Por: Thiago Leal

Começou com Sidney Crosby. Antes dele, tivemos recrutamentos badalados, claro. Mario Lemieux em 1984, Eric Lindros em 1991 ou Alexandre Daigle em 1993 podem ser alguns exemplos. Mas todo santo recrutamento virou uma grande ferramenta do marketing após o fenômeno Crosby, em 2005. Depois dele vieram Erik Johnson em 2006, Patrick Kane em 2007 e Steven Stamkos em 2008. Com exceção de Johnson, todos foram jogados logo de cara na NHL, com a tentativa de reviver o fenômeno Crosby, ignorando então a necessidade desses calouros de passar por uma liga profissional menor e ganhar experiência. E o mesmo aconteceu com John Tavares.

O "recruta" número 1 Tavares vem fazendo uma boa temporada. Mas o posto de calouro número 1 de 2010 pode acabar não indo para ele, e sim para outro jogador. Há quem aposte no gigantesco defensor Tyler Myers. Ninguém fala na escolha de número 2 do recrutamento, o sueco Victor Hedman, do Tampa Bay. O líder da liga em pontos entre calouros, no entanto, é outro: Matt Duchene, a escolha de número 3, recrutado pelo Colorado Avalanche. E em Denver tem muita gente sonhando com a possibilidade do jovem de 19 anos lembrar outros centrais lendários que já passaram pela franquia.

O Colorado Avalanche é uma franquia que, embora nova, acostumou-se a ser vencedora desde o princípio. Sua história começou na temporada 1995-96, com uma Copa Stanley, título que se repetiu em 2001. Foram oito títulos consecutivos na Divisão do Noroeste. O torcedor, obviamente, está acostumado com os resultados positivos. Mas nada acontece desde 2003 e, pouco a pouco, o Avalanche foi caindo de produção. Em 2007 ficou de fora dos playoffs pela primeira vez em sua história e em 2009 repetiu o fracasso, com o recorde de 15º lugar no Oeste, sua pior colocação na história.

É natural que quando uma franquia chegue a este ponto, passe a se reorganizar, buscando uma reconstrução. Os pilares dessa reforma são o capitão Adam Foote, veterano do time, e o jovem talento Paul Stastny, filho de um antigo ídolo da franquia (em seus tempos de Quebec) e provável herdeiro do posto de capitão. É Stastny neste momento o líder do time em pontos. Mas um bom calouro é importante para o processo, e esse é o papel de Matt Duchene. Um time também busca a volta por cima através do recrutamento, vide o Pittsburgh Penguins. A exemplo de Kane, Stamkos e Tavares, Duchene, que não foi escolha número 1, foi jogado aos leões da NHL com um currículo que só englobava duas temporadas no Brampton Battalion da OHL. Para a surpresa de todos, Duchene não tem feito uma temporada meramente boa. O central, honrando sua camisa #9, está jogando feito um diabo. Duchene não vem sendo apenas um grande calouro ou um nome importante para uma temporada espetacular do Colorado Avalanche. O rapaz de Haliburton é, hoje, o melhor jogador do time e o mais importante. Tem o melhor aproveitamento em chutes e poderia marcar ainda mais se, quem sabe, formasse linha com Chris Stewart e Wojtek Wolski. Diga-se de passagem, Duchene é um torcedor declarado do Colorado Avalanche e aponta ídolos do time como Joe Sakic e Peter Forsberg como seus heróis de infância.

Em dezembro foram 13 pontos em 14 jogos e o prêmio de Calouro do Mês. No total, até o momento do fechamento deste artigo, são 42 pontos em 61 jogos. Sua média vem se aproximando de seus números de calouro na OHL, atuando pelo Battalion. Dois de seus melhores jogos até aqui foram contra as duas franquias da Flórida, o Tampa Bay Lightning e o Florida Panthers. As duas partidas aconteceram em sequência no começo de dezembro e contribuíram para o destaque que o calouro recebeu naquele mês. O melhor jogo, no entanto, foi outro.

Confronto direto com Tavares
O único até agora aconteceu no dia 6 de janeiro, dez dias antes do aniversário de Duchene. Nenhum dos dois jogadores pontuou, mas o New York Islanders venceu por 3-2 em Denver.

Em algum momento Tavares chegou a ser o melhor calouro da NHL. Atualmente, o melhor momento é o de Duchene, não apenas por ter mais pontos, mas pelo que vem sendo capaz de fazer pelo Avalanche — mesmo levando em consideração que o Avalanche tem uma equipe "mais pronta" que os Islanders.

Confronto direto com Myers
Foi no dia 9 de janeiro, também único jogo entre os dois times. E foi o melhor jogo de Duchene, a estrela da noite com dois gols. De quebra, Duchene converteu seu pênalti. Myers não só perdeu a penalidade como tudo o que fez no jogo foi conseguir dois minutos de banco por interferência. Myers teve 25 minutos de gelo contra 18 de Duchene. E Myers estava no gelo no primeiro gol de Duchene.

Apesar dos números mais expressivos de Duchene, vejo Myers como melhor jogador. Mas, assim como com Tavares, o melhor momento é o de Duchene.

De dezembro para cá o calouro do Avalanche vem se firmando como favorito a Troféu Calder. A briga me parece cada vez mais entre ele e Myers, embora John Tavares esteja no páreo.

O fato da expectativa, tanto sobre Duchene quanto sobre Myers, ter vindo apenas de suas respectivas franquias enquanto Tavares teve todos os holofotes sobre si tem dado vantagem aos dois sobre o atacante dos Isles? Certamente. Mas Duchene não tem vida fácil, uma vez que joga para uma torcida exigente, sedenta pela volta de seus melhores dias. E é Duchene o possível responsável pelo feito.

Certamente o Avalanche vai à pós-temporada. Briga pelo título do Noroeste, mas deve conseguir no mínimo a classificação. Logo em sua primeira temporada, Duchene vai encarar os playoffs. Será um ótimo teste para a sua personalidade forte e seus limites.

Chris Stewart e Brandon Yip
Não é apenas Duchene o calouro a brilhar no Avalanche. Chris Stewart está apenas em sua segunda temporada na NHL e vem tendo um ótimo desempenho, na mesma altura de Duchene, muitas vezes escoltado por Stastny. Stewart não fez uma temporada de estreia empolgante, por isso seu resultado atual assusta.

Já Brandon Yip é calouro como Duchene. E vem brilhando com a camisa dos Avs, muitas vezes fazendo linha com o próprio Duchene. Ryan O'Reilly, também em sua primeira experiência como profissional, é outro que vem fazendo uma boa temporada. Não chega ao nível de Duchene e Stweart, mas também não é o jogador do time com mais tempo de gelo.

Dos 26 jogadores que compõem o elenco profissional do Colorado Avalanche, 20 têm menos de 30 anos. Desses, 13 têm 25 anos ou menos. Dos cinco principais pontuadores, apenas Milan Hejduk pode ser considerado um jogador realmente experiente. Todos os demais são jovens, fazendo Stastny e seus 24 anos parecer o veterano dessa turma. Se estendermos aos dez maiores pontuadores, apenas dois têm mais que 25 anos.

O tempo de gelo do capitão Foote, uma das lendas do time, tem caído, alternando entre partidas com mais de 20 minutos e partidas com menos. O #52 também tem pontuado pouco para sua história. Mas de fora do rinque, Foote pode ver uma história que construiu ao lado de Sakic, Forsberg e Patrick Roy ser respeitada e apresentar grandes perspectivas.

É, finalmente um time cujo elenco brilhava a custas de jogadores veteranos está renovando seu elenco. E com grandes esperanças de retomar sua tradição de vitórias. Tradição essa, aliás, que a franquia precisou de apenas oito anos para firmar, enquanto equipes com 60, 70 e 80 anos nas costas capengam como se fossem meras estreantes.

Esse é o Colorado Avalanche que Duchene assistiu quando criança, e que ele luta para reestabelecer.

Thiago Leal está relendo Catcher in the Rye.
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Matt Duchene em seus anos de juvenil.

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Feliz da vida por ter sido recrutado por seu time de infância.
(26/06/2009)

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Duchene, o número três, posa junto com Tavares, o número 1, e Victor Hedman, o número 2. Hoje é Duchene quem está no centro.
Rick Stewart/Getty Images
Duchene, no canto superior direito, marca contra o Buffalo de Tyler Myers.
(09/01/2010)
AP
Comemorando com Brandon Yip: pilares da reconstrução do Colorado.
(09/02/2010)
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Página publicada em 19 de fevereiro de 2010.