, definitivamente, é uma incógnita.
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Página publicada em 15 de outubro de 2008.