Por: Rafael Roberto

Esta é uma seleta lista composta por 17 jogadores. Nela estão jogadores como Wayne Gretzky, Gordie Howe, Brett e Bobby Hull, Phil Esposito, Steve Yzerman e Mario Lemieux. Pelos nomes que fazem parte dela, pode-se facilmente perceber que não é uma lista qualquer. Para aparecer nela, um jogador da NHL tem que marcar nada menos que 600 gols. Na última quinta-feira, com um gol de rede vazia em um jogo dramático, Joe Sakic marcou seu 600.º gol e foi o 17.º jogador na história da liga a conseguir esse feito.

"Um gol de rede vazia não é o jeito mais bonito para se conseguir isso, mas ainda assim é muito bom", disse Sakic após o jogo. "O que isso significa, eu não sei. Algum dia nós vamos descobrir. Mas foi muito bom que ele tenha vindo em uma vitória."

Quando marcou o seu 500.º gol, também no Canadá, mas em Vancouver, o Colorado Avalanche teve uma atuação medíocre e saiu do jogo derrotado por 3-1. Cem gols depois, Sakic marcou o primeiro e o último gol de seu time na vitória por 7-5 sobre o Calgary Flames, além de mais três assistências.

"Para mim, este é um número que eu definitivamente nunca vou alcançar", disse Milan Hejduk, que marcou três gols na partida. "Para Joe, é só outro número em sua grandiosa carreira."

Realmente. Sakic é um ícone do time que atua, especialmente nos dias de hoje, com um Avalanche em forte processo de reformulação na era do teto salarial. E Super Joe não é este ícone por ser a última grande estrela restante da época em que o Colorado estava constantemente brigando pelo título da Copa Stanley. É também por toda a sua qualidade, por tudo que ele já fez e vem fazendo. Sakic continua achando motivação para jogar bem, continua vencendo jogos, continua liderando um time sem falar ou se impor muito, mas através de exemplos.

Sakic tem sido, com sua discrição usual, o melhor jogador do Avalanche. Mesmo com campanhas irregulares do time nas últimas duas temporadas, ele vem marcando mais de um ponto por jogo em média num estágio da carreira onde a maioria dos atletas começa a perder seu poderio e a pensar em aposentadoria. Além dessa produção ofensiva, a maturidade de 37 anos e 18 temporadas faz do capitão uma peça fundamental para orientar e servir de exemplo para a nova safra de talentos que começa a nascer em Colorado.

É possível que algum desses novos jogadores seja tão rápido quanto Sakic, tenha uma precisão no chute tão boa, venha a marcar tantos pontos quanto ele. Mas é jogando junto com um ídolo, vendo ele jogar, que os novos atletas aprendem os principais fundamentos para se tornar bons jogadores. Desde coisas simples, como não temer arriscar o chute a gol, até coisas essenciais, como olhar sempre para a frente, preparar-se para cada temporada antes de ela começar e estar sempre em forma no decorrer dela.

Se Sakic vem tendo uma série quase constante de boas atuações, o mesmo não se pode dizer de seu time. O Avalanche faz uma trajetória que pode ser considerada qualquer coisa, menos estável. Para se ter uma idéia, o time não tem nenhuma grande seqüência de vitórias — nem de derrotas. Alterna entre jogos beirando a perfeição e jogos beirando a mediocridade.

A falta de padrão começa no gol, já que entre as traves não há um goleiro titular: há o que está falhando menos no momento. A troca é constante, não só entre jogos, mas durante as partidas. Mesmo sendo o preferido no momento, não é raro o Colorado começar um jogo com Peter Budaj e terminar com José Théodore. Contratado a peso de ouro na última temporada, Théodore foi a aposta do Avalanche que não vingou. Seu salário de mais de US$ 5 milhões pesa no teto pelo fato de não ser compensado dentro do gelo com atuações à altura. A atual temporada de Théo é um espelho da temporada do Colorado, a mesma alternância entre grandeza e mediocridade. Budaj também tem oscilado entre esses dois extremos, porém bem menos. Com números melhores, o goleiro tcheco possui um custo-benefício muitas vezes maior.

Logo à frente do gol os problemas continuam. A saída de Rob Blake deixou a defesa do Avalanche mais mole, sem tanta agressividade. O resultado é que, mesmo quando os goleiros estão jogando bem, a proteção deles tem falhado. Poucas vezes viu-se um Colorado que tomasse tantos gols originários de rebote que a defesa não consegue ganhar. E, para piorar, o setor está sofrendo com contusões. Jordan Leopold, que veio dos Flames para substituir Blake, só jogou quinze partidas em toda a temporada.

Se na parte de trás do rinque a situação vai de mal a pior, na parte da frente a coisa muda. O Avalanche tem o terceiro melhor ataque do Oeste. Isso se deve a alguns fatores, como uma diferença razoavelmente pequena de qualidade entre as linhas, já que em anos anteriores o Colorado tinha duas linhas excelentes e outras duas que entravam no gelo só para segurar o jogo e não tomar gol. Agora não há essas linhas de tirar o sono do treinador adversário em véspera de jogo, mas, em compensação, todas as linhas têm algo a contribuir ofensivamente. Além disso, há boa quantidade de jogadores novos e habilidosos dividindo o gelo com outros mais experientes. Paul Stastny, por exemplo, já é o novato que marcou mais pontos numa temporada de estréia nos 11 anos do Avalanche em Denver. Wojtek Wolski mantém as boas atuações da temporada passada, quando fez sua estréia.

Com a data-limite para trocas chegando, uma possível solução para minimizar os problemas do Avalanche seria a aquisição de um grande defensor, porém o time não tem o que dar em troca. Não valeria a pena abrir mão de um jogador como Marek Svatos, que tem mais umas dez boas temporadas (possivelmente algumas delas até mais que boas), por um grande defensor para salvar uma temporada perdida. Para o Avalanche, não há muito mais o que fazer nesta altura da temporada, resta apenas brigar com o time que tem pela última vaga, cada vez mais distante, para não ficar fora de uma pós-temporada pela primeira desde que a franquia se mudou para Denver. O negócio agora parece ser começar a pensar na próxima temporada tomando como exemplo seu próprio capitão: preparando-se bem para a cada temporada se manter motivado e olhar sempre para a frente, para o que ainda pode ser conquistado.

Rafael Roberto finalmente consegue escrever uma matéria para a TheSlot.com.br depois de uns 2531 anos.
Jeff McIntosh/AP
Sakic no vestiário após o jogo, onde foi aplaudido de pé por todos os seus companheiros, segurando o disco com que marcou seu 600.º gol.
(15/02/2007)
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Página publicada em 21 de fevereiro de 2007.