Sem Jaromir Jagr. Sem Martin Straka. Sem Brendan Shanahan. Sem Fedor Tyutin.

Muitos apostaram que os Rangers levariam muito tempo para conseguir alguma química — se é que teriam alguma.

Markus Naslund? Wade Redden? Já era, não jogam mais nada.

Eu, apesar de certo pessimismo no Guia da Temporada, escrevi: "Inicialmente achei que a equipe havia piorado com tantas saídas e a possibilidade da volta de Petr Nedved (sem contar a vaga na ponta-esquerda que Brendan Shanahan tomaria), mas acredito que haja motivos para a torcida sorrir". Algo em mim dizia que eu estava certo. Algo em mim me fez acreditar que esta equipe estava destinada a uma boa temporada. E parece que eu estava certo em acreditar. Mas estava errado em duvidar de várias coisas, ao menos por enquanto.

Com o ótimo começo da equipe, que venceu todos os cinco jogos que disputou, os Rangers parecem já ter acertado a combinação certa de linhas e uma previsão que fiz se cumpriu: os jovens Brandon Dubinsky e Daniel Girardi lideram esta equipe. Dubinsky centra uma linha com o "enigmático" Nikolai Zherdev e o "surgido do nada" Aaron Voros. Que eu acreditava em Dubinsky, isso é fato. Se acho que ele vai ser o capitão dos Rangers no futuro é porque realmente acredito nisso. Zherdev sempre teve potencial, mas... Voros? Um jogador selecionado na oitava rodada do recrutamento, que tinha apenas 14 pontos em 55 jogos na temporada passada pelo Wild, de repente com três gols e quatro assistências em cinco jogos? Bom, parece que cada um tem um papel na linha. Zherdev é o matador, Dubinsky prepara as jogadas e Voros fica à frente do goleiro adversário, aproveitando seu tamanho. Como sempre, esta é a dita receita para uma boa linha (como acontece com os Wings e Holmstrom, Datsyuk e Zetterberg, apesar de não jogarem sempre juntos).

Após a primeira linha, os veteranos Scott Gomez e Naslund parecem ter química. Naslund, apesar de europeu como Jagr, não é o tipo de jogador que precisa do disco constantemente, o que causava conflito com o tcheco. Com isso, Gomez pode se focar em dominar o disco e passar na hora, ao invés de ficar brigando com seu companheiro de linha pela posse. Ryan Callahan e Nigel Dawes tem visto tempo de gelo naquela linha.

Chris Drury, o capitão da equipe, não começou bem a temporada, mas isso se deve ao nível ofensivo de seus companheiros de terceira linha. Aliás, ninguém se firmou com ele ainda. Seja o esforçado Fredrik Sjostrom, o outrora bom jogador Petr Prucha, o bom Dawes ou o provável grande jogador Lauri Korpikoski. Mas como ele não precisa produzir, o treinador Tom Renney pode continuar tentando achar alguém ali. Inclusive Shanahan que, dizem, pode ser assinado a qualquer momento. Sinceramente? Acho uma boa, se ele aceitar jogar na terceira linha. Shanahan, Drury e Korpikoski pode ser uma boa combinação, deixando Blair Betts, Colton Orr e Dawes ou Callahan ou Sjostrom para uma quarta linha.

Ao menos acertei algo: Henrik Lundqvist é um monstro. Quando vão começar a dizer que ele está entre os melhores goleiros da liga? Sério, quantos goleiros estão no mesmo nível? Martin Brodeur e Roberto Luongo são acima da média, mas além deles, quem mais? Jean-Sebastien Giguere (jogando pessimamente), Evgeni Nabokov, Ilya Bryzgalov? Sinceramente, Lundqvist tem sido constante desde que entrou na liga. E com sua liderança, a defesa tem se portado muito bem. Dan Girardi, que eu tinha certeza que seria um ótimo jogador, lidera os defensores com cinco assistências e Redden, Mara e Roszival tem provido mobilidade atrás. Os Rangers têm jogado com esses seis defensores: Girardi, Redden, Mara, Roszival, Dmitri Kalinin e Marc Staal. Ou seja, os seis sabem atacar, apesar de Kalinin, Staal e Mara serem considerados mais "defensivos". No papel, Redden tem nome, Roszival aos poucos se firma entre uma das estrelas da liga e os jovens Girardi e Staal são os pilares do futuro e do presente da equipe.

No fim, a saída de Jagr e Straka e o "fim da República Tcheca" foi boa para os Rangers. É uma pena que Jagr só tenha resolvido dar o sangue na pós-temporada. Entendo o lado dele de querer receber igual a Gomez e Drury, mas com 36 anos e pedindo sete milhões, ele fez foi um favor em ir para a Rússia.

Nota trágica: eu acreditava que Alexei Cherepanov um dia se uniria a Artem Anisimov numa ótima linha russa. Que sua família esteja bem diante desta triste morte, coberta por Alessander Laurentino e Eduardo Costa nessa edição.

• Capa
• Editorial
• Faceoff
• Prorrogação
• Morte súbita
• O começo de uma caminhada
• O lado (ainda mais) humano do hóquei
• Uma pesada herança
• O adeus do hóquei a Cherepanov
• Sem Jagr, sem Straka, sem problemas
• Os melhores: Detroit Red Wings
• Quando a gerência destrói
• Vladimir Konstantinov
• Bobby Ryan pagou o pato
• A NHL pode estar sobre gelo fino
• Sobre a cobertura da NHL