Um dos pontos mais divertidos da NHL é o mercado de trocas. Ano após
ano o burburinho (a boataria, a fofoca — seja qual for o nome que você
preferir) está sempre agitando um razoável segmento do mercado jornalístico.
A ponto de alguns sites até mesmo passarem a incluir uma seção específica
sobre os rumores atuais. Embora eu mesmo considere boa parte deles infundados
— afinal, são boatos —, fiz um apanhado geral do que anda rolando em
relação ao mercado de trocas. Vale pela curiosidade, mas também vale
porque, onde há fumaça, pode haver fogo.
Talvez o mais quente do momento seja a questão sobre o que o Anaheim
Ducks fará para abrir espaço no orçamento para a volta de Scott Niedermayer.
Ou seja, quem o Anaheim irá rifar para a volta do MVP da última Copa
Stanley.
Vários boatos indicam que a gerência está rifando o defensor Mathieu
Schneider, que foi contratado justamente para suprir a saída de Niedermayer.
Com a volta do MVP, Schneider e seus US$ 5,6 milhões de salário tornam-se
excessos.
Um desses boatos diz que o Chicago Blackhawks seria um dos interessados,
o que faz certo sentido. Entretanto, entendo que seria uma negociação
complicada, por dois motivos: o preço que o Anaheim pediria — o Chicago
dificilmente cederia algum dos seus ótimos prospectos — e o salário
relativamente gordo de Schneider, acima do que o time almeja pagar.
Acredito que dificilmente os Ducks se livrarão de atacantes como
Andy McDonald ou Chris Kunitz para adicionar mais um defensor. Mas Todd
Marchant e seus US$ 2,5 milhões podem ser. Embora seja freqüentemente
citado, também não acredito que os Ducks envolvam o bom e jovem defensor
Francois Beauchemin numa troca, mas não vejo problemas com Shane Hnidy
e Sean O'Donnell.
Porém, como o necessário é livrar-se de cerca de US$ 900 mil, talvez
não seja preciso desfaer-se de algum grande talento. Só que ainda há
um agravante: a gerencia quer renovar com Corey Perry, que vai se tornar
agente livre na próxima temporada, o que requer uma abertura maior no
espaço orçamentário. Para divertir ainda mais, desde a volta de Niedermayer,
floresceu a boataria sobre uma eventual volta de Teemu Selanne. Todavia,
ao contrário do defensor, Selanne não dá o menor sinal de que voltará.
Se o Tampa Bay Lightning seguir nesse chove-não-molha atual, é possível
que comece a rifar o atacante Brad Richards. Vai ser muito, mas muito
difícil encontrar pretendentes para o altíssimo salário de US$ 7,8 milhões
do ex-Conn Smythe que anda produzindo bem menos do que anda recebendo.
A salvação seria encontrar um time precisando desesperadamente de um power
forward experiente para os playoffs, com algum espaço no orçamento — e,
ainda assim, acredito que haveria alguma negociação sobre o pagamento
de parte do salário.
Richards teria de abdicar da cláusula que veta sua negociação para outros
times, e isso não vai ser algo fácil de se conseguir.
Darryl Sydor é outro que tem essa cláusula no contrato, mas a situação
dele é pior: ultimamente não vem sendo raro vê-lo barrado dos jogos
do Pittsburgh Penguins. Seu salário de US$ 2,5 milhões não chega a ser
alto para quem um dia formou uma bela dupla com Sergei Zubov, mas, pela
sua produção atual, sai caro. É bem mais provável que Sydor abdique
da cláusula, desde que seja para ir para algum time competitivo que
apenas o escale para jogar.
De volta ao Tampa Bay, recentemente têm surgido boatos envolvendo Martin
St. Louis. Um deles indicava uma suposta e estranha proposta do Dallas
Stars, que oferecia Marty Turco na troca. É bem possível que o Lightning
realmente deseje abrir espaço em seu orçamento, e, dada a evidente dificuldade
em se livrar de Richards, o pato pode sobrar para St. Louis.
Mats Sundin é um nome que já entra no rol dos boatos desde a temporada
passada, mas, até onde se sabe, ele quer permanecer em Toronto. Boatos
sugerem que os suecos do Detroit Red Wings andaram conversando com ele
para que todos se juntem no dia-limite de trocas. Pura fantasia. Sundin
é o tipo de jogador que seria disputadíssimo por qualquer time decente
da NHL e provavelmente o Toronto aguardaria tranqüilamente as melhores
ofertas — isso, claro, se Sundin não escolhesse o time para onde ir.
Depois dos playoffs passados, quando decepcionou, e do mau começo, em
que segue decepcionando, já há boataria sobre o San Jose Sharks estar
rifando Patrick Marleau pela liga. Nada ainda muito forte, parece mais
descarrego dos torcedores dos Sharks do que alguma movimentação plausível.
A perda de confiança de Marleau é nítida e gritante. Mas confiança é
algo que se perde e se recupera, basta um determinado fator que reverta
a história. Marleau deve ficar.
Consta que o Edmonton Oilers anda desacaradamente rifando Raffi Torres
e Jaret Stoll. Os dois andaram barrados num jogo recente e consta que
a gerência já tentou com o Columbus Blue Jackets, Ottawa Senators e Boston
Bruins. Ninguém diz não, mas as ofertas de retorno (ou as demandas dos
Oilers) não andam satisfazendo. Na semana passada, contra os Penguins,
o time vencia por 2-0 e cedeu a virada para o adversário. O técnico Craig
MacTavish barrou tanto Stoll quanto Torres para a partida seguinte, dizendo
que era para "mandar um recado".
Como o defensor John-Michael Liles será agente livre na próxima temporada,
é possível que o Colorado Avalanche procure negociá-lo ainda nesta. O
valor do jogador no mercado é bom e há outro defensor no elenco que pode
fazer o papel dele na equipe: Kyle Cumiskey.
Ainda com os Avs, diante da performance duvidosa de Peter Budja e da certeza
sobre o abacaxi Jose Théodore, talvez eles busquem um goleiro para a equipe,
inclusive usando Liles no negócio. O problema é que qualquer negociação
por um novo goleiro necessariamente deverá incluir a cessão de um dos
dois, preferencialmente a de Théodore. Não faz sentido o time ficar
com três goleiros no elenco. O problema é encontrar um trouxa que aceite.
Talvez a hora de Trevor Linden tenha chegado. Ultimamente ele vem sendo
barrado de vários jogos do Vancouver Canucks e o técnico Alain Vigneault
parece realmente preferir escalar jogadores mais novos. Poucos jogadores
na NHL atual são tão identificados com um time como Linden e os Canucks.
É inimaginável vê-lo negociado com algum outro time. O caminho mais
correto é a aposentadoria.