Dentre os times da última malfadada expansão na NHL, o incontestável
mesmo é o Columbus Blue Jackets. Seguramente o time mais inofensivo
da liga, feito para ser saco de pancadas, pagar o salário de Sergei
Fedorov, pendurar um Rick Nash, brigar pela lanterna da Divisão Central
e tirar férias antecipadas para liberar a turma toda para jogar golfe.
Veja bem, não estou falando somente do time do Columbus hoje, trata-se
de todos os times que a franquia já colocou no gelo desde que surgiu.
Mas o assunto não é o Columbus — é que, quando se intitula uma matéria
com lixo no meio, isso acaba atraindo a infeliz franquia. O assunto
aqui é outro time de expansão que também penou para sair da lama inicial
— e foi o último a fazê-lo — apesar do reconhecido poderio ofensivo
cada vez maior da equipe. Trata-se, claro, do Atlanta Thrashers.
Depois de classificar-se pela primeira vez para os playoffs em grande
estilo, conquistando inclusive a Divisão Sudeste, a equipe foi varrida
rapidamente pelo NY Rangers na rodada inicial e agora, depois das férias,
ainda parece amargar a ressaca daquela eliminação. Até o fechamento
desta edição, na segunda-feira, o time contabilizava cinco jogos e cinco
derrotas. O pior retrospecto da liga.
Na estréia eles deixaram o time do Washington disparar a gol de tudo
quanto foi maneira. Perderam. Perderam para o Tampa Bay logo a seguir
também, e depois para o Ottawa. E aí veio o Buffalo.
Uma medonha goleada sofrida frente aos Sabres, por 6-0, mostrou que
o caminho parece ser mesmo de retorno ao lixo. O Buffalo meteu três
gols de vantagem numérica no primeiro período. Por outro lado o tido-como-poderoso
ataque dos Thrashers sequer conseguiu desferir um mísero disparo a gol
numa VN de dois homens, no mesmo período. Tétrico. E emblemático.
Na partida seguinte, novamente seis gols sofridos, desta vez na derrota
de 6-5 frente ao New Jersey. A melhor partida do time até aqui, mas,
ainda assim, repleta de deficiências explícitas. Sobretudo por permitir
a virada dos Devils, disparando apenas três vezes a gol no último período.
Sei não, começo a achar que toda aquela onda para cima da Kari Lehtonen
era fogo de palha. Ele já esteve abaixo do esperado na temporada passada,
quando se supunha que seria o verdadeiro debut dele na liga.
Chegou a ser barrado por Joahn Hedberg nos playoffs.
Meio que constrangido depois da derrota frente aos Devils, a sexta consecutiva
dele desde os playoffs, Lehtonen saiu-se com uma de que sabe que é um
bom goleiro, mas que precisa lembrar-se disso (!), e que todos, na verdade,
precisam jogar melhor. Declarações de jogadores geralmente são meras
reproduções de cartilhas, mas essa eu achei divertida... Precisar lembrar-se
de que é um bom goleiro é ótima. Claro, ainda há tempo — tanto de temporada
como de vida para ele —, mas o fato é que Lehtonen decepciona e não
é de hoje. Um começo de carreira em que você é tido como jovem promissor,
detentor da posição de titular e que acaba dividindo os trabalhos com
o reserva é um mau começo.
No geral as deficiências apontadas na equipe vão desde o macro — falta
de química no time, incapacidade de segurar uma liderança, times especiais
sofríveis — ao micro — excesso de penalidades cometidas, deficiência
em isolar o disco da frente da área do goleiro (tanto por parte de Lehtonen
quanto dos defensores).
E, com o péssimo começo, é evidente que o cargo de Bob Hartley balança.
Embora a NHL não seja como o futebol brasileiro, há limites para tudo.
Hartley já balançara nos anos anteriores à classificação, quando o Atlanta
vinha sendo o time do quase, do talento ofensivo desperdiçado. A temporada
passada arrefeceu a coisa, mas o lamentável começo trouxe a ameaça de
volta.
Parece mais que evidente que o poderio ofensivo do time, baseado em
dois jogadores extraordinários, não é suficiente para manter a regularidade
da equipe. Ainda que alguns coadjuvantes efetivamente sejam produtivos
para o conjunto, é justamente esse conjunto que anda faltando ao Atlanta.
O que não deixa de ser estranho, afinal o núcleo desse time é basicamente
o mesmo da temporada passada.
Extra: atualização em cima da hora
Esta matéria já estava pronta desde a segunda-feira. Eis
que hoje, quarta-feira, momentos antes de lançarmos a edição
no ar, vejo que o Atlanta perdeu mais uma (e mais uma vez levando de
zero) e, mais tarde, que o técnico Bob Hartley foi demitido.
Seis derrotas seguidas — na verdade são dez, se você
considerar as quatro da varrida nos playoffs passados — fazem
balançar qualquer coisa. E Hartley, que já esteve na corda
bamba outras vezes em Atlanta, paga o pato. É como Marian Hossa
disse (que, aliás, é que sempre se diz, em qualquer canto):
é mais fácil trocar o técnico do que um monte de
jogadores de uma só vez. E é mesmo. E talvez dê
algum resultado positivo, muito embora me pareça que o panorama
dos Thrashers vai mudar: a briga nesta temporada será para chegar
aos playoffs, nada de vencer a divisão novamente.
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![]() E tome gol nos Thrashers! Os Sabres não perdoaram e meteram seis, sem levar nenhum. |