Nesta temporada da NHL, principalmente agora nos playoffs, a posição
considerada mais importante para o sucesso ou fracasso de um time
na competição está sendo dominada por jovens revelações com pouca
(ou nenhuma) experiência em jogos decisivos. Outrora ilustres
desconhecidos para grande parte de suas próprias torcidas, hoje
em dia são ovacionados a cada defesa, fato constante na vida desses
goleiros-sensação!
Se no próximo ano continuarão em ascensão em suas carreiras, é
uma grande incógnita. Mas para Ilya Bryzgalov, Cam Ward, Cristobal
Huet, Vesa Toskala e Ryan Miller o importante é o presente. E
o presente deles não poderia estar melhor.
Theo who?
Está certo que para o francês Huet essa última afirmação não é
tão verdadeira. Afinal, ele não foi capaz de levar seu Montreal
adiante na Copa Stanley, graças à atuação de seu colega Cam Ward.
De todos os goleiros citados no parágrafo anterior, Cristobal
é o mais velho, com 30 anos, e já tinha alguma experiência de
NHL. Ex-reserva do Los Angeles Kings, transferiu-se para o Canadá
no meio desta temporada, para ocupar o lugar do contundido José
Théodore.
Na época ninguém o conhecia, e todos em Montreal apostavam no
jovem Yann Danis para jogar durante a recuperação de Théo. Mas
eis que Huet pega tudo. Sete shutouts, 92,9 % de defesas e seu
nome gritado pela torcida ensandecida do Centre Bell. Mesmo com
a troca de Théo por David Aebischer, vindo do Colorado Avalanche,
Huet continuou titular até o último jogo dos Habs na temporada,
e ele é a aposta para o futuro da franquia. Resta saber se ele
vai manter o alto nível apresentado em 2005-06 ou se fará como
Théo, que foi caindo de produção até sair pela porta dos fundos.
Seguindo os passos de Giguere?
Outro que tem um exemplo em casa é Ilya Brizgalov. O goleiro russo
de 25 anos, nascido em Togliatti, terra do monumento nasofálico
Alexei Kovalev, pode se espelhar em Jean-Sebastien Giguere. O
franco-canadense levou seus Mighty Ducks até a disputa da Stanley
contra os Devils de Martin Brodeur, ídolo de dez entre dez garotos
que sonham em, um dia, serem goleiros da NHL. Não ganhou o título.
Mas visibilidade, fama, prêmios, e um polpudo salário (assim como
Théo) vieram com suas defesas salvadoras nos playoffs de 2002-03.
Assim como Théo, de lá para cá Jiggy também não conseguiu manter
o nível, até que sua inconstância fez o time dar cada vez mais
chances a Martin Gerber. Insatisfeito com a reserva, Giguere ganhou
mais uma chance de ser titular absoluto com a ida de Gerber para
o Carolina Hurricanes. Mas não adiantou, porque agora tinha Bryzgalov,
que era o terceiro goleiro do time na última temporada.
Como nos playoffs a inconstância de Giguere continuou, ele foi
substituído pelo russo, que não saiu mais e ainda por cima conseguiu
três shutouts consecutivos, um no jogo 7 contra o Calgary, para
garantir a classificação, e outros dois contra os Avs, ajudando
muito na construção da varrida imposta aos jogadores do Colorado.
Prospecto top, goleiro top
Já Cam Ward, nova estrela do Carolina Hurricanes, não tem um modelo
para se espelhar. Como eu já frisei na coluna sobre o começo da
série entre seu time e os Canadiens, Ward foi a primeira escolha
do Carolina no recrutamento de 2002, 25ª escolha no total, e fez
uma belíssima temporada na AHL no ano passado, antes de chegar
à NHL para esta temporada. Assim como os outros goleiros citados
nessa coluna, o que motivou a ascensão dele foi o fracasso do
titular em defender o disco.
Nesse caso, o "culpado" por Ward jogar chama-se Martin Gerber,
o mesmo que saiu de Anaheim porque estava ofuscando o brilho da
estrela Giguere. Mas Gerber fez uma bela temporada, tanto que
Ward só apareceu para a fama nos playoffs, quando o titular não
segurou a onda de estar numa disputa pelo troféu mais bonito de
todos os esportes. Desde o segundo jogo da série contra o Montreal,
Ward foi dominante. Junto com Rod Brind'Amour — para quem
deveria ser erguida uma estátua em frente ao RBC Center —,
classificou seu time numa série que pendia para os canadenses.
Parou o ataque que tinha feito 12 gols em dois jogos, permitindo
apenas cinco gols nos quatro jogos derradeiros. E continuou fechando
o gol contra os Devils de Elias, Gionta e Gomez, ofuscando o brilho
de Brodeur.
Símbolo da reestruturação
O Buffalo Sabres quase saiu de Buffalo, quase foi à falência.
E como montar um time sem ter muito dinheiro? Apostando em jovens
talentos! E Ryan Miller é um deles. Não tão badalado quanto os
três primeiros goleiros citados, ele foi a aposta do time desde
a temporada regular. Nos playoffs segurou o ataque mais produtivo
da liga — Ottawa Senators — e um time cheio de estrelas
— Philadelphia Flyers —, e vem fazendo com que a torcida
dos Sabres esqueça Martin Biron, goleiro que um dia já foi uma
promessa da NHL mas que nunca se concretizou, assim como Mika
Noronen, outra ex-promessa, e um tal de Dominik Hasek...
Naboquem?
Como já está se tornando repetitivo, vou resumir um pouco: Evgeni
Nabokov vinha em má fase, então o técnico do San Jose Sharks resolveu
apostar no seu jovem goleiro reserva, Vesa Toskala, ainda durante
a temporada regular. O finlandês de 28 anos, que já era reserva
do time há um bom tempo, fez grandes apresentações e fez a torcida
nem se lembrar mais de Nabokov. Até o jogo 5 contra os Oilers,
no qual Toskala levou quatro gols em 11 chutes!
Vale aqui uma menção honrosa ao goleiro do Edmonton Oilers, Dwayne
Roloson. Ele já não é tão jovem, com 36 anos, ele já foi terceiro
goleiro do St. Louis Blues, esquentando banco para Fred Brathwaite
e Brent Johnson! Depois, transferiu-se para Minnesota, virou titular
e foi trocado para os Oilers, especialmente para os playoffs.
E fez bonito, justificando a contratação ao parar o talentoso
ataque dos Red Wings e a dupla sensação da NHL: Joe Thornton e
Johnathan Cheechoo.
Igor Vasconcelos escreveu
esta coluna ouvindo os quatro rapazes de Liverpool. Não os Beatles,
mas Echo & The Bunnymen, comemorando mais um título inesquecível
do Liverpool FC, os Canadiens do futebol!