Por: Alexandre Giesbrecht

Ao olhar para seu goleiro, a pergunta que a torcida dos Devils mais tem feito nas últimas semanas é: "Quem é esse cara e o que ele fez com o verdadeiro Martin Brodeur?" Não é para menos: Brodeur está tendo um de seus piores inícios de temporada como profissional. Seus números (campanha de 1-3, média de 3,26 gols sofridos e 87,9% de defesas) chegam a ser medíocres perto do que o pessoal em New Jersey se acostumou a ver ao lado de seu nome desde que ele despontou, em 1994 — quando ainda conquistou o Troféu Calder como melhor novato.

Ele, entretanto, ainda não parece preocupado, tanto é que brincou na terça-feira: "Eu nunca vejo as minhas estatísticas até elas ficarem boas." E ainda completou: "Talvez eu não as veja até o fim da temporada."

A situação realmente não é preocupante, porque a temporada está apenas no começo. Enquanto escrevo esta coluna, os Devils preparam-se para enfrentar os Penguins em Pittsburgh, e Brodeur pode muito bem calar a minha boca com uma de suas espetaculares atuações, tão comuns contra o time de Sidney Crosby. "Você tem de jogar 82 partidas em uma temporada para ver o tipo de temporada que você teve", explica o goleiro. "Se isolarmos quatro jogos, eu posso ser o melhor ou o pior goleiro da NHL".

É verdade, mas até sábado a coisa estava ainda pior, porque Brodeur tinha perdido as três partidas que começara. A vitória por 6-5 contra os Thrashers serviu para levantar seu moral, apesar da meia dezena de gols sofridos. Ele admite que não jogou bem — e nem poderia dizer o contrário, pois os cinco gols saíram em apenas 17 chutes.

Petr Sykora, hoje nos Penguins, que jogou por sete anos ao lado de Brodeur, não acredita que a "má fase" dure muito mais tempo. "Ele vai acabar com 50 vitórias de novo", analisa. "Eu não me preocupo com o Marty. Sei quão bom ele é. Só espero que ele não comece a melhorar justo contra os Penguins."

Ele tem bons motivos para acreditar na virada: "Houve umas mil vezes em que ele foi a diferença entre [os Devils] vencerem e perderem. Perdi a conta de quantas vezes nós não jogamos bem e ele venceu o jogo sozinho. Sem o Marty, eu nunca teria ganho nenhuma Copa Stanley."

Se o currículo impõe tanto respeito como diz Sykora, então como explicar o mau momento, ainda que curto?

O problema parece ser o esquema implantado pelo novo técnico, Bruce Sutter, que institui uma marcação mais agressiva por parte do time todo, então boa parte dos jogadores ainda está se adaptando. Para Brodeur, não deve ser tão diferente de dois anos atrás, quando ele teve mais borracha pela frente por causa da maior atenção dos árbitros aos lances de interferência. Ao final daquela temporada, qualquer dúvida tinha sido erradicada: os Devils foram o time com mais vitórias na liga, com um sistema defensivo bem implantado.

Neste ano, o plano é dar um pouco mais de descanso ao goleiro titular do que nas últimas temporadas, quando o camisa 30 começou a esmagadora maioria das partidas. Aos 35 anos, é bom se manter descansado para os playoffs. O problema é que isso significa dar mais tempo no gelo para Kevin Weekes, o mesmo que no ano passado aumentou os casos de calvície e quintuplicou o número de cabelos brancos entre a torcida dos Rangers. Ou seja, o descanso de Brodeur tende a ser maior do que nas temporadas passadas, mas também não pode ser muito maior, porque, quanto mais tempo Weekes estiver na frente das traves, menor é a chance de os Devils chegarem aos playoffs.

Como Brodeur não tem um histórico de contusões, com isso a torcida do New Jersey não precisa se preocupar. Aliás, nem com o mau início de seu ídolo, que não deve durar. O maior motivo de preocupações na região é justamente a ausência do time, que, enquanto espera pela inauguração de seu novo estádio, em Newark, vai jogar nove partidas fora de casa. O histórico é o responsável pelos calafrios.

Outros dois times deram início a uma temporada com pelo menos nove jogos seguidos fora de casa, o Quebec Nordiques de 1980 e o Carolina Hurricanes de 1999, que também esperavam pela mudança para novas arenas. Nenhuma das duas equipes chegou aos playoffs. Os Nordiques nunca se recuperaram de um início com 1-6-2, enquanto os Canes até não foram tão mal nessa primeira seqüência, acumulando 4-2-3, mas terminaram a temporada apenas dois jogos acima dos 50%.

Nenhum desses dois times, claro, tinha um goleiro como Martin Brodeur.

Alexandre Giesbrecht, 31 anos, redescobriu uma pérola trash dos anos 90, a música "Cinema", de Ice Mc. Ele só não sabe se isso é uma coisa boa ou ruim.
Doug Benc/Getty Images
Brodeur não está preocupado com o mau começo: "Você tem de jogar 82 partidas para ver o tipo de temporada que teve."
(04/10/2007)
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Página publicada em 17 de outubro de 2007.