O presente texto não tem a pretensão de ser um grande artigo. É direcionado a todos os fãs do Detroit Red Wings e aos que quiserem conhecer um pouco mais sobre o momento atual do time através deste "apanhado geral", com observações feitas por este colunista após assistir aos jogos contra St. Louis Blues e Colorado Avalanche.

Red Wings x Blues
Na estréia de Niklas Kronwall na temporada, os Wings derrotaram os Blues por 3-2 de virada, na Joe Louis Arena. O público presente vibrou antes do jogo, quando o gerente-geral da Seleção Estadunidense entregou ao defensor Chris Chelios a camisa de número 24 com a marca de capitão. O "Capitão América", como agora é chamado, fará sua quarta participação em Jogos Olímpicos, a terceira consecutiva como líder supremo do elenco norte-americano.

Kronwall, defensor sueco de 25 anos, atuou por 20 partidas pelos Wings na temporada 2003-04, antes de quebrar a perna durante o aquecimento de um jogo em Los Angeles. Perdeu o restante do ano, em que a equipe foi eliminada em seis jogos pelo Calgary Flames na segunda rodada dos playoffs. No ano seguinte, com o locaute que assolou a NHL, Kronwall disputou pelo Grand-Rapids Griffins a melhor temporada de sua carreira, consagrando-se como o melhor defensor da AHL.

De volta a Detroit para esta temporada, o defensor sofreu graves danos nos ligamentos do joelho após ser atingido por um tranco ques-tionável de Dan Hinote, do Avalanche, ainda durante a pré-temporada. O infeliz episódio destinou Kronwall a cinco longos meses de recupe-ração. O mais curioso é que o jogador sequer estava escalado para aquela partida amistosa. Jamie Rivers, que deveria jogar, machucou-se no aquecimento e foi substituído às pressas.

Em seu primeiro lance na temporada, Kronwall mostrou porque será em pouco tempo um dos jogadores favoritos da torcida: desferiu um open-ice hit (aquele tipo de tranco em gelo "aberto", frente a frente) em Jay McClement, levando o adversário ao chão. Ombro no peito, jogada limpa.

O defensor é reconhecidamente um demolidor. Faz a torcida se lembrar de Vladimir Konstantinov pelo seu estilo em desferir trancos. Mas Kronwall vai além: é exímio patinador, ataca com inteligência e chuta muito bem. Sem dúvida alguma está entre os três melhores defensores do time.

O primeiro período do jogo não foi feliz para os Wings, que saíram derrotados por 2-0. Ambos os gols foram marcados em jogadas com muita gente à frente do goleiro Manny Legace, que nada pode fazer. O que se viu a maior parte do período foi o contrário do que se esperaria de um jogo entre Red Wings e Blues: na verdade quem dominou os primeiros 20 minutos foram os visitantes.

De volta para o segundo período pela segunda vez em poucos dias a torcida pôde resgatar velhas e queridas memórias. No jogo anterior, contra o Minnesota Wild, o treinador Mike Babcock iniciou a partida com cinco suecos como titulares. A "Conexão Sueca". Para um time com sete jogadores provenientes do país escandinavo nada mais natural, mas vá dizer isso aos atletas. Todos ficaram emocionados. Contra os Blues o primeiro gol foi marcado pela linha sueca. Henrik Zetterberg lutou pelo disco próximo a linha azul, passou para Lidstrom, que passou para Kronwall, que fez um passe cruzado perfeito para Zetterberg, que por sua vez fez o mesmo para Mikael Samuelsson à frente da rede marcar. Uma das mais belas jogadas ofensivas do time na temporada.

E onde entra a torcida nisso? Simples: se você conhece a história da liga entre 1995 e 1997 sabe que existiu um seleto grupo de russos, conhecido como "Quinteto Russo", que varreu a América. Vyacheslav Kozlov, Sergei Fedorov, Igor Larionov, Vladimir Konstantinov e Slava Fetisov eram jogadores dos Red Wings, recordistas históricos em vitórias em 1996 e campeões no ano seguinte. Para a torcida, ver novamente uma linha inteira de jogadores de um mesmo país soa como uma volta aos tempos de glória.

O período foi todo dos Wings, mas o placar terminou mesmo favorável aos Blues, graças ao bom jogo do goleiro Curtis Sanford e do defensor Barrett Jackman.

O último período marcou a virada dos donos da casa. O gol de empate saiu do taco de Brendan Shanahan, em chute certeiro da linha azul, após boa jogada criada por Pavel Datsyuk em seu melhor estilo de condução de disco ao longo do gelo.

Mas faltando pouco mais de cinco minutos para o fim os Blues tiveram a grande oportunidade de matar a partida: vantagem numérica de dois homens por vinte segundos. Porém no gelo estava o Capitão América, que interceptou um passe atrás do gol de Legace e entre três adversários dominou e rifou o disco com maestria. É por isso que aos 44 anos Chelios ainda joga 20 minutos por noite na NHL.

A vitória saiu do taco de Zetterberg, aproveitando o rebote do péssimo chute de Andreas Lilja defendido por Sanford. Lilja saía do banco de penalidades quando recebeu o disco e partiu em velocidade em direção ao gol. Detalhe para a estratégia de Babcock nos momentos cruciais do jogo, quando havia face-off na zona defensiva do time: o treinador escalava dois centrais entre o trio de atacantes no gelo. Geralmente era Steve Yzerman e mais um, porque o capitão é reconhecidamente um dos mais habilidosos da liga no quesito. E no caso de o juiz implicar com o jogador na primeira tentativa, ocorria a substituição, e aí os Wings tinham mais um especialista no gelo para tentar não perder a disputa de disco. Não me perguntem por que o juiz manda trocar o jogador, eu nunca soube.

Fim de jogo, vitória dos Wings por 3-2.

Red Wings x Avalanche
No terceiro confronto entre os rivais na temporada, os Wings nova-mente levaram a melhor, ampliando a vantagem na série para 3-0, mesmo placar do jogo.

O jogo seguiu empatado em 0-0 até o terceiro período, mas não faltou emoção nos 40 minutos iniciais, onde os grandes nomes foram, é claro, os goleiros. Legace e David Aebischer atuaram com muita segurança, com ligeira vantagem para Legace por ter sido mais exigido.

É necessário comentar que o elenco do Avalanche está muito longe daquele que acompanhamos nos últimos anos. Brett McLean, Brad Richardson, Cody McCormick, Brad May são alguns dos questionáveis. As ausências de Milan Hejduk e Steve Konowalchuk colaboram para que as linhas estejam preenchidas com alguns jogadores de qualidade duvidosa, mas definitivamente esse time não vai ter muito sucesso na temporada, a menos que o outrora genial Pierre Lacroix mexa-se no dia-limite de trocas.

Os Wings tiveram duas oportunidades não aproveitadas em vantagem numérica antes de ter início o festival de penalidades apitadas pelos árbitros contra a equipe. O narrador e o comentarista da NBC por três vezes questionaram a arbitragem, mas a justiça foi feita e o Avalanche não conseguiu aproveitar os preciosos minutos.

Em todo o jogo os Avs desperdiçaram sete oportunidades. Mas não é justo culpá-los, afinal o time de matar penalidades dos Wings não sofre gols desde 24 de janeiro, ou seis jogos, sendo perfeito também contra Nashville Predators, Vancouver Canucks, Dallas Stars, Wild e Blues. Desde então foram 35 vezes em desvantagem numérica, nenhuma resultando em gol.

Especialmente na tarde de sábado em Denver os Red Wings confirmaram sua força nesta situação de jogo. Três de seus principais matadores de penalidades, Kris Draper, Zetterberg e Lidstrom, foram penalizados consecutivamente. Especialmente os dois minutos de Lidstrom no banco são problemáticos, afinal o defensor geralmente fica no gelo durante todo a vantagem numérica do adversário. Mas os Wings não sofreram gols, graças à profundidade de jogadores especialistas em defender.

Tamanha excelência levou o time ao segundo lugar da liga no quesito, com 86,5% de sucesso. Paralelamente, o time de vantagem numérica é disparado o melhor, com 24,4%, inclusive com uma média de gols mar-cados superior ao recorde histórico da liga, pertencente ao Pittsburgh Penguins. Os Wings estão no caminho para fazer história mais uma vez, assim como fez Yzerman, que dia desses marcou o 200.º gol em vantagem numérica na sua carreira.

O aproveitamento não foi mantido contra os Avs, marcando o segundo jogo seguido do time sem um gol em vantagem numérica. Até a partida contra os Blues foram 15 jogos consecutivos com pelo menos um gol.

Mesmo sem gols os times especiais das duas equipes foram decisivos na partida. No primeiro gol, os Avs desperdiçaram uma oportunidade com um homem a mais no gelo, inclusive com um breakaway de Alex Tanguay defendido por Legace. Enquanto Chelios impedia o rebote de Tanguay, Johan Franzen rifou o disco nas bordas, por cima dos adver-sários, encontrando Zetterberg na zona neutra. O sueco conduziu-o e fez o passe preciso para Dan Cleary marcar seu terceiro gol na temporada, cara-a-cara com Aebischer.

No segundo gol a história foi parecida. Legace salvou um breakaway de McLean após falha de Chelios, que escorregou no gelo, os Avs não aproveitaram mais uma vantagem numérica e na seqüência do lance Rob Blake perdeu o disco na linha azul para Tomas Holmstrom, que passou a Samuelsson chutar e marcar.

Com o placar praticamente definido, com menos de dois minutos para o fim um passe longo de Jason Williams vindo da defesa apanhou Robert Lang em breakaway, que ele não desperdiçou, dando números finais ao confronto.

Foi o quarto shutout de Legace na temporada, o décimo de sua carreira, estabilizando-se como o goleiro número um da equipe e alcançando Dominik Hasek, do Ottawa Senators, na liderança da liga em média de gols sofridos por jogo. No dia em que completou 33 anos, Legace deu o maior presente que a torcida poderia querer.

As linhas
Embora Babcock tenha feito muitas experiências na temporada, com o propósito de fazer com que os jogadores se entrosem a quaisquer companheiros, ultimamente as linhas do time estão como dispostas abaixo.

Ataque:
Draper-Datsyuk-Shanahan
Yzerman-Lang-Williams
Franzen-Zetterberg-Samuelsson
Maltby-Cleary-Holmstrom

É maravilhoso ver Yzerman atuando novamente em uma linha ofensiva e passando minutos em vantagem numérica. Inclusive o Capitão teve boas oportunidades para marcar nos dois jogos comentados acima. No gelo Yzerman demonstra boa evolução, distribuindo trancos e patinando razoavelmente bem. Para quem começou a temporada na quarta linha, com poucos minutos de jogo, estar em uma linha ofensiva é sinal claro de melhora. Já tem torcedor questionando o motivo de ele jogar "apenas" 12 minutos por noite!

Babcock tenta resgatar Draper escalando-o em uma linha ofensiva, também provendo a linha de força física e liberando Datsyuk e Shanahan para atacar mais. Draper, provável titular da Seleção Canadense, está devendo em gols na temporada, embora seja excelente defensivamente.

Defesa:
Lidstrom-Lilja
Schneider-Chelios
Kronwall-Woolley

Com o retorno de Kronwall sobram menos minutos para o veterano Woolley, que em nada compromete a equipe. Mas quem abraça cada vez mais tempo de gelo é Lilja, outro que demonstra ótima evolução ao longo da temporada. Finalmente o defensor parece acostumado a jogar pelo lado direito do gelo, já que o esquerdo é registrado em nome de Lidstrom. Lilja inclusive tem atuado bastante matando penalidades.

Vantagem numérica:
Holsmtrom-Datsyuk-Zetterberg, Lidstrom-Schneider
Lang-Yzerman-Shanahan, Kronwall-Williams

Com Lidstrom e Schneider atrás, é certeza de muito perigo em vantagem numérica. É impressionante como esta dupla de defensores chuta. Os gols de Schneider, então, parecem repeteco um do outro. Disco rolado pra ele e bum!, um foguete pra cima do goleiro adversário. Não tem defesa, é praticamente chutar em rede vazia.

Outro diferencial do time em relação aos demais da liga é a presença de Holmstrom. O jogador fica como uma parede à frente do goleiro adversário, encobrindo a visão e tentando desviar um chute.

Desvantagem numérica:
Maltby-Draper, Lidstrom-Chelios
Cleary-Franzen, Schneider-Lilja
(Zetterberg, Kronwall)

A dupla Maltby e Draper é eterna em Detroit. São os dois maiores especialistas da liga na situação, tanto que já fizeram parte da Seleção Canadense. Muita velocidade e várias oportunidades de marcar gols são a marca registrada dos dois.

E ainda há Cleary e Franzen, este último apelidado de "mula", pela forma como treina duro. Muita velocidade e dedicação ao time. Quando necessário Zetterberg também mata penalidades, porque ele joga muito bem tanto ofensiva quanto defensivamente.

Aliás, Zetterberg merece um capítulo à parte no texto. Nas palavras de Babcock: “Qualquer um que jogar com Zetterberg estará em boa fase”, declarou o treinador. “É certeza. Se alguém não está bem, nós o colocamos com Hank e então eles se dão bem.” Esta declaração é proveniente da atual seqüência de gols de Samuelsson, que marcou nas últimas três partidas, após passar 13 jogos em branco. Adivinhe: desde então Samuelsson é companheiro de linha de Zetterberg.


Humberto Fernandes, cursando o sexto período de Administração, não tem tido muito tempo para contribuir com a TheSlot.com.br .
INDEFENSÁVEL O melhor aproveitamento em vantagem numérica da liga é liderado pelo chute certeiro de Mathieu Schneider. Quantas vezes na temporada já não vimos o defensor frente a frente com o goleiro estufando as redes? (Jerry S. Mendoza/AP - 01/02/2006)
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Página publicada em 8 de fevereiro de 2006.