Por: Alexandre Giesbrecht

O que seria da espécie humana sem o eufemismo?

O eufemismo é aquela figura de linguagem que nos permite escapar de frases problemáticas, trocando um "Ele mentiu" por um "Ele faltou com a verdade". Basicamente, tirar o corpo fora de uma verdade, sem deixar de dizê-la. A direção do Florida Panthers conseguiu, na semana passada, criar um eufemismo que foi talvez a indireta mais direta da história da NHL. Em uma carta aberta à torcida, Cliff Viner e Stu Siegel, sócios-gerentes do clube, escreveram que "está claro que [o] time, do jeito que está atualmente estruturado, não está equipado para atingir as metas e objetivos [estabelecidos]". Eles seguem: "Não estamos satisfeitos com alguns dos jogadores, que não possuem as características de que precisamos para ter sucesso."

Basicamente, disseram que o time é uma porcaria. Talvez até o eufemismo tenha encoberto um adjetivo pior e mais ofensivo — mas não menos verdadeiro. A hora de fazer uma grande reformulação no elenco passou faz tempo. O time seguiu sem comando por anos, sem ir aos playoffs desde o século passado e montando equipes que no máximo serviam para chegar perto da pós-temporada. Pouco para qualquer time, ainda mais um que apontou como a melhor franquia de expansão da década de 1990. Neste ano, que tinha tudo para ser um ano de evolução depois da eliminação no último fim de semana da temporada regular, o time regrediu e chega ao intervalo olímpico com seis derrotas seguidas e no máximo dois gols marcados em cada um de seus últimos treze jogos, recorde negativo na história da franquia.

O dia-limite de trocas está próximo, e a gerência em Miami deverá ser bem ativa nesse período. Mesmo agora, com os elencos congelados durante as Olimpíadas de Inverno, não duvide de que o gerente geral Randy Sexton já está costurando negociações que serão oficializadas quando a liga permitir. Aliás, as negociações começaram um dia antes de a carta de Viner e Siegel ser divulgada, com Dominic Moore sendo o primeiro a pagar o pato pelas seguidas más campanhas. Ainda que não seja uma troca de grandes proporções, qual é o moral de um jogador trocado por uma escolha de segunda rodada… no ano que vem? Completando essa fase de "aquecimento" na reformulação, Jeff Taffe foi chamado do time de baixo, em Rochester, e, apesar de ser simplesmente um substituto para o contundido Rostislav Olesz, foi especulado que ele poderia ter sido chamado para substituir algum eventual atacante trocado, o que acabaria não acontecendo. Sexton teria até fechado mais negócios, mas, como os jogadores seguem sendo pagos durante estas férias de meio de temporada, muitos times relutaram em aceitar em troca jogadores cujos salários seriam muito maiores.

Mesmo com as trocas proibidas na NHL por enquanto, não é preciso especular sobre quem é "trocável" no Florida. Todo mundo é, provavelmente. Dennis Seidenberg e Jordan Leopold, cujos contratos vencem ao final da temporada, certamente serão os mais oferecidos e talvez até gerem um retorno mais do que razoável de algum time desesperado nessas posições. Sexton facilmente aceitaria uma troca de Olesz por um pacote de cream cracker aberto, mas, com média salarial de US$ 3,125 milhões contra o teto por mais quatro anos, vai ser difícil achar alguém que não ofereça outro peso morto em troca, isso se for possível conseguir alguém. O também atacante Kamil Kreps, agente livre restrito a partir de julho, é outra isca para o mercado. O goleiro Tomas Vokoun, por outro lado, não deveria inicialmente ser oferecido antes do final da temporada, mas, depois da carta, não é difícil imaginar que ele saia pelo preço certo. Mesmo que não saia já, a hipótese de ele cumprir o último ano de seu contrato em Miami é cada vez mais remota.

A diretoria garantiu que "mudanças pequenas não servirão", então o recado está dado. Um recado bastante corajoso, aliás, pois em teoria afasta do estádio a torcida, que não verá os jogadores com que já se identificava e terá muito menos perspectivas de vitórias imediatas. O futuro, entretanto, pode ser promissor. Mas, como toda reconstrução, esta também será uma incógnita.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, enfrentou pontos de alagamento em São Paulo.
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Página publicada em 18 de fevereiro de 2010.