Por: Igor Veiga

O clube que completou 100 anos de existência no último mês de dezembro chegou para esta temporada da NHL cheio de caras novas. Muitos jogadores se foram, muitos chegaram. Uma verdadeira reformulação do elenco foi feita pelo gerente geral Bob Gainey, que de vez em quando parece ter sacadas geniais, mas, na maioria das vezes, tem medo de arriscar. E o resultado até esse meio de temporada não tem sido o dos mais animadores. A equipe, que vem com uma campanha pra lá de mediana (22-21-3, 47 pts), há muito está empacada na quarta posição de sua divisão, sempre beirando da sétima à décima posição de sua conferência.

 

Não era isso, certamente, que Gainey tinha em mente quando resolveu dar uma cara nova à equipe durante o verão. Para o cargo de técnico — que ele ocupou interinamente durante os últimos meses da temporada passada —, Gainey trouxe Jacques Martin, treinador de longa data dos Senators e que nos últimos três anos esteve no comando dos Panthers. Conhecido pelo seu estilo de jogo defensivo, mas apoiado na velocidade de seus atacantes, sua chegada até que agradou parte da torcida, um tanto acostumada a ver defesas frágeis desfilarem em Montreal.

 

Mas a principal foco do "choque de ordem" de Gainey era, sem dúvida, os jogadores. E entre o grupo que deixou o Bell Centre, não poderíamos deixar de destacar aqueles que fizeram parte do "Triplo K da barca do Gainey": Koivu, Kovalev e Komisarek.

 

Saku Koivu dispensa comentários para os fãs do Montreal. Se quiser testar o tamanho dessa paixão, ouse falar mal dele perto de um torcedor dos Habs! O finlandês, que estreou em Montreal em 1995-96 e que por lá ficou durante 13 temporadas — nove delas como capitão supremo do time —, é um dos últimos "heróis tricolores", se me permitem assim o chamar. Seu uniforme agora é o dos Ducks, onde joga ao lado do seu companheiro de seleção Teemu Selänne. Exemplo de caráter, coragem, determinação e luta (faltam mais alguns elogios, eu sei...), a Koivu só faltou mesmo levantar a Copa. Segundo jogador por mais tempo capitão na história da franquia — só perde para Jean Beliveau —, sua figura era (e ainda é) tão importante para o clube e para os fãs que, desde a sua saída, nenhum jogador do atual elenco vestiu o "C", que por tanto tempo foi dele. Um verdadeiro mito. Sua luta contra o câncer conquistou o coração da torcida e da província de Quebec, mesmo não ganhando títulos. Primeiro europeu a capitanear os Canadiens, ganhador dos troféus Bill Masterton Memorial, em 2002, e King Clancy Memorial, em 2007 (dados a jogadores que demonstram espírito esportivo, dedicação ao hóquei e que ainda ajudam à sua comunidade), a Koivu talvez só falte uma estátua em sua homenagem no Bell Centre daqui a uns anos... e sem exageros...

 

Alex Kovalev é um jogador que até hoje divide a torcida. Isso pôde ser facilmente notado durante a partida de 17 de outubro de 2009, em que o Ottawa, seu atual time, foi até o Bell Centre enfrentar os Canadiens. Enquanto uma parte da torcida o vaiava, outra o aplaudia. A única vez em que as duas partes se uniram naquela noite foi quando o ex-Hab marcou o seu gol na vitória dos Sens por 3-1, pois, logo após, o que se ouviu na arena foi um sonoro coro de "Kovy, Kovy!". O fato é que Kovalev teve sim os seus grandes momentos com a camisa tricolor (um desses, sua brilhante participação na famosa virada de 6-5 sobre os Rangers). Porém, seus problemas pessoais na última temporada desgastaram e muito sua relação com a instituição, e sua saída acabou sendo mesmo necessária.  

 

Outro que deixou o clube foi o defensor Mike Komisarek, que agora veste o uniforme dos arqui-rivais Maple Leafs. A estreia das duas equipes na atual temporada foi também a primeira partida de "Komi" contra o seu ex-time. Ele até que ensaiou uma briguinha com Travis Moen, meio que para demonstrar que ali estava um jogador de "sangue azul" e que não tinha mais nenhum resquício de compaixão para com o ex-clube. A verdade é que seus 11 gols na última temporada também não deixaram muitas saudades em Montreal.

 

Para suprir a ausência daqueles que se foram, chegaram a Montreal, na primeira leva de reforços, os atacantes Scott Gómez, Brian Gionta, Mike Cammalleri e Travis Moen, e os defensores Paul Mara, Hal Gill e Jaroslav Špacek.

 

Dos "nanicos" Gionta, Gómez e Cammalleri todos esperavam um trio veloz, que iria conseguir furar as defesas adversárias, que faria muitos gols e "blá-blá-blá". Infelizmente para os fãs não foi isso que aconteceu, pelo menos até aqui. Gionta, ponta-direita, jogador de muita movimentação e habilidade, ficou de fora por 21 partidas, vítima de uma contusão no pé. Mas seus números são ainda bons, com 18 pontos (10 G, 8 A) marcados em 25 partidas. Gómez é talvez a grande decepção. Decepção não pelo que ele vinha jogando nas últimas temporadas, mas sim pelo que se esperava dele — ainda mais porque o clube "inve$tiu" pesado nele. Apesar da vontade que demonstra em quase todas as partidas, seus números até aqui (29 pontos, 5 G, 24 A) não mentem: o central ainda está devendo muito. O mesmo não se pode dizer de Cammalleri. Depois de formar uma excelente linha de ataque nos Flames, ao lado de Jerome Iginla e Olli Jokinen, o ponta-esquerda vem jogando muito. Ele é o artilheiro do time, com 20 gols, e a principal referência no ataque. Tanto é assim que até agora ninguém ousou ocupar o seu lugar na primeira linha. Além disso, ainda foi "premiado" ao marcar o 20.000º gol da história da franquia durante uma partida contra os Sens, em 28 de dezembro.

 

Mas se é para falar do ataque, quem merece um parágrafo inteiro desta matéria é o central Toma Plekanec. O tcheco, que em seus seis anos de NHL só vestiu a camisa tricolor, tem sido fenomenal até aqui. Sua melhor temporada até então tinha sido a de 2007-08, quando marcou 69 pontos em 81 jogos. Neste ano, "Pleka" já tem 46 pontos em 46 partidas! Seu jogo coletivo tem sido sensacional e seu número de assistências (36 no momento) está entre as cinco melhores da NHL há um bom tempo.

A defesa é a grande questão, já que em boa parte dos jogos cerca de 40 a 50 chutes são desferidos contra o nosso gol. Mara, Gill e Špacek, ainda não mostraram nada que enchesse os olhos da torcida, e seus números são, no máximo, razoáveis. Quem vem segurando mesmo o tranco da zaga é a dupla Roman Hamrlik e Andrei Markov. Hamrlik, em sua terceira temporada em Montreal, vem jogando com muito mais consistência, sendo também uma importante peça para a equipe de vantagem numérica. Markov é simplesmente Markov. Depois de ficar de fora por 35 partidas, logo na sua reestreia o russo saiu do gelo com dois gols, e já tem 13 pontos em 11 partidas.

Mas só para dizer que não somos apenas críticas, aqui vão duas boas sacadas do Gainey que merecem destaque: a contratação do defensor Marc-André Bergeron e do atacante Benoit Pouliot. O primeiro, que estava esquecido no mercado de agentes-livres, caiu como uma luva para reforçar a defesa. Em 39 partidas, ele já marcou 23 pontos, sendo 16 deles em vantagem numérica. É a melhor performance entre os defensores do time. O segundo veio do Wild, em uma troca que mandou para Minnesota o então camisa 84 Guillaume "Ternurinha" Latendresse. Pouliot tem apenas oito partidas pelo time, mas já marcou quatro gols e vem aumentando a sua média no gelo por partida. Bom saber que Gainey não é tão cego assim...

Mas não poderíamos encerrar esta matéria sem citar um dos assuntos mais interessantes e comentados nos bares de Montreal, que é a dupla de goleiros. De um lado, o garoto Carey Price: talentoso, decisivo no título mundial júnior do Canadá em 2007 — mesmo ano em que levou a equipe afiliada dos Habs na AHL, o Hamilton Bulldogs, ao título da Copa Calder —, porém notavelmente pressionado por carregar nas costas a responsabilidade de defender as redes da equipe mais tradicional do hóquei, ele carece em consistência. É aquele goleiro que num dia faz milagres, e no outro toma quatro gols defensáveis. Mas, mesmo com os problemas e o fraco desempenho até aqui (10-15-3), a torcida e imprensa canadense ainda têm grande carinho por ele. Do outro lado, Jaroslav Halak: o tcheco, que de cara é identificado como o "reserva do Price", vem sendo o principal goleiro da equipe até aqui. São 12 vitórias e apenas 6 derrotas, com direito a dois shutouts! Depois de correrem alguns boatos de que ele seria uma das apostas dos Habs para "angariar" fundos no mercado de trocas, Halak "explodiu" de vez. E quando ele está no gelo, pode estar certo de que a torcida tricolor fica um pouco mais tranquila. Mas, sem querer enganar ninguém, todos sabem que Halak não é tudo isso. E a pergunta que fica no ar é: afinal, que é o goleiro titular dos Habs?

Igor Veiga, ansioso pelo início da sexta e última temporada de "Lost", deseja a todos os leitores um feliz 2010!
Arquivo TheSlot.com.br
Bell Centre em festa para comemorar o 100º aniversário do Montreal Canadiens.

Arquivo TheSlot.com.br
Saku Koivu: o último grande ídolo da hitória da franquia deixou o time esta temporada. E vai deixar saudades...

Bill Wippert/NHLI via Getty Images
Com Alex Kovalev é assim: ame-o ou deixe-o. Os Habs preferiram a segunda opção.

John Mahoney/The Gazette
A grande referência no atual ataque tricolor, Mike Cammalleri vem jogando muito e é o artilheiro do time disparado.

Frank Gunn/AP, The Canadian Press
Scott Gómez (91) e Andrei Markov (79). Quando o da esquerda começar a jogar como o da direita, os fãs dos Habs ficarão muito mais felizes.

Montreal Gazette
Sim. Quem deveria estar nesta foto era o Halak, mas como falar do Price dá mais "audiência'...

Frank Gunn/AP, The Canadian Press
O mito da temporada? Não poderia ser outro: Tomas Plekanec. Seus 46 pontos em 46 partidas resumem bem o quanto ele vem jogando.

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Página publicada em 10 de janeiro de 2010.