Por: Jacy Borreaux

Oh! O horror. O super clássico entre Canadiens e Maple Leafs nos reservou um tsunami de emoções. Aos Habs uma vitória simples bastava. Os Leafs precisavam dos dois pontos e também que os Devils batessem o New York Islanders. Para desespero dos dois grandes mercados midiáticos do Canadá e das duas maiores torcidas do país, nenhum deles estará na pós-temporada.

Mas, apesar de igualmente eliminado, tente agora tirar o sorriso do rosto de um torcedor do time de Toronto cada vez que eles cruzam com um Habitant. É uma tarefa impossível. É mais fácil ver Rick Nash roubar um disco em sua zona defensiva — se em algum dia ele passar por lá.

Após o hat trick natural de Michael Ryder toda a província de Quebec pensou que a oitava vaga do leste estava garantida. Mas aquela vantagem, aumentada por Christopher Higgins, foi apenas uma ardileza do destino. Logo o dissabor viria. Em pouco tempo a confiança deu lugar a aflição. A certeza deu passagem para a penúria. O Air Canada Centre foi o palco de um triste final de temporada.

Surpreendentemente o time começou essa mesma temporada de forma consagradora. Até a 34.ª partida a campanha era de 21 vitórias, oito derrotas e cinco derrotas na prorrogação ou nos pênaltis. Montreal chegou a flertar com a primeira colocação da conferência. Enquanto muitos times sofriam na mão dos Sabres, os Habs sucediam quando enfrentavam o time de Buffalo — de fato a campanha contra o vencedor do Troféu dos Presidentes finalizou em respeitáveis quatro vitórias, duas derrotas e duas derrotas na prorrogação ou nos pênaltis. Mas o Natal chegou, e o que é considerado uma época de fartura, confraternização e alegria para muitos, significou o começo do fim. As malditas renas trouxeram em seus trenós do mal um vírus intestinal para boa parte do elenco. Criaturas cruéis.

E a sucessão de fatos funestos seguiu: epidemia de gripe; Cristobal Huet contundido; a tragédia pessoal de Bob Gainey; pneumonia de Craig Rivet; vertigem de Alexei Kovalev; a infeliz entrevista do mesmo russo a um jornal obscuro de seu país de origem; a mediocridade superlativa de David Aebischer...

O único atleta que manteve uma regularidade absurda durante toda a temporada foi Sergei Samsonov. Sempre mal. Muito mal. Sequer foi relacionado para os últimos 13 jogos do time.

O time só voltou aos trilhos depois que o goleiro novato Jaroslav Halak recebeu sua chance em fevereiro. O eslovaco roubou vitórias para os Habs, envergonhando o suíço Aebischer. Halak foi fenomenal quando todos esperavam o contrário. Começando em 17 de março contra os Leafs, até 3 de Abril quando teve os Bruins como oponente, foram oito jogos e apenas uma derrota. Os Habs voltaram a brigar pela vaga, até que Huet voltou e o lado mental de Halak acusou esse dado.

Restavam Rangers e Maple Leafs. Dois jogos e a necessidade de uma vitória para atingir a pós-temporada. A atitude da equipe contra os Rangers foi mesquinha. Sem raça, sem entrega, sem determinação. Pareciam se poupar. Mas se poupar pra quê? Halak pagou o pato após o terceiro gol sofrido em 25 tacadas. Huet entrou. Oito defesas e Carbonneau colocou na cabeça que o francês já estava pronto para a partida derradeira. Senhoras e senhores, que engano.

Não serei ingrato a tal ponto de culpar Huet. Até se contundir ele vinha sendo o mais valioso atleta do time. Mas Carbonneau errou ao escalá-lo. Claramente o goleiro não estava em condições de atuar em um jogo dessa envergadura após longa ausência.

Com Higgins estabelecendo um decente 5-3 no placar, Huet tomou um gol cretino de Carlo Colaiacovo que mudou o rumo da partida. Depois vieram algumas penalidades estúpidas e a desgraça estava a caminho. Bryan McCabe e Kyle Wellwood capitalizaram essas oportunidades em vantagem numérica para os Leafs no início do terceiro período e Montreal perdeu a compostura. Apenas três tacadas no período final?

Já a Patrice Briseboilização de Alexei Kovalev é algo possível agora. A morosidade do russo nessa reta final irritou a nação tricolor. Kovalev terá que lidar com vaias. De uma temporada de 65 pontos para uma de 47 e com míseros 17 gols. Produção ridícula para um atleta que recebe US$ 4,5 milhões por ano. O Capitão Saku Koivu, ao contrário de Kovalev, elevou seus números. Atingiu 75 pontos, melhor marca na carreira. Mas o finlandês também vê questionada sua capacidade de liderança. Como os amigos podem ver, a temporada de caça às bruxas começou em Montreal.

E agora teremos novelas, tendo os contratos Sheldon Souray e Andrei Markov como tema. E Bob Gainey já avisou que, além de tentar assinar com os dois defensores, vai buscar agentes livres. Uma folga no teto vai aparecer com as dispensas certas de Janne Niinimaa e Aebischer. Se algum gerente geral eqüino resolver levar Samsonov, melhor ainda. Do contrário, os Habs vão pagar o que devem ao moscovita e tentar esquecer que um dia ele usou a camisa do clube.

Bem, até gostaria de escrever mais e tentar colocar um pouco de tempero nessa coluna, mas eu me sinto mal, ficar de fora do melhor da festa vem ficando cada vez mais freqüente. Pela quinta vez em oito temporadas vamos ver os playoffs pela telinha da CBC. E isso é brutal. Nunca em nossa história vimos tantos fracassos em tão pouco tempo. Com isso, meu grau de miserabilidade atingiu níveis tão altos que se a Angelina Jolie me vir nesse estado ela dá um chute no traseiros de seus órfãos africanos para logo em seguida me adotar. Que Maurice Richard olhe por nós!

Mas poderia ser ainda pior! Não foi graças a Wade Dubliekervitz, Dubwierel, Dub... um momento por favor... digitando Google ...digitando free porn pass... ops, força do hábito... digitando Islanders goaltenders... opa, bingo! Graças a Wade Dubielewicz, que segurou as pontas contra os Devils, classificando os Islanders. Foi divertido ver Don Cherry, no "Coach's Corner" — segmento do programa Hockey Night In Canada — esbravejando contra o horrendo Lou Lamoriello, "só" porque o indecente gerente geral/treinador deu um descanso ao incansável Martin Pierre Brodeur. Don, Copas ainda sobram por aqui!

Jacy Borreaux está muito puto, e nem três embalagens com seis Molson Ice cada ajudou a espantar a tristeza.
Paul Chiasson/AP
Sergei Samsonov tenta justificar o injustificável. Maior embuste da temporada Habitant.
Dave Sandford/Getty Images
Sem ritmo e desprovido de seus reflexos felinos, Huet falhou na trágica batalha contra os Leafs. Aqui ele é vazado por Bryan McCabe.
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Página publicada em 11 de abril de 2007.