Uma peculiaridade desta temporada é a existência de dois dias-limites de troca. Oficialmente, há apenas um, agendado para o dia 3 de março, uma quarta-feira que, para os fãs de hóquei, tem o mesmo peso do Natal.

Na prática, entretanto, havia, além desse, um outro dia-limite, anterior aos Jogos Olímpicos de Vancouver. Era a última data disponível para que as equipes fizessem mudanças antes da paralisação da liga. Isso aconteceu no dia 12 de fevereiro. Até o fim do mês, nenhuma troca pode ser realizada.

Nos dias que antecederam à paralisação, oito negociações foram concluídas. A seguir, breves comentários sobre as principais trocas.


Philadelphia Flyers: Ole-Kristian Tollefsen + escolha de quinta rodada 2011
Detroit Red Wings: Ville Leino

O Detroit precisava se livrar de salário para permitir o retorno de Andreas Lilja, defensor que não joga desde fevereiro do ano passado, quando sofrera uma concussão ao brigar durante uma partida.

Não estava nos planos trocar Leino, que tinha contrato para mais um ano, mas a gerência temia perdê-lo na Desistência. Assim, trocaram-no por alguém que eles não se importariam em perder e uma escolha qualquer no recrutamento, para não sair de mãos abanando.

Leino teve passagem desastrosa pelos Red Wings. Nesta temporada, foi barrado frequentemente dos jogos, até mesmo em prol do intimidador Brad May. Quando você não tem lugar no time porque May é titular, então você não serve pra nada.

Na Philadelphia, o atacante terá uma segunda chance para mostrar por que foi o MVP da liga finlandesa no passado, antes de se aventurar na América do Norte. Para quem não precisou pagar nada de valor para obtê-lo, é uma aposta válida.

O defensor norueguês Tollefsen não fazia parte dos planos da equipe, que recentemente assinou com Lukas Krajicek. Vale o mesmo raciocínio de dois parágrafos acima: se você não tem lugar no time onde Krajicek joga, então você não presta.

A escolha no recrutamento é muito tardia para a gerência sentir sua falta.


Carolina Hurricanes: Niclas Wallin + escolha de quinta rodada 2010
San Jose Sharks: escolha de segunda rodada 2010

De um dos piores times para um dos favoritos. Essa é a feliz trajetória do veterano defensor Wallin, que não pensou duas vezes antes de abrir mão da cláusula que proibia o Carolina de negociá-lo.

A transação já era comentada pela imprensa antes mesmo de ser oficializada. Os Sharks buscavam um jogador experiente para aumentar a profundidade de sua defesa e Wallin atendia perfeitamente aos pré-requisitos: experiência em playoffs, salário baixo e contrato a expirar.

Wallin, 34 anos, foi finalista da Copa Stanley em 2002, campeão em 2006 e será agente-livre irrestrito em julho. Em San Jose, deve jogar cerca de 20 minutos por noite.

Para os Hurricanes, que ainda não desistiram da temporada, mas que estão muito longe dos playoffs, a ordem é reformular o elenco na medida do possível. O ideal é trocar jogadores mais velhos em fim de contrato, como Wallin. Assim foi feito.


Atlanta Thrashers: Kari Lehtonen
Dallas Stars: Ivan Vishnevskiy + escolha de quarta rodada 2010

Selecionado com a segunda escolha geral do recrutamento de 2002, Lehtonen se tornou o mais bem recrutado goleiro europeu e jogador finlandês da história da NHL.

Cinco temporadas depois, o Atlanta desistiu de Lehtonen, o maior e mais talentoso goleiro que a franquia já teve, recordista de jogos, vitórias, shutouts e, também, contusões.

Seu histórico médico está repleto de anotações. A última delas o afasta do hóquei desde abril.

Os Thrashers decidiram seguir em frente com Ondrej Pavelec no gol.

Na troca, receberam o defensor Vishnevskiy, selecionado na primeira rodada do recrutamento de 2006. O russo de 22 anos disputou apenas dois jogos nesta temporada e cinco em sua carreira e tem contrato de duas vias (pode ser enviado para a AHL) por mais um ano.

Segundo os analistas, Vishnevskiy é um grande patinador e tem tudo para ser uma arma em vantagem numérica. No entanto, ele não é muito grande e não é bom o bastante nos aspectos defensivos, primordiais para a sua posição. Em Atlanta, ele deve ser promovido ao time principal na próxima temporada.

Lehtonen, aos 26 anos, terá a chance de recomeçar, agora em Dallas.

Apesar de estar no último ano de seu contrato, é provável que o goleiro receba do novo time uma proposta de renovação. Acredita-se que os Stars não vão renovar o vínculo de Marty Turco, que está há nove anos na franquia.


Florida Panthers: Dominic Moore
Montreal Canadiens: escolha de segunda rodada 2011

Esta troca só aconteceu porque Bob Gainey renunciou ao cargo de gerente geral dos Canadiens, promovendo o assistente Pierre Gauthier ao seu posto. Gauthier só ficou de 2002 até o mês passado longe do cargo de gerente geral na NHL porque faz trocas como esta.

Uma escolha de segunda rodada por Moore?

Nas últimas quatro temporadas, o central de 29 anos mudou de time no decorrer da campanha. Trocado do Pittsburgh Penguins para o Minnesota Wild, solicitado na Desistência pelo Toronto Maple Leafs, trocado para o Buffalo Sabres e, agora, trocado para o Montreal pelo Florida, com quem havia assinado como agente-livre. O melhor momento de sua carreira aconteceu em Toronto, quando marcou 12 gols e 41 pontos em 63 jogos, na temporada passada.

Moore é esforçado, nada mais do que isso. Não vale a escolha paga pelo Montreal, ainda que do ano seguinte, por ser um jogador aluguel — seu contrato se expira em julho.

Aos Panthers, que pretendem recomeçar, é uma forma de apostar no futuro distante.


Carolina Hurricanes: Matt Cullen
Ottawa Senators: Alexandre Picard + escolha de segunda rodada 2010

O Ottawa adquiriu um dos nomes mais interessantes e mais cobiçados entre os disponíveis no mercado de trocas.

Cullen, central de 33 anos, é do tipo versátil, que atua bem tanto no ataque quanto na defesa. Ele não vai suprir uma carência dos Senators, que já têm bons nomes no meio, mas vai fornecer profundidade e força nos times especiais, o que nunca é demais para um time que vai disputar os playoffs.

Cullen pode jogar tanto como central ou ponta, seja em uma linha ofensiva ou de papel essencialmente defensivo, para marcar as linhas mais fortes dos adversários.

O Carolina, em seu processo de renovação, recebeu em troca o defensor Picard, de 24 anos, em sua quinta temporada e quarto time na carreira, além da escolha de segunda rodada.

Escolhido pelo Philadelphia na terceira rodada do recrutamento de 2003, Picard se destaca por sua ofensividade, sendo uma boa opção para o time de vantagem numérica. No entanto, o saldo acumulado de -37 mostra que seu jogo tem buracos. Os Canes apostam no desenvolvimento do jogador.


Minnesota Wild: Kim Johnsson + Nick Leddy
Chicago Blackhawks: Cam Barker

A última troca do dia foi a mais interessante e envolveu o melhor jogador negociado.

Barker, 23 anos, foi selecionado com a terceira escolha geral do recrutamento de 2004. O defensor está em sua quinta temporada na NHL, a primeira em tempo integral.

Ele foi um dos envolvidos naquele erro gravíssimo cometido pela gerência do Chicago, que perdeu o prazo para renovar o contrato de alguns jogadores, antes da temporada. Não fosse por isso, não haveria a necessidade de trocá-lo para se livrar do salário de US$ 3 milhões pelas próximas duas temporadas.

Sorte do Wild, que adquiriu um defensor novo e, ao mesmo tempo, com mais de 200 jogos de experiência, ótimo em vantagem numérica e com um futuro muito promissor.

Em Minnesota, atuando por mais tempo e tendo mais obrigações do que no profundo time dos Blackhawks, Barker poderá completar o seu desenvolvimento.

Apesar de Barker ser tudo isso, não se pode dizer que os Hawks fizeram um mau negócio porque, em contrapartida, eles receberam o veterano Johnson, de 34 anos, defensor muito seguro que pode atuar 20 minutos por jogo.

No curto prazo, a troca promove um aprimoramento na defesa. No médio prazo, livra salário do teto da próxima temporada. No longo prazo, se o prospecto Leddy, de 18 anos, justificar o fato de ter sido escolhido na primeira rodada do recrutamento de 2009, os Hawks terão um defensor para seguir em frente.

É a rara troca em que todo mundo ganha.


O que vem por aí

Embora as equipes estejam proibidas de realizar trocas durante as Olimpíadas, nada impede que elas negociem entre si. Com apenas três dias entre a reabertura do mercado e o dia-limite de trocas, é provável que novos acordos sejam anunciados já na segunda-feira, dia 1.º de março.

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• Trocando tudo até o último ponta
• Quem vai e quem vem
• Dez coisas que eu mudaria na NHL
• De número 3 a número 1