É. Definitivamente, não tem jeito.

Mudaram o treinador. Jacques Martin era muito educado, sensível e apegado à estratégia acima da garra, portanto não se encaixava no papel. Então, trouxeram Brian Murray para ser o salvador da pátria.

Trocaram Radek Bonk e Marian Hossa, acusados de amarelões e pouco afeitos ao sacrifício, característica fundamental na fase final da temporada. Trouxeram até um goleiro que já havia provado ser um vencedor nato, um dos melhores do jogo. Somente para ele desapontar e se esconder, sendo vítima inclusive de brincadeiras na fase final (procurar Hasek no Scotiabank era tão divertido quanto procurar Wally naquele livro infantil).

Até a sorte conspirou a favor dos Senators. A criação do teto salarial permitiu o nivelamento de equipes, as mudanças de regra favoreceram os times que atuavam de forma mais ofensiva, utilizando-se de velocidade — o que levou a franquia a ser considerada a franquia-modelo da nova fase da NHL. Até mesmo os velhos e malvados algozes de sempre, os vizinhos de azul de Toronto, ficaram de fora da festa dos playoffs para facilitar um pouquinho a vida dos torcedores da capital canadense.

Nada disso foi suficiente. Os Senators até passaram bem e com certa facilidade pela primeira batalha dos playoffs — mas não antes de sofrerem um baque com a derrota dentro de seus domínios para o pior classificado da pós-temporada, o Tampa Bay Lightning. Frente aos organizados e velozes Sabres da cidade de Buffalo as falhas da equipe ficaram absolutamente expostas. E aí vai o mais engraçado: as falhas são exatamente as mesmas de anos e anos anteriores:

Falhas do goleiro: Os Sens têm mania de atuar com goleiros que decepcionam na pós-temporada. Desde o estigma de Ron Tugnutt, passando pelo esquecível Tom Barasso, chegando aos frangos de Patrick Lalime, terminando agora com o novato Ray Emery. Não, ele não pode ser o culpado único. Mas, tivesse ele feito uma ou duas defesas daquelas capazes de segurar o placar, a história poderia ter sido outra.

Falta de raça:
Em todas as eliminações anteriores (com exceção daquela fatídica eliminação para os Devils), os Senators não foram superados no talento, nem na capacidade, mas sim na vontade. Como diriam em inglês, os Sens foram "outworked" em todos os pontos do gelo. Difícil é descobrir de onde vem essa aparente falta de vontade: se é de algum bloqueio pelos insucessos anteriores, ou da excessiva confiança de que podem vencer a qualquer hora.

Daniel Alfredsson:
Sim, ele é ídolo em Ottawa, e é muito dubitável que algo vá mudar por uma má pós-temporada. Mas não é a primeira vez que ele, como líder e capitão da equipe, fracassa. Alfredsson parecia se esconder na maior parte do jogo, e, quando decidia jogar, exagerava no individualismo, perdendo discos fáceis e permitindo contra-ataques constantes.

Más contratações na data-limite:
Quando o melhor nome contratado pouco antes da data-limite de trocas é Peter Bondra, já com seus melhores dias passados para trás, percebe-se como a coisa está feia. Não foi diferente nesta temporada: Arnason, trazido para centrar a segunda linha dos Sens, nem fechou a temporada com o time principal, sendo barrado durante toda a série frente aos Sabres.

Tudo bem, não se deve tirar os méritos dos Sabres, que vieram com muita vontade, e com jogadores surpreendendo, como Drury (como sempre), Connolly (alguém lembra do guia da temporada?), Pominville (sem dúvida, candidato à surpresa dos playoffs) e todo um coro disposto e equilibrado. Mas a verdade no fim das contas é que os Sens perderam para eles mesmos.

Os dados não mentem: foram quatro derrotas, sendo as quatro por apenas um gol de diferença, e três delas no tempo extra. Foram, ainda, duas derrotas nas partidas iniciais, quando jogava frente a sua torcida. Assim, dizem que a série foi equilibrada e que poderia ter pendido para qualquer lado. A verdade é que não, isso não aconteceria. Justamente porque o que faltou aos Sens foi o que sobrou aos Sabres: vontade e coragem de seguir em frente.

Por isso, voltamos ao velho clichê: pensar no futuro. Para a próxima temporada, muito provavelmente Wade Redden ou Zdeno Chara não estarão de volta, devido aos seus salários. Fora isso, o próprio GG John Muckler já afirmou que deve mudar pouco o time, por acreditar estar com as mãos em um elenco "pronto para vencer, mas com medo de fazê-lo" pelas palavras do próprio. Até mesmo Dominik Hasek, fiasco símbolo da temporada, pode ser trazido de volta.

E lá vamos nós, torcedores do Ottawa, seguir nossa sádica trajetória de torcedores de uma equipe com cara e elenco de grande, mas eterna mentalidade de pequena.


Daniel Novais tentou rasgar a flâmula e quebrar a placa que tem dos Senators. Como não conseguiu, elas estarão ao seu lado a partir de outubro novamente.
 
WADE REDDEN Um dos poucos com motivos para ter más atuações, foi um dos poucos a apresentar um hóquei digno de playoffs (Tom Hanson/CP - 13/05/2006)
MIL PALAVRAS Quando uma foto vale mil palavras: Alfredsson, mais uma vez, é o rosto que melhor caracteriza o desapontamento de Ottawa (Jonathan Hayward/CP - 15/05/2006)
BRYAN MURRAY Ele terá muito trabalho para convencer os torcedores, mais uma vez, que seu time é capaz de conquistar os títulos (Jonathan Hayward/CP - 15/05/2006)
 
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Página publicada em 18 de maio de 2006.