Por: Humberto Fernandes

Ninguém pode dizer que o péssimo começo de temporada do Colorado Avalanche é surpreendente.

Surpresa seria encontrar o time neste momento liderando a Divisão Noroeste, com três boas vitórias sobre Boston Bruins, Edmonton Oilers e Calgary Flames, o que, obviamente, não aconteceu e jamais aconteceria nas atuais condições de gerenciamento da franquia.

Qual foi o planejamento do gerente geral François Giguere para 2008-09? O que ele fez para permitir que o Avalanche repetisse o bom desempenho do ano anterior, quando alcançou a segunda fase nos playoffs?

A gerência decidiu não pagar US$ 4,5 milhões por ano para José Théodore, embora o goleiro recebesse quase seis milhões de salário nas duas temporadas anteriores em Denver. Ou seja, os Avs poderiam ter mantido o mesmo goleiro com um desconto de quase 25%, abrindo espaço razoável no teto salarial da equipe.

Théodore foi o mais próximo que o Colorado chegou de um goleiro titular competente, mesmo que por um curto período de tempo, da segunda metade da temporada passada em diante, quando esteve entre os melhores da liga, incluindo os playoffs, onde roubou a série contra o Minnesota Wild. Na fase seguinte, contra o Detroit Red Wings, não havia muito o que ele pudesse fazer, porque estava doente e o time perdeu algumas peças por contusão.

Os Avs ofereceram ao goleiro dois anos de contrato e US$ 3,5 milhões por ano, mesmo sabendo que Théodore escolheria os Avs em detrimento do Washington Capitals se as ofertas fossem iguais. Então, por conta de US$ 1 milhão, a equipe o perdeu em troco de nada.

A saída seria apostar em Peter Budaj. Recrutado na segunda rodada de 2001, o tcheco nunca demonstrou ter talento suficiente para assumir a titularidade da equipe, apesar da insistência. A gerência contou com um goleiro que iniciou apenas 30 jogos na última temporada e praticamente não viu o disco nos playoffs.

Budaj tem contra si o retrospecto negativo em jogos decididos na prorrogação ou pênaltis e a fama de sofrer gols fáceis em momentos decisivos. Como confiar em um goleiro que em três temporadas nunca passou dos 90,5% de defesas?

Para a reserva de Budaj os Avs contrataram Andrew Raycroft, o goleiro dono dos piores números da temporada passada, quando atuava pelo Toronto Maple Leafs, de onde saiu após ter seu contrato comprado — o mesmo que dizer que os Leafs chutaram sua bunda para fora de Toronto.

Após três jogos, o Avalanche chutou mais a gol que seus adversários. Contra Boston e Edmonton, a diferença de ofensividade das equipes foi gigantesca, mas o placar se repetiu: um gol de diferença a favor dos adversários. Em todos os confrontos Budaj sofreu um gol que deveria ter defendido.

Ninguém confia em Budaj, talvez nem ele mesmo.

É fácil apontar três soluções mais eficazes que a gerência poderia ter tomado: contratar Ty Conklin, Cristobal Huet ou o próprio Théodore, todos disponíveis no mercado de agentes livres em julho.

Por Huet a equipe gastaria um pouco mais, já que ele assinou com o Chicago Blackhawks por US$ 5,625 milhões, mas os Avs teriam um goleiro titular competente e seguro. Além do mais, havia espaço no teto salarial à época, que talvez a gerência tenha poupado para assinar com Peter Forsberg. Sim, o sueco de vidro, que nunca afirmou que voltaria a jogar e não conhece suas reais condições físicas de disputar mais uma temporada de hóquei.

Fica a pergunta: o que é mais importante para o time, um goleiro titular ou um atacante duvidoso, por mais fantástico que este seja? A campanha na temporada é a resposta.

Mas os problemas da equipe não estão apenas no gol. A gerência não fez nada para reforçar a desvantagem numérica da equipe, nona pior da liga na temporada passada. Mesmo com um (velho) novo treinador, Tony Granato, os jogadores não aprenderam a limpar a área e evitar erros de passes. Em 12 oportunidades de vantagem numérica, os adversários do Avalanche marcaram cinco gols. É o pior aproveitamento da NHL.

A demissão de Joel Quenneville nunca fez sentido. Por que cortar o vínculo com o treinador que levou esse mesmo time à segunda fase dos playoffs? E foi Quenneville quem substituiu, adivinhe!, Granato, anos atrás.

Decisão errada no gol, decisão errada no comando e decisão errada no mercado.

As duas "grandes" contratações do Avalanche para 2008-09 foram um goleiro que ninguém queria e um agitador (Darcy Tucker), algo que a equipe já tem em abundância.

O ataque dos Avs tem ótimos jogadores, como Joe Sakic, Milan Hejduk, Ryan Smyth, Paul Stastny e Wojtek Wolski. O problema é que com esse grupo não é possível formar nem duas linhas perigosas, imagine uma terceira linha. Na defesa, inexiste profundidade. Se Adam Foote ou Jordan Leopold caírem, não há quem os substitua.

Com tanta preocupação econômica, ainda há mais de cinco milhões disponíveis dentro do teto salarial. E o pior é que não há muito o que se fazer com esse dinheiro para mudar consideravelmente o destino do Colorado na temporada.

O mais triste disso tudo é que esse pode ser o último ano de Joe Sakic. E o capitão não merecia se despedir em meio a tanta desordem.

Humberto Fernandes pela primeira vez fez a capa de TheSlot.com.br.
David Zalubowski/AP
Contra Peter Budaj os adversários do Colorado Avalanche não têm encontrado dificuldades para marcar gols.
(09/10/2008)
Dale MacMillan/Getty Images
O treinador Tony Granato pensa em escalar Adam Foote para marcar Budaj...
(12/10/2008)
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Página publicada em 15 de outubro de 2008.