Por: Thiago Leal

Estamos chegando próximo ao fim da "primeira metade" da temporada regular da NHL. A metade "2007", e logo mais a Liga dará entrada em sua metade "08". Ainda é cedo para qualquer prognóstico, mas já dá para ter idéia de algumas coisas. O Detroit Red Wings certamente vencerá o Troféu dos Presidentes; o Ottawa Senators encerrará mais uma boa temporada regular e terá uma campanha incógnita nos play-offs; Washington Capitals, Phoenix Coyotes e Los Angeles Kings não irão a lugar algum mais uma vez. Tudo isso é simples e não precisa ser nenhum Nostradamus para prever.

À altura que estamos também já dá para se ter idéia dos destaques individuais da liga. Sidney Crosby, Vincent Lecavalier, Henrik Zetterberg, Ilya Kovalchuk, Daniel Alfredsson... O destaque que me chama mais atenção no momento, no entanto, é o central Joe Thornton, do San Jose Sharks. E por uma simples razão: Thornton leva os Sharks nas costas. E os Sharks ocupam o segundo posto no Oeste, terceiro na Liga, e figuram um belo dum favoritismo à Copa Stanley 2008.

Não é à toa que Thornton, quando desembarcou de Boston em 2005, conquistou a torcida de uma forma que só o goleiro Evgeni Nabokov é capaz. O central pontua com a mesma facilidade que um tubarão branco estraçalha qualquer pedaço de carne que encontre pela frente, e mesmo com um time instável ao seu lado e sem ter uma linha fixa onde jogar, Thornton mantém sua regularidade e alta média de gols e, especialmente, assistências.

Sua primeira temporada em San Jose, dividida com 23 jogos pelo Boston, lhe valeram um Troféu Art Ross pela marca de 125 pontos na temporada regular; um incontestável Troféu Hart Memorial e um lugar no Time das Estrelas da Liga. Pelos Sharks nessa temporada multipremiada foram 58 jogos de temporada regular e 92 pontos. Jumbo Joe, como é conhecido, chegou de cara deixando para trás Patrick Marleau e Jonathan Cheechoo, os xodós do HP Pavilion.

A marca atingida por Thornton foi importante para o #19 não só em termos de premiação, mas também para seu ego. Apesar de sempre ter sido considerado um jogador fora-de-série, sua habilidade em liderar e capacidade de ser decisivo eram contestadas em Boston — o preço da pressão de uma "franquia original" que há muito não vence a Copa Stanley ou mesmo alcança a grande decisão. O que se esperava era que Jumbo Joe fosse o homem capaz de levar os Bruins a mais uma final de Copa Stanley, mas sua queda de rendimento na pós-temporada jogava toda a pressão em cima do central. Desta forma, até mesmo seu posto de capitão era contestado em Boston.

Tudo bem que ainda em 2005-06 Thornton seguiu com um problema: não marcar mais que nove pontos nos play-offs. Mas em San Jose, pelo menos naquela época, o ex-Bruin via a pressão cair mais para o "filho pródigo" Marleau e Cheechoo, os dois ainda responsáveis pela casa.

Em San Jose Thornton também teve oportunidade de ver sua liderança ser reestabelecida sem contestações. Já em 2006, o #19 pôde experimentar a condição de capitão alternativo dos Sharks durante as ausências de Alyn McCauley. No segundo semestre do ano, para a temporada 2006-07, Thornton assumiu em definitivo o "A" sobre o ombro esquerdo.

E falando na temporada passada, enquanto Thornton subia seu conceito, Cheechoo decepcionava e Marleau detinha um resultado aquém do esperado. Foi a vez do #19 mostrar que para um grande jogador não tem tempo ruim e o central manteve o bom-rendimento anterior, fechando a temporada regular em 114 pontos. Além de sua regularidade, foi importante para Jumbo Joe quebrar seu "tabu" de não chegar aos dois dígitos em pós-temporada. Desta vez Thornton atingiu os 11 pontos e foi mais uma vez superior a Cheechoo e Marleau.

Aos 28 anos de idade, Jumbo Joe vive o que pode ser o auge de sua carreira. Na atual temporada, Thornton lidera com folga os Sharks, principalmente pela grande decepção que Marleau, Cheechoo e Jeremy Roenick vêm protagonizando. Para ter uma idéia da vantagem de Thornton, o jogador já soma sozinho 36 pontos, e é seguido nas estatísticas por Marleau, Roenick e Milan Michalek com... 14 pontos! Cheechoo então... com 28 jogos, tem apenas nove pontos somados. Os atacantes de San Jose vêm fazendo uma temporada tão ruim que não dá para dizer que a recente entrada de Cheechoo e Roenick na lista de contusões é algo negativo — especialmente para Roenick, com seu histórico nada invejável de lesões.

Também não dá para dizer que a contusão de Roenick e Cheechoo vá fazer diferença na luta dos Sharks pelo Campeonato do Pacífico, mesmo com a recente ascensão do Anaheim Ducks e com a boa temporada do Dallas Stars, ambos no encalço do San Jose. Thornton joga pelos dois e a responsabilidade está nas suas mãos e não dividida entre ele e os demais atacantes da equipe. Se havia alguém que, ao lado de Thornton faria falta aos Sharks, esse alguém é Nabokov — ou, pelo menos, Sandis Ozolinsh e Craig Rivet na defesa.

O que falta para Thornton agora é mostrar que pode, sim, ser um jogador decisivo. Acredito que o central encerre a temporada regular na casa dos 120 pontos mais uma vez. Pelo menos é o que suas estatísticas permitem prever. Mas depois que o 82º jogo e o 246º período da temporada se encerrar para os Sharks, é até lugar comum dizer... zera tudo. Começa uma nova Liga, e é aqui que Thornton precisa ser um jogador decisivo. Se seu rendimento nas temporadas regulares supera facilmente os 100% e sua média de pontos costuma ser por volta de 1,2 pontos por jogo, em play-off sua média cai para a casa dos 0,7 ou 0,8. É natural esperar mais que isso de Jumbo Joe.

Um tubarão branco costuma ser considerado o "rei dos mares", o maior predador dos oceanos. Se essa é a metáfora utilizada para se referir a Joe Thornton, é bom que o melhor jogador da Divisão do Pacífico justifique.

Thiago Leal acredita que o mundo tem um novo Friedrich Nietzsche: o biólogo, etólogo, escritor, filósofo e ateu britânico Richard Dawkins.
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Joe Thornton deixou órfã a torcida do Boston Bruins, trocando toda a pressão que sofria...
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... pela paz e adoração incontestável do San Jose Sharks.
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Habitat natural: às vezes Joe Thornton parece ter sido feito para viver aí, dentro do gol. (14/11/2007)
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Jumbo Joe comemora com o elenco dos Sharks. Bem que alguém poderia ajudá-lo lá na frente, não é? (28/11/2007)
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Página publicada em 12 de dezembro de 2007.