Outro dia li por aí que Ken Hitchcock, técnico dos Flyers, é um fanático pela Guerra de Secessão norte-americana, daqueles que entendem perfeitamente suas ramificações. Quando perguntado se ele poderia se comparar com algum general da época nesta temporada, em que o time já perdeu 350 jogadores/jogo por contusão, Hitchcock citou o nome de um tal de A.P. Hill, provavelmente uma incógnita para qualquer brasileiro.

Felizmente, ele explicou o porquê, que, ao menos para nós, é o mais importante: "Hill lutou pelos confederados e perdeu um monte de soldados, então ele tinha de estar constantemente se reagrupando."

Como bom fanático que sou por guerras, pesquisei no Google e descobri que Ambrose Powell Hill era um dos mais hábeis comandantes de divisão em batalhas entre os confederados, liderados por Robert E. Lee. Ele liderou a sua rápida e perfeitamente denominada Divisão Leve em diversos combates sangrento — Antietam, Chancellorsville, Gettysburg, Wilderness — com sua indefectível camisa vermelha de batalha. Muitas vezes ferido, e freqüentemente doente durante a guerra, Hill se acostumou a viajar com uma ambulância.

Acho que Hitchcock deve estar achando essa última uma boa idéia.

Seu time passou quatro meses sem repetir a mesma escalação em mais de dois jogos seguidos por conta de contusões, e apenas um jogador, o ponta direita Mike Knuble, não ficou de fora de jogo nenhum (ainda). O capitão Keith Primeau não joga desde 28 de outubro e não deve voltar nesta temporada, cortesia de uma síndrome pós-concussão, o mesmo problema que tem deixado os defensores Kim Johnsson (23 jogos perdidos até o fim de semana) e Chris Therien (20 jogos) de fora desde fevereiro. O artilheiro do time, Peter Forsberg, ficou fora de 17 partidas, com problemas na virilha e na perna, e o sólido zagueiro Eric Desjardins perdeu 37 jogos, graças a uma contusão no ombro.

Você acha que a lista já está grande o bastante? Então adicione a estrela em ascensão Joni Pitkanen, um defensor que é o bastião da vantagem numérica dos Flyers, cuja hérnia o deixou na enfermaria por 22 jogos, o mesmo número de um colega finlandês, o atacante Sami Kapanen, este por uma contusão no ombro direito.

Eu poderia continuar listando as contusões. No dia 17 de dezembro, o Philadelphia não pode escalar nada menos que nove titulares por con-tusão.

"Eu sinto como se tivesse treinado quatro times diferentes neste ano", brinca Hitchcock. "Nunca passei por nada parecido. O que as pessoas não entendem é que, quando um jogador volta de uma contusão séria, leva algum tempo para ele recobrar sua confiança. Pitkanen ficou parado por sete semanas, mas levou outras cinco para ele voltar ao seu melhor jogo. Nas costas da camisa vai o mesmo nome e o mesmo número, mas não é o mesmo jogador."

O surpreendente é que, enquanto a enfermaria dos Flyers fica fazendo check-in e check-out de jogadores, o time conseguiu se manter no topo (ou próximo do topo) da Divisão Atlântico. Depois de derrotar o New York Islanders por 4-1 no domingo, o Philadelphia estava apenas dois pontos atrás do líder New York Rangers.

Os estepes do time estão atuando muito melhor do que se poderia esperar. Quando o goleiro Robert Esche sofreu uma contusão na virilha que o deixou de fora de 20 jogos, Antero Niittymaki, de 25 anos, assumiu o posto de titular e, durante a série fora de casa mais longa da NHL nesta temporada, levou o time a uma campanha de 8-2-1. Pouco depois, ele ajudaria a Finlândia a conquistar a medalha de prata nas Olimpíadas de Inverno, quando ele foi eleito o MVP, e, apesar de Hitchcock não admitir, Niittymaki parece ter tomado a posição de Esche.

No total, 12 novatos defenderam as cores dos Flyers nesta temporada e contribuíram com 56 gols e 138 pontos. Três deles — Jeff Carter, Mike Richards e R.J. Umberger — estão entre os 20 maiores artilheiros novatos.

"Você não quer que ninguém se machuque, mas [as contusões] deram uma oportunidade aos mais novos", observa Carter, primeira escolha do Philadelphia em 2003, que já tem 20 gols. "Fomos jogados no fogo."

"Em dezembro e janeiro, tivemos um período em que todo mundo que estava em condições de jogo atuaram em toda e qualquer situação", lembra Richards, de 21 anos, um central que emergiu como um dos melhores matadores de penalidade do time. "Acho que já joguei com quase todo mundo. Tem sido um ano empolgante."

Agora que o Philadelphia está relativamente saudável (Primeau, Johnsson e Therien ainda estão de fora), Hitchcock acredita que a experiência, fez com que os jogadores ficassem mais próximos: "Espero que não passemos por essa situação novamente, mas é assim que você constrói um time, pela adversidade. Não é durante os momentos bons. Esses caras não ficam se lamentando. Eles seguraram a barra. Quando as coisas estavam difíceis, ganhamos vários jogos na base da pura emoção."

Emoção não vai ser suficiente para carregar os Flyers, um time que aspira à conquista da Copa Stanley, ao longo da jornada iminente pelos playoffs. Eles também vão ter de diminuir o número de gols sofridos. Liderado pela produtiva linha de Forsberg (19 gols, 54 assistências), Simon Gagné (42, 30) e Knuble (31, 29), o Philadelphia é o sétimo me-lhor ataque da liga, mas também a 11.ª pior defesa e ocupam a 26.ª colocação em desvantagem numérica.

"Na defesa, ainda falta a continuidade", aponta Hitchcock. "É aí que as contusões aparecem nas estatísticas. Sem Primeau para colocar contra os melhores jogadores adversários, ainda não tivemos uma linha de choque neste ano."

Isso pode significar problemas nos playoffs, quando o estilo de jogo está mais para um cerco à Stalingrado que para um ataque à General Custer — hum, acho que estes não foram bons exemplos de sucesso. O que, aliás, nos leva ao destino do General A.P. Hill. Há exatos 141 anos, em 2 de abril de 1865, sete dias antes de Lee se render, Hill ficou sabendo que os ianques tinham furado a linha de defsa rebelde no cerco a Petersburg. Heroicamente, levantou-se de seu leito na enfermaria, a fim de liderar suas tropas, mas acabou cruzando com dois soldados da União e foi morto com um tiro certeiro no coração.

Hitchcock espera que seu time não sofra o mesmo destino.

Os Penguins têm 3-3-1 na série contra o New Jersey na temporada regular e podem vencê-la com uma vitória amanhã, na Continental Airlines Arena, em Nova Jersey. Só que, se eles o fizerem na prorrogação ou nos pênaltis, os Devils também poderão dizer que venceram a série, porque ambos os times terão campanha de 4-3-1. Essa anormalidade estatística é possível porque a NHL separa derrotas na prorrogação ou nos pênaltis de derrotas no tempo normal, mas trata igualmente todas as vitórias.

E há a chance de uma peculiaridade ainda maior na série dos Penguins contra os Islanders: ambos os times ganharam três dos seis jogos disputados até aqui, mas todas as vitórias do time de Nova York foram nos pênaltis, enquanto os Pens venceram duas vezes no tempo normal e uma na prorrogação.

Assim, o Pittsburgh tem 3-0-3 contra os Isles, que, por sua vez, têm 3-2-1 contra os Penguins. Isso significa que se os Islanders vencerem os dois últimos jogos entre os times (nos próximos dias 15 e 17) ambos os times poderão se declarar vencedores da série. No caso dos Penguins, eles o fariam apesar de ter perdido cinco dos oito jogos disputados.

Vai entender... (A.G.)


Alexandre Giesbrecht, 29 anos, agora é um homem casado.
NOVO TITULAR? O goleiro Niittymaki parece ter roubado a posição do antigo titular Esche (George Widman/AP - 28/03/2006)
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Página publicada em 5 de abril de 2006.