Por: Thiago Leal

Jamaica abaixo de zero? Terroristas? Devotos de Hugo Chávez? Sul-coreanos preocupados com uma possível guerra nuclear contra seus irmãos de sangue do Norte? Dos confins de países emergentes surgem grandes — ou nem tão grandes assim — estrelas do hóquei no gelo!

Graeme Townshend - Asa-direito - Kingston, Jamaica
A Jamaica não vive só de "música" reggae, futebol e atletismo — além de plantas não-legalizadas em qualquer lugar que não seja Amsterdã. Nascido na capital da terra de Bob Marley, Graeme Townshend jogou hóquei no gelo durante os anos 80 e em parte dos anos 90, sendo um atacante durão, daqueles que não leva desaforo pra casa nem deixa defensor nenhum pôr o taco entre suas pernas.

Depois de uma rápida passagem em divisões menores da OHA, o atacante fora formado na liga universitária Eastern College Athletic Conference (ECAC), jogando pelo RPI Engeneers. Seu sucesso pelo RPI anotando 22 pontos na temporada 1988-89 o levou a assinar como agente-livre com o Boston Bruins. Naturalmente, Townshend passou primeiro pela educação das ligas menores, jogando pelo Maine Mariners da AHL pelo restante da temporada 1988-89 e toda a temporada 1989-90. Enquanto dava o sangue na AHL, o jamaicano abaixo de zero jogava esporádicas partidas na NHL substituindo um ou outro jogador machucado. Ficou no Boston/Maine até 1990-91, quando foi negociado com o New York Islanders.

Mais uma vez, disputou mais partidas pelo afiliado menor que pelo time principal. Entre raros jogos com os homens de Long Island, Townshend se divertia pelo Capital District Islanders da AHL, atuando em mais duas temporadas completas.

A história se repetiu na temporada 1993-94, quando foi trocado para o Ottawa Senators. Mais 14 partidas na NHL e o jamaicano jamais voltaria a ver as cores da Grande Liga. Peregrinou por mais cinco anos em ligas menores até pendurar os patins, totalizando 45 jogos, três gols, sete assistências e dez pontos na NHL.

Ed Hatoum - Asa-direito - Beirute, Líbano
Antes de todo o tumulto de 11 de setembro de 2001, antes dos mulçumanos ou qualquer descendente de árabe ser considerado (muito) mau nos Estados Unidos da América, ele estava lá! O libanês Ed Hatoum teve sua chance na NHL e na histórica WHA — e, claro, para não fugir à regra, não se deu tão bem assim.

Estreando pelo Hamilton Red Wings em divisões da OHA, Hatoum foi uma das principais estrelas do Fort Red Wings, da CHL, durante a virada da década de 60 para 70. Jogando pelos menores do Detroit, o libanês marcou 104 pontos em duas temporadas, intercaladas com algumas poucas partidas pelos maiorais de Detroit — além de uma rápida passagem no Baltimore Clippers.

Na temporada 1970-71, Hatoum viveu sua temporada mais longa na NHL, com 26 partidas pelo Vancouver Canucks — alternando com o menor Seattle Totems, por onde jogou 29 vezes. No entanto, seus míseros quatro pontos não foram suficientes para que voltasse ao time no ano seguinte. Em 1971-72, no entanto, Hatoum jogou uma temporada completa na AHL, defendendo o Rochester Americans. Depois de uma curta passagem pelo Chicago Cougars na WHA, intercalada por mais uma temporada na WHL com o Seattle Totems, ele conseguiu! Voltou a Vancouver! Desta vez, no entanto, para jogar a WHA com o Vancouver Blazers — eu disse que aos Canucks ele não voltaria.

Foram 37 partidas, 15 pontos e rebaixamento novamente a uma liga menor. Hatoum não teve novas chances nas Grandes Ligas e jogou mais três temporadas na WHL — uma com o San Diego Gulls e duas pelo Nelson Maple Leafs — até se aposentar, em 1976. Seus números na NHL são de 47 jogos, três gols, seis assistências e nove pontos. Para não ignorar a tão querida WHA, Hatoum jogou 53 partidas, marcou quatro gols, 13 assistências e totalizou 17 sensacionais pontos.

Don Spring - Defensor - Maracaibo, Venezuela
Sim, aqui está ele! O primeiro dos dois sensacionais venezuelanos que brilharam na NHL. Este aqui, claro, o menos sensacional dos dois. Mesmo assim, com um bom número de jogos pela NHL, sendo, de fato, um jogador de hóquei no gelo — e não dublê de tal. E, pra variar, jogador que atinge esse sucesso tem que ter cidadania canadense.

Mais um nome crescido em ligas universitárias, Spring iniciou sua carreira no hóquei jogando pela Universidade de Alberta, onde teve três temporadas razoáveis e suficientes para defender a Seleção Amadora do Canadá, jogando inclusive os Jogos Olímpicos de 1980 — o tal do "milagre". Apesar do fracasso do Canadá — eliminados ainda na primeira fase, após jogar a Chave Vermelha com União Soviética e Finlândia —, Spring conseguiu assinar como agente-livre e jogar três boas temporadas com o Winnipeg Jets, sem se submeter ao humilhante teste de Ligas Menores. Estreou na NHL em 1980-81, disputando 80 partidas e anotando 19 pontos.

Três temporadas depois, Spring viu sua carreira na NHL se encerrar prematuramente. Passou ainda pelo Sherbrooke Jets, na AHL, antes de jogar uma temporada na Alemanha Ocidental, pelo EHC Essen-West e em seguida se aposentar. Foram 259 jogos e 55 pontos pelo Winnipeg Jets na NHL. Um bom trabalho para alguém que nasceu na... Venezuela.

Richard "Rick" Chartraw - Defensor - Caracas, Venezuela
O primeiro, o melhor, o maior! Deixando Don Spring para trás, Rick Chartraw teve o privilégio não só de jogar na NHL como também de defender o Montreal Canadiens e Edmonton Oilers, jogar ao lado de Wayne Gretzky e levantar a Copa Stanley. Cinco vezes!

Cidadão canadense, claro!, e estadunidense, Chartraw foi a décima escolha geral no recrutamento da NHL em 1974 pelo Montreal Canadiens — depois de jogar pelo Kitchener Rangers na OHA. Apesar de passar suas duas primeiras temporadas intercalando entre os Canadiens e o menor Nova Scotia Voyageurs da AHL, Chartraw foi membro do time que conquistou a Copa Stanley em 1975-76, chegando atuar duas vezes na pós-temporada.

Depois de defender a Seleção dos Estados Unidos na Canada Cup de 1976, Chartraw entrou de vez para os Canadiens, jogando cinco temporadas com Le Glorioux e vencendo mais três Copas Stanleys consecutivas (1977, 1978 e 1979).

Durante a temporada 1980-81, o venezuelano da linha azul foi trocado com o Los Angeles Kings por uma segunda escolha no recrutamento de 1983 — que resultaria em Claude Lemieux.

Chartraw passou duas temporadas em Los Angeles e mudou-se para Nova York, onde defendeu os Rangers por mais uma temporada. Depois de começar mal a temporada 1983-84, jogando apenas quatro partidas pelos Rangers, Chartraw foi trocado junto ao Edmonton Oilers. Atuou metade da temporada no menor Tulsa Oilers e subiu ao time principal, fazendo parte da equipe que ganhou a Copa Stanley naquela temporada.

Com essa honra, o venezuelano despediu-se da NHL e do hóquei no gelo — pelo menos até a temporada de 1992-93, quando retornou ao rinque para disputar a PSHL pelo Los Angeles Jets. Quatro partidas depois, Chartraw se conscientizou que seria melhor ter abandonado mesmo os patins, e se aposentou novamente. Com a glória impagável de cinco Copas no currículo.

Jim Paek - Defensor - Seul, Coréia do Sul
Antes do sucesso de Richard Park na NHL e de certos goleiros japoneses assinarem contrato, um nativo do oriente patinava com tudo nos rinques de gelo norte-americanos. Nascido Chison Paek, a futura estrela da NHL se mudaria ainda criança para o Canadá, onde passou a ser chamado de "Jim" e se tornou um cidadão — adivinhem — canadense.

Paek foi escolhido pelo Pittsburgh Penguins no recrutamento de 1985, mas viveu cinco longos anos, incluindo quatro temporadas no Oshawa Generals, da OHL, até que pudesse estrear pela NHL. O fato marcante — pelo menos marcante para ele mesmo — ocorreu na temporada 1990-91, após ter defendido a Seleção Canadense. Foram apenas três jogos na NHL, sendo um de pós-temporada, mas acontece que esses três jogos foram suficientes para que o coreano tivesse seu nome gravado na Copa Stanley! E a honra se repetiu em 1992-93 e Paek foi o primeiro coreano a ter seu nome eternizado no maior troféu do mundo.

Em meados da temporada 1993-94, Paek foi envolvido numa troca junto com o companheiro de time Marty McSorley, passando a defender o Los Angeles Kings, onde encerrou a temporada. Em seguida, foi mandado para Ottawa. E depois da temporada 1994-95 o Coreano Eterno não voltou a jogar pela NHL.

Hoje Paek, após perambular anos por ligas menores — jogou oito temporadas na IHL, passando por três equipes diferentes—, chegando a jogar até no Reino Unido, trabalha como treinador assistente no Grand Rapids Griffins.

Números de Paek na NHL: 217 jogos e 34 pontos, sendo 5 gols e 29 assistências.

Richard Park - Asa-direito - Seul, Coréia do Sul
"O outro" coreano da NHL é atualmente estrela do New York Islanders. Cidadão estadunidense, Richard Park mora na Califórnia desde os três anos de idade, mas sua carreira no hóquei começou graças a sua adolescência no Canadá — caso contrário provavelmente jogaria beisebol.

Antes de avançar para uma liga juvenil de expressão, Park defendeu o Toronto Young Nationals na MTHL durante a temporada 1991-92. E que temporada! Foram 49 gols e 58 assistências, totalizando 107 pontos que levaram o menino de olhos puxados à OHL para a temporada 1992-93.

Enquanto seu conterrâneo ganhava Copas Stanley em Pittsburgh, Park se destacava no Belleville Bulls, assinava com o mesmo Pittsburgh em 1994 — parece que eles gostaram de coreanos — e defendia a Seleção Estadunidense Juvenil no Campeonato Mundial Sub-20 de 1995.

Em 1994-95, Park chegou a jogar uma única partida na NHL. Sua estréia de fato aconteceria na temporada 1995-96, marcando dez pontos para os Penguins. Na temporada 1996-97, no entanto, o novo coreano jogou apenas uma partida pelo time principal. Após jogar a IHL pelo Cleveland Lumberjacks, Park foi trocado com o Mighty Ducks of Anaheim, por onde jogaria mais duas temporadas.

Passados 1996-97 e 1997-98 jogando poucas partidas pelos Mighty Ducks e muitas partidas pelo menor Cincinnati Mighty Ducks, Park assinou como agente -livre com o Philadelphia Flyers.

A história se repetiu e o coreano jogou a maior parte do tempo no menor Philadelphia Phantoms. Resultado? Largou a Filadélfia em 1999 e se mudou para Utah, assinando com o Utah Grizzlies, por quem jogou a temporada 1999-00 da IHL. Passou a temporada seguinte revendo os amigos no Cleveland Lumberjacks e voltou à NHL em 2001-02, agora com o Minnesota Wild, jogando algumas poucas partidas pelo menor Houston Aeros da AHL. Viram a evolução do coreano? Dessa vez, mais tempo na NHL que na Liga Menor.

Seguiram as temporadas 2002-03 e 2003-04 com o Wild, até que veio o locaute, levando Park à Europa para jogar pelo IF Redhawks Malmö da Suécia e SCL Tigers Langnau da Suíça.

Passada a temporada negra do locaute, Park assinou como agente-livre com o Vancouver Canucks e depois de sua satisfatória passagem pela equipe, agora defende o New York Islanders, com 53 partidas e 15 pontos na atual temporada.

Vale destacar o seguinte: Richard Park jogou os três últimos Campeonatos Mundiais pelos Estados Unidos da América. Seus números na NHL são, até agora, 368 jogos com 107 pontos somados.

Na próxima semana mais jogadores vindo de lugares bizarros, como Taiwan, Tanzânia e uma lista de nomes do lugar que os americanos mais amam: a Irlanda!

Thiago Leal escreveu mais um capítulo dessa matéria e, falando em Irlanda, indica uma banda excelente originada da terra do trevo. U2? Que nada! The Pogues é o nome!
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Noite de hóquei e reggae! Graeme Townshend, primeiro e único jamaicano a pisar no sagrado gelo da NHL
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Sai pra lá, Nords! Jogando pelo Edmonton Oilers, o venezuelano Rick Chartraw não perdoava os rivais.
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O coreano eterno Jim Paek, atual assistente de treinador do Grand-Rapids Griffins, é o único em seu país a ter o nome eternizado na desejada Copa Stanley.
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O coreano Richard Park cresceu nos Estados Unidos, seleção que defende, e se desenvolveu no Canadá, mas está atrás de seu conterrâneo Paek. Você ainda não tem Copa, Park!
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Página publicada em 7 de fevereiro de 2007.