Por: Jim Kelley, SI.com

Foi apropriado que a NHL tenha aberto sua temporada com quatro jogos do outro lado do Oceano Atlântico na semana retrasada, porque com a economia norte-americana do jeito que está a liga vai precisar de cada coroa ou euro que aparecer.

"O grande medo é que, se a economia continuar a despencar, os torcedores simplesmente terão de fazer uma escolha não só de como pagam suas contas, mas também de quais contas serão pagas", previu um funcionário da NHL ao site SI.com sob a condição de manter-se anônimo. "Se chegar a esse ponto, os custos de entretenimento — e, vamos falar a verdade, nós estamos no negócio do entretenimento — vão sofrer. Muitos de nós vamos sofrer."

Fontes da SI.com dizem que alguns times de sucesso têm sentido o baque recentemente, incluindo alguns da velha guarda, como o Boston, e os da expansão para o Sul, notadamente Phoenix, Florida e Atlanta. Além disso, apesar de os camarotes de luxo nas maiores cidades (Nova York, Toronto, Chicago) já estarem praticamente esgotados para esta temporada, o dinheiro adicional que provém dessas vendas, como a comida vendida dentro do estádio, pode cair substancialmente. Nas cidades menores, se os times não venderem todos os ingressos destinados ao resto do público na forma de carnês de temporada, o impacto é esperado ainda antes.

"O Boston tem estado sempre entre as três ou quatro maiores receitas, mas esse não foi o caso na temporada passada, e com assentos disponíveis [o TD Banknorth Center não está com todos os ingressos vendidos para esta temporada] eles podem acabar sofrendo uma queda ainda maior", revela o funcionário da NHL. "Se está acontecendo lá, imagine como é para os times que têm uma torcida ainda menor ou, pior, uma despesa geral ainda maior. Os Bruins são um time antigo, uma boa parte de suas principais despesas já foi paga. Se você tem custos altos com a construção de um estádio ou grandes empréstimos para garantir esses pagamentos, ou ainda se suas vendas de ingressos começam a cair, você estará com um sério problema nas mãos."

Para complicar ainda mais, há o programa de divisão de receitas da liga. Os times que precisam desse dinheiro para se manter precisam alcançar metas estipuladas pela liga em público e receita para se qualificar. Essa provisão foi inserida no último acordo coletivo de trabalho pelos times mais estruturados, que não queriam assinar cheques de divisão de receitas para clubes que não fossem capazes de melhorar seu produto e simplesmente quisessem uma fonte de dinheiro.

Alcançar o teto salarial automaticamente gera um custo com folha salarial de US$ 56,7 milhões. Então vêm os custos com seguro e pensão, entre outros, que podem somar outros US$ 3 milhões a US$ 4 milhões. Isso antes de se computar a operação dos times de baixo e dos olheiros, manutenção do estádio e aluguel, folha salarial de funcionários e despesas com viagens. Se um time tem de colocar no orçamento a divisão de receitas, estamos falando de US$ 80 milhões ou mais em custos de operação.

"Obviamente eles são menores se o time está mais perto do piso salarial", ressalta o funcionário da NHL. "Mas se você não conseguir gerar receita o bastante para pagar sua folha — e alguns times não conseguem — é quase impossível tirar o bastante das outras fontes de receita para cobrir o rombo. Se isso acontecer, você pode perder alguns dos seus fundos de divisão de receitas, e isso deixa a situação ainda mais difícil."

Outro problema é a recente tendência de assinar contratos longos com jovens jogadores, como o de US$ 67,5 milhões em 15 anos dado pelo New York Islanders ao goleiro Rick DiPietro. Para muitos clubes, é uma maneira de proteger suas melhores promessas da idade cada vez mais baixa com que elas ganham o passe livre (resultado do último acordo coletivo). Mas esses times agora têm custos fixos de folha no longo prazo, mas não têm a mesma garantia quanto às rendas das partidas. Os preços dos ingressos ao redor da liga subiram — em alguns casos, chegaram a 20% — e não só os salários são fixos, como os contratos são garantidos durante toda a sua validade, mesmo se o jogador se machucar, cair bastante de produção ou simplesmente cair em desgraça com a torcida.

O comissário Gary Bettman já disse que não encorajaria contratos de longa duração, mas os times os fizeram, e os compromissos assustam algumas das pessoas envolvidas com o financeiro dos clubes.

Em recentes entrevistas à revista Business Week e à agência de notícias Canadian Press, Bettman falou sobre os pontos positivos da liga, como o público recorde na temporada passada pelo terceiro ano seguido e a audiência nos Estados Unidos para as finais da Copa Stanley de 2008, a maior desde o locaute de 2004-05. Ele insistiu que está satisfeito com o obscuro parceiro de TV fechada da liga, a Versus, e que o teto salarial — um instrumento que tem feito o custo dos negócios crescer todos os anos desde sua concepção, depois do locaute —, mal-visto por alguns, é uma vantagem da liga. Mas ele ainda admitiu que muita coisa pode mudar à medida em que a crise econômica se desenrolar e que ninguém estaria imune a ela. "Mas seu impacto é imprevisível e não é algo que já estejamos sentindo", garantiu.

Jim Kelley é colunista do site SI.com. O texto foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 15 de outubro de 2008.