Desde sua agressão covarde em Steve Moore durante partida entre o Vancouver Canucks e o Colorado Avalanche, na temporada 2003-04, que Todd Bertuzzi carrega um baita de um encosto sobre os ombros. Primeiro, veio a merecida e indefinida suspensão que o tirou do restante daquela temporada. Em seguida, de volta aos rinques após o locaute de 2004-05, período em que foi proibido de atuar em outra liga, Bertuzzi teve de encarar a fúria dos torcedores de Denver e da NHL como um todo, além, claro, do processo legal que sofreu e da multa e serviços comunitários que teve de pagar.

O problema é que, além de todos esses problemas legais, Bertuzzi tem sofrido de um azar incrível desde o caso Moore. Foi convocado para os Jogos Olímpicos de Inverno Turim 2006 onde a Seleção Canadense teve uma participação patética — Bertuzzi terminou os seis jogos que o time disputou com três assistências. Fez uma boa temporada 2005-06 com os Canucks, somando 71 pontos ao longo da fraca campanha do time, mas os problemas que conseguiu com a agressão em Moore, também refletidos na franquia, já não o permitiam permanecer em Vancouver. Para a temporada seguinte, foi envolvido numa troca que o mandou para Miami junto com Alex Auld e Bryan Allen para defender o Florida Panthers, que, como todos sabemos, liberou Roberto Luongo para atuar pelos Canucks.

Miami era a chance de redenção de Bertuzzi? Era o que todos acreditávamos. Tudo que se viu foi uma série de contusões, desde luxação nas costas até uma hérnia de disco. No total, Bertuzzi perdeu 66 jogos da temporada regular pelos Panthers, jogou apenas sete partidas e teve um bom rendimento de sete pontos. Foi uma das mais badaladas movimentações no dia limite de trocas, deixando Miami e rumando para Detroit, onde defenderia os Wings ao final da temporada e também pela pós-temporada. Apesar de ter sofrido uma luxação no pescoço e ter perdido o último jogo da temporada regular e os dois primeiros dos playoffs em Detroit, Bertuzzi jogou com alguma regularidade durante os playoffs pelos Wings. Pelo menos em termos de assiduidade. Nos 24 jogos de Bertuzzi pelo Detroit (oito de temporada regular e 16 de pós-temporada) foram apenas 11 pontos, bem abaixo das expectativas, não?

Não fazia sentido que o Detroit Red Wings assinasse o contrato de Bertuzzi ao final dessa experiência, e o clube não o fez. Ao final da temporada, o jogador tornou-se agente livre, e nessa condição assinou um contrato de dois anos com o Anaheim Ducks, numa tentativa do clube campeão da Copa Stanley de substituir Teemu Selanne à altura.

Em Anaheim, jogando com a camisa #4 (sua preferida #44 é utilizada por Rob Niedermayer), Bertuzzi atuou em sete jogos e marcou dois pontos. Não vinha rendendo o esperado, mais uma vez, e... machucou. Já listado como contundido pelos Ducks, Bertuzzi machucou-se na noite de domingo, dia 14, em partida contra o Minnesota Wild, após um tranco desferido por Derek Boogaard — onde, de quebra, os Ducks perderam por 2-0. A contusão afastará Bertuzzi dos rinques por, pelo menos, uma semana. Pelo menos. Vai começar tudo de novo?

Ao que parece, Todd Bertuzzi não tem muita paz em sua vida pessoal desde os acontecimentos envolvendo a agressão a Moore. Legalmente, o jogador sofreu vários processos que prejudicaram não só a sua pessoa, mas também ao clube que servia na época, o Vancouver Canucks.

Para se ter uma idéia dos (merecidos) danos sofridos por Bertuzzi, o jogador, que foi sumariamente suspenso pela NHL diante da agressão, teve que desembolsar de cara uma multa de cerca de US$ 500 mil, enquanto os Canucks foram multados em US$ 250 mil por "falhar em prevenir a atmosfera que pode ter causado o incidente". A IIHF estendeu a punição em instância internacional para que Bertuzzi não fosse beneficiado com o locaute da NHL, jogando em alguma liga européia ou em qualquer lugar do mundo. O jogador também foi processado pela corte da Colúmbia Britânica por agressão seguida de danos físicos. Condenado, Bertuzzi apelou e conseguiu condicional de um ano. Todos os fatos listados até aqui se deram em 2004. Já em 2005, Bertuzzi foi processado por Moore, assim como o Vancouver Canucks, Brian Burke e Brad May (companheiro de Moore que declarou após o jogo que "sua cabeça estava a prêmio"). O processo foi suspenso pela corte do Colorado, decidindo que as ações legais envolvendo o caso deveriam acontecer apenas na Colúmbia Britânica. Moore segue apelando da decisão. Bertuzzi também perdeu contratos de publicidade, num prejuízo total de aproximadamente US$ 350 mil e voltou a ser processado por Moore em 2006, na corte de Ontário, através de seu advogado Tim Danson, residente de Toronto. Mais uma vez os Canucks foram envolvidos no processo, e o jogador lesionado exige em dólares canadenses $ 15 milhões por danos financeiros — dinheiro que, tecnicamente, Moore arrecadaria se estivesse jogando, $ 1 milhão por danos físicos e $ 2 milhões por danos morais. E, já que todo mundo quer sair ganhando nessa história, Bertuzzi também está sofrendo processo de Jack e Anna Moore, que estavam assistindo ao jogo quando Moore sofreu o acidente e alegam "stress e choque emocional", exigindo do atual jogador do Anaheim Ducks $ 1,5 milhões de dólares canadenses.

O comissário Gary Bettman, que diz acreditar no arrependimento do agressor, apela desde dezembro de 2006 para que Bertuzzi e Moore cheguem a um acordo amigável, numa fiança de $ 19,5 milhões de dólares canadenses.

Todo o processo estaria causando a Bertuzzi e sua família stress, ansiedade e tristeza emocional.

É mais que compreensível que, diante dessas circunstâncias, Bertuzzi esteja com seu lado psicológico afetado, levando-o a atuações ruins, e que isso afete também seu condicionamento físico. E tudo isso porque o próprio Bertuzzi procurou.

• Capa
• Editorial
• Má fase de quatro jogos
• O renascimento de Nik Antropov
• Os rejeitados de Long Island
• De volta ao lixo?
• A maldição de Todd Bertuzzi
• E não é que deu certo?