Por: Thiago Leal

Dando continuidade à matéria iniciada na Edição 166, listando os jogadores que tiveram uma posição ruim em seu recrutamento, mas destacaram-se como grandes nomes da NHL, às vezes em detrimento até de escolhas número 1, este artigo traz alguns nomes mais recentes envolvidos nesta situação.

De quebra, ainda listamos quatro goleiros imprescindíveis para os anos modernos da liga que estavam lá embaixo na lista de escolhas.

Brad Richards — C — 64.ª escolha geral — 1998
No mesmo ano em que tiraram Vincent Lecavalier como escolha geral número 1, o Tampa Bay Lightning daria, duas rodadas depois, mais um passo importantíssimo para a conquista da Copa Stanley seis temporadas à frente: a escolha de Brad Richards — por sinal, um grande amigo de Lecavalier desde a adolescência. Fazendo o gênero "craque-habilidoso-que-joga-limpo", Richards é o tipo de jogador que marca gols a rodo e anota mais assistências ainda, e em 2003-04 protagonizou um fato curioso. Sempre que marcou gol na temporada e na pós temporada, o Tampa Bay Lightning venceu o jogo. E, por falar em pós-temporada, Richards foi o principal jogador do time naquela: marcou sete gols vencedores, batendo o recorde da Liga que pertencia a Joe Sakic, levando, de quebra, o troféu Conn Smythe. Richards segue em Tampa.

Pavel Datsyuk — C — 171.ª escolha geral — 1998
Com "apenas" 1,80m, Pavel Datsyuk era considerado muito baixinho para o esporte mais rápido no gelo. Ainda assim, a diretoria do Detroit Red Wings decidiu apostar naquele menino que jogava pelo Dynamo Yekaterinburg da Superliga Russa, recrutando-o no mesmo ano que puxou Jiri Fischer na 25ª escolha geral, onde o 1º foi Vincent Lecavalier pelo Tampa Bay Lightning. Depois de mais uma temporada com o Dynamo e duas atuando ainda na Superliga, mas pelo Ak Bars Kazan, Datsyuk estreou pelos Wings. E sua estréia não podia ter sido melhor: na temporada 2001-02, conquistando, de cara, a Copa Stanley, num time cheio de estrelas: Steven Yzerman, Darren McCarty, Sergei Fedorov, Brendan Shanahan, Igor Larionov, Brett Hull (com quem formava linha), Kris Draper, Luc Robitaille... Com a saída pouco a pouco dos nomes listados, Datsyuk foi assumindo o lugar de principal atacante dos Wings. Pasha, como é conhecido, chama atenção por sua habilidade em realizar dribles — o que lhe vale o apelido "Pavel Decks You" ("Pavel Te Dribla") — e também pelo jogo limpo dentro do rinque, pelo qual ganhou o troféu Lady Byng na temporada 2005-06. O único obstáculo em sua carreira parece ser uma certa fragilidade física, que já o afastou de momentos decisivos dos Wings, como a série contra o Mighty Ducks of Anaheim na primeira rodada da pós-temporada em 2002-03, quando os Wings foram varridos pela surpresa Anaheim. Datsyuk teve uma rápida passagem pelo Dynamo Moscow durante o locaute de 2004-05. Em seguida voltou aos Wings, com quem assinou por dois anos - por US$7,8 milhões. Datsyuk segue em Detroit e suas performances têm agradado tanto que teve seu contrato extendido por mais sete anos ao valor de US$46,9 milhões.

Maxim Afinogenov — RW — 69.ª escolha geral — 1997
Este habilidoso jogador russo jogou por quatro temporadas pelo HC Dynamo Moscou. Durante este período, inscreveu-se no recrutamento da NHL. Viu Joe Thorton sair como escolha número 1 e, o time que o recrutaria futuramente, o Buffalo Sabres, ficou com o goleiro finlandês Mika Noronen na primeira rodada. Afinogenov ainda teve que jogar 15 partidas pelo afiliado menor dos Sabres, o Rochester Americans da AHL, para provar que merecia jogar pelo time principal. Depois de 18 pontos com os Americans na temporada 1999-00, o Buffalo subiu Afinogenov. Seu rendimento imediato no clube nova-iorquino não foi tão empolgante quanto sua breve passagem pela AHL. De qualquer forma, chamava em Afinogenov sua habilidade em realizar assistências e sua resistência — até agora só uma grave contusão na carreira, durante a temporada 2002-03. Afinogenov foi crescendo aos poucos em Buffalo para tornar-se o que se esperava dele: o principal jogador da equipe. Participante de duas Olimpíadas de Inverno pela Seleção Russa (Salt Lake City 2002, onde conquistou a medalha de bronze, e Turim 2006, 4º lugar), a evolução deste jogador é visível, principalmente de seu controle sobre o disco, sendo detentor de uma impressionante habilidade de controlar seu jogo de cabeça erguida e com uma facilidade surpreendente. A única barreira à sua capacidade o pequeno rinque da NHL, em comparação aos internacionais onde Afinogenov tem mais espaço para realizar suas jogadas. Atualmente, Maxim Afinogenov é o jogador mais antigo no elenco do Buffalo Sabres e peça-chave para mais uma boa campanha do time.

Michael Ryder — RW — 216.ª escolha geral — 1998
Em 1998 a melhor escolha do Montreal Canadiens ficou bem abaixo de sua primeira escolha do recrutamento — que foi a 16ª escolha geral, o central Eric Chouinard. Sete rodadas e 200 escolhas depois, Michael Ryder foi recrutado. Por sua baixa posição no recrutamento, Ryder costumava indagar-se se iria algum dia de fato jogar pelos Habs ou se ficaria condenado às ligas menores. Passou por elas durante cinco anos até estrear pelos Canadiens na NHL, temporada regular 2003-04, onde fez um belo papel e marcou 63 pontos. Deste ponto em diante Ryder só viu sua carreira ascender e ganhar cada vez mais status em Montreal. Uma característica interessante no jogo cada vez mais ascendente de Ryder é que ele costuma preferir o gol à assistências. E foi dessa forma que, na última temporada, marcou um hat-trick em 07 de abril, contra os grandes rivais Maple Leafs. Concretizando cada vez mais sua condição de ídolo, Ryder chega ao auge de seu amadurecimento como jogador aos 27 anos. Precisa agora mostrar personalidade e levar os Canadiens à uma temporada competitiva. Ah, o Chouinard? Não se firmou nos três times da NHL que passou e hoje tenta a sorte pelo Straubing Tigers, da DEL.

François Beauchemin — D — 75.ª escolha geral — 1998
Escolhido, pelo Montreal Canadiens, na terceira rodada, o defensor François Beauchemin nunca teve muitas oportunidades no clube que o recrutou — só entrou no rinque com o Montreal em uma única ocasião, na temporada 2002-03. Em 2004, recebeu uma proposta de waivers do Columbus Blue Jackets e atendeu ao pedido, tendo ainda que jogar pela AHL, desta vez pelo Syracuse Crunch. Quando iniciou de fato sua carreira na pelos Jackets, uma troca envolvendo Sergei Fedorov mandou Beauchemin para o Anaheim Ducks. Dificilmente Brian Burke esperava que Beauchemin fosse ter essa importância toda para o time, uma vez que o gerente geral declarou que a troca do Fedorov estava mais baseada na questão do teto salarial. De uma forma ou outra, Beauchemin teve grande papel tanto na surpreendente pós-temporada 2005-06, quando o ainda Mighty Ducks of Anaheim chegou às finais de conferência, quanto, principalmente, na temporada vencedora 2006-07, onde, mesmo à sombra de Chris Pronger e Scott Niedermayer, Beauchemin tinha tanta vitalidade para a defesa dos Ducks que sua ausência por lesão contibuiu com uma má-fase da equipe durante a campanha. No final das contas, Beauchemin revelou-se um belo de um defensor para o Anaheim. E o Montreal mal testou este cidadão.

Debaixo dos paus — os grandes goleiros mal-recrutados
Alguns dos melhores goleiros da história moderna da NHL teve um posicionamento apagado nos recrutamentos da Liga. Segue abaixo quatro exemplos dessa posição tão importante para o esporte.

Dominik Hasek — 199.ª escolha geral — 1983

O Minnesota North Stars teve a primeira escolha geral de 1983, recrutando Brian Lawton. A primeira rodada do ano teve ainda Pat LaFonteine (3ª) e Steve Yzerman (4ª). Tom Barasso foi a primeira escolha do Buffalo Sabres naquele ano — e o primeiro goleiro a ser recrutado, sendo a 5ª geral. O tchecoslovaco Dominik Hasek deve ter perdido as esperanças até que a 199ª escolha, pertencente ao Chicago Blackhawks, chegasse. Finalmente o rapaz de 18 anos entraria na NHL. Ainda assim, espetou muito até estrear pela franquia: apenas na temporada 1990-91, em meros cinco jogos da temporada regular, atuando paralelamente pelo Indianapolis Ice da IHL. Não se firmou em Chicago e acabou se transferindo para Buffalo, onde finalmente deteve regularidade como goleiro na NHL. Sua primeira temporada em Buffalo foi em 1992-93. Seu auge foi 1997-98 — atuou 72 partidas em temporada regular e mais 13 de pós-temporada, seu recorde. E, no mesmo ano, conquistou a memorável medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Inverno Nagano 1998, com a Seleção Tcheca. Voltou para mais três temporadas em Buffalo, incluindo a disputa da Copa Stanley em 1999, onde travou um duelo particular com Ed Belfour, goleiro do Dallas Stars, e foi derrotado pelo gol ilegal de Brett Hull. Em 2001-02, mudou-se para Detroit como um reforço para os Wings — e voltou a disputar a Copa Stanley, finalmente a conquistando, sendo o primeiro goleiro europeu titular a conseguir o feito. Após o título, anunciou aposentadoria. Voltou atrás uma temporada depois, defendendo os Wings novamente em 2003-04. Passou brevemente pelo Ottawa Senators na temporada 2005-06 pós-locaute e voltou para onde gosta: Detroit. Por lá permanece.

Nikolai Khabibulin — 204.ª escolha geral — 1992
Mais um que viria a fazer parte do time vencedor do Tampa Bay Lightning, Khabibulin foi a 204ª escolha de um recrutamento cujo primeiro goleiro selecionado, Jim Carey, fora só a 32ª. Khabibulin vinha da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Inverno Albertville 1992 com a Comunidade dos Estados Independentes e, à época, atuava pelo CSKA Moscou. Estreou na NHL só em 1994, quando a franquia ainda estava em Winnipeg, e junto com ela mudou-se para Phoenix. Seguiu com os Coyotes até 1999, quando se desentendeu com a diretoria do clube. Os impasses entre o goleiro e o time o deixaram de fora da NHL — fazendo o goleiro atuar pelo Long Beach Ice Dogs da IHL, onde foi MVP da liga. Venceu a queda-de-braço em 2001, quando foi mandado para o Tampa Bay Lightning em troca de Ruslan Zainullin, Mike Johnson, Paul Mara e uma escolha de segunda rodada. E o rapaz justificou o investimento do Tampa: foi uma verdadeira parede para os Bolts em 2004, ano em que a equipe conquistou a Copa Stanley, principalmente na série final contra o Calgary Flames. Após o locaute, retornou para a NHL com o Chicago Blackhawks onde está até agora.

Evgeni Nabokov — 219.ª escolha geral — 1994
O californiano Los Angeles Kings tinha a sétima escolha geral, e recrutou um goleiro — Jamie Storr. Os San Jose Sharks, que na primeira rodada ficaram com o asa-esquerdo Jeff Friesen, recrutou apenas na nona rodada um jovem goleiro que o dirigente Tim Burke havia conhecido numa viagem à Rússia. O contrato de Nabokov só foi assinado em 1997, e ele veio para a América defender o gol do Kentucky Thoroughblades da AHL. Permaneceu na American Hockey League até 1999, jogando a última temporada no Cleveland Barons, então novo afiliado dos Sharks, e estreou na NHL em 1º de janeiro do ano 2000, substituindo Steve Shields numa partida contra o Nashville Predators. 18 dias depois, contra o Colorado Avalanche, estreava como titular. Mas Nabokov ainda era o reserva de Shields e tinha uma sombra no banco de reservas: Miikka Kiprusoff, chamado pela direção dos Sharks de "Goleiro do Futuro". Seria um modo de dizer que seria o próximo número 1? Certamente não. Com a contusão no tornozelo de Shields em 2001, Kiprusoff foi mandado para a AHL e Nabokov assumiu a posição. Foi bem? Venceu o troféu Calder Memorial, levou o time à pós-temporada e não deixou mais a trave dos Sharks. Até porque, hoje em dia, nem dá para pensar em Sharks sem Nabokov.

Miikka Kiprusoff — 116.ª escolha geral — 1995

Enquanto Jean-Sebastien Giguere saía na primeira rodada escolhido pelo Hartford Whalers, o finlandês Kiprusoff aguardou pacientemente até a quinta rodada para entrar na NHL, junto ao San Jose Sharks. Jogador do TPS da Finlândia, sua estréia na Grande Liga só veio acontecer em 2001. O problema de Kiprusoff nos Sharks é que ele esquentava o banco para um goleiro que havia sido recrutado um ano antes que ele e estreado também um ano antes: Evgeni Nabokov. Bom demais para ser reserva, Kiprusoff foi trocado com o Calgary Flames em 2003, onde, de cara, terminou a temporada regular com uma média de gols sofridos de 1,69 - um recorde na NHL atual — e levando o clube à final da Copa Stanley, onde pôde travar um duelo particular com Nikolai Khabibulin. Recentemente foi nomeado para os últimos três troféus Vezina, vencendo-o em 2006. É o goleiro que mais venceu jogos com os Flames numa mesma temporada, o que mais atuou pelo clube numa mesma temporada e o que mais somou shutouts numa mesma temporada.

ERRATA: Na edição anterior, primeira parte desta matéria, a foto que menciona o Mark Recchi na verdade é do seu colega de time Gary Roberts. Agradecimentos ao leitor Christian Nakada que chamou atenção pelo lapso. Obrigado, Nakada!

Thiago Leal manda um abraço ao amigo, publicitário e patrão Alexandre Giesbrecht pelo Dia do Profissional de Propaganda, comemorado neste 17 de outubro.
Dave Sandford/Getty Images
Hat trick contra o Toronto e status de ídolo para Michael Ryder, escolha de número 216 que sequer achava que jogaria na NHL.
Arquivo TheSlot.com.br
Sabe onde o número 75 François Beauchemin foi parar? Dica: olhe bem para o pequeno troféu que ele segura.
Nam Y. Huh/AP Photo
Milan Michalek cumprimenta a 219.ª escolha Evgeni Nabokov: os Sharks recrutaram um dos melhores goleiros da NHL.
Bill Boyce/AP Photo
Um raio cai duas vezes no mesmo lugar? Miikka Kiprusoff, mais um excelente goleiro recrutado pelos Sharks. Mas desse eles abriram mão.
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Página publicada em 17 de outubro de 2007.