Por: Humberto Fernandes

A discussão em torno do novo, longo, milionário e invejável contrato de Alexander Ovechkin teve seu auge na semana passada. Mas enquanto o russo garantia seu futuro para o resto da vida, este colunista tornava-se estatística do governo, mais precisamente na contagem de desempregados, ao trocar o time dos estudantes universitários pela equipe dos graduados. De tal forma que a agenda lotada (festividades e cerimônias oficiais) impediram que o artigo fosse escrito há tempo de ser publicado na última edição.

Como não é todo dia que um jogador assina contrato por 13 anos e US$ 124 milhões ou que um estudante cola grau em Administração após cinco anos de estudos (?), permita-me escrever sobre um assunto frio.

Os motivos do contrato

Existe uma tendência recente na liga guiando as equipes a estabelecerem vínculos "intermináveis" com seus melhores jogadores. O goleiro Rick DiPietro assinou por 15 anos e US$ 67,5 milhões com o New York Islanders. Mike Richards, central, assinou por 12 anos e US$ 69 milhões com o Philadelphia Flyers. Ovechkin cravou o primeiro contrato acima dos cem milhões por 13 anos de Washington Capitals.

Basicamente, existem três motivos principais influenciando os gerentes neste caminho.

O primeiro é a segurança. Após a selvageria proporcionada por Kevin Lowe (gerente do Edmonton Oilers) na última intertemporada, as equipes temem perder suas estrelas ou então serem obrigadas a cobrir propostas inflacionadas. O longo contrato, portanto, é uma medida anti-Lowe. Ela evita que os jogadores estejam expostos no mercado ao se tornarem agentes livres restritos.

Nunca é demais lembrar as propostas pornográficas de Lowe a Thomas Vanek, do Buffalo Sabres, e Dustin Penner, do Anaheim Ducks: US$ 50 milhões por sete anos para o primeiro e US$ 21,25 milhões em cinco anos para o segundo. Vanek permaneceu em Buffalo, porque os Sabres, que já haviam perdido Chris Drury e Daniel Briere, não podiam se dar ao luxo de perder outro atacante e igualaram a oferta abusiva. Já os Ducks sabiamente abriram mão do direito sobre Penner e liberaram o atacante, que custou aos Oilers o dobro do que ele valeria no mercado.

Se Lowe ofereceu mais de US$ 7 milhões por Vanek, por que não ofereceria US$ 10 milhões por Ovechkin?!

O segundo motivo é a economia no longo prazo. Como o teto salarial é vinculado ao faturamento da liga, os especialistas entendem que o orçamento dos gerentes será cada vez maior. E quanto maior for o teto salarial, maior será o salário máximo permitido por jogador. Portanto, as equipes esperam economizar no futuro, oferecendo longos contratos aos atletas com salários exagerados para os padrões de hoje, mas que daqui a alguns anos estarão distantes do máximo.

Com este teto salarial volátil, o limite das equipes subiu de US$ 39,5 milhões em 2005-06 para US$ 50,3 milhões nesta temporada, e a previsão para a próxima é algo em torno de US$ 54 milhões. O aumento do teto salarial elevou também o piso salarial (o mínimo permitido para as equipes gastarem com salários dos jogadores) de US$ 23,5 milhões para US$ 34,3 milhões no mesmo período. Já se espera para a próxima temporada o piso salarial igual ao teto de 2005-06.

A questão, então, é saber quando o salário de US$ 9,54 milhões de Ovechkin será uma barganha e quanto o teto salarial terá de subir para isso acontecer.

De imediato, sabe-se que no curto prazo o russo estará sobrevalorizado, porque três dos candidatos a MVP da temporada, Roberto Luongo, Nicklas Lidstrom e Jarome Iginla, têm pelo menos mais dois anos de contrato por menos de US$ 7,5 milhões. Ovechkin não tem sido melhor do que eles.

A NHL não está muito longe de tetos salariais por volta de US$ 65 milhões, o que deve acontecer no máximo em quatro ou cinco anos, o que permitiria salários de até US$ 13 milhões, justamente quando o atual contrato de Sidney Crosby se expirar. Se, então, o capitão dos Penguins assinar por algo próximo ao limite, realmente os Capitals salvarão alguns milhões de dólares no longo prazo.

O terceiro motivo é a garantia do emprego. Os Capitals foram aos playoffs pela última vez em 2003 e desde então disputam as últimas colocações da liga (28.º, 27.º e 27.º nos últimos três anos). A eventual incapacidade de renovar o contrato de Ovechkin custaria a cabeça do gerente geral George McPhee.

McPhee ocupa o cargo desde 1997. Em sua gerência os Capitals regrediram de vice-campeões da Copa Stanley (1998) a escória da liga. Sem resultados positivos, sem a simpatia da torcida e sob a ameaça de se juntar a mim na contagem de desempregados do governo, o gerente garantiu sua sobrevida ao anunciar que Ovechkin seria dos Capitals por mais 13 anos.

O ponto aqui é que ele não estará lá daqui a 13 anos. Na verdade é muito improvável que ele esteja daqui a cinco ou oito anos, e então o contrato de Ovechkin será problema de outro gerente. Quando (e se) o russo não for mais o goleador de hoje, tornando-se um peso (pesado) morto no orçamento da equipe, McPhee estará no Caribe curtindo a praia.

O risco do "clube dos 50"

O grande problema de avaliar um contrato de 13 anos de duração é ponderar por quanto tempo o jogador permanecerá feliz, saudável e produtivo.

Aos 22 anos, Ovechkin já faz parte da história da liga. Apenas dois jogadores têm média de gols marcados por jogo superior aos 0,646 do russo (Mike Bossy e Mario Lemieux). Seus 261 pontos em 212 jogos também lhe garantem um lugar entre os maiores do esporte. Em outro seleto grupo de jogadores Ovechkin faz parte desde a primeira temporada, quando quebrou a barreira dos 50 gols.

Apenas 87 jogadores na história da liga marcaram 50 gols em uma temporada. Destes, 18 estão em atividade. Mas são os outros 69 que interessam para responder: por quanto tempo eles jogaram? Até quando foram produtivos? E em que idade a produção dos jogadores deste "clube dos 50" começou a cair?

Poucos destes jogadores se aposentaram cedo, com 22% disputando 60 ou mais jogos pela última vez antes dos 31 anos de idade. Mais da metade penduraram os patins antes dos 34 anos, mas 32% ultrapassaram os 35 anos (veja gráfico 1). Cinco atletas deste grupo quebraram a barreira dos 40 anos, incluindo Steve Yzerman, Luc Robitaille e Mark Messier.

Quais as chances de Ovechkin jogar aos 35 anos? Pouco menos de 40%, segundo as médias históricas.

A próxima questão é: até quando ele será eficiente?

O gráfico 2 demonstra a idade em que estes jogadores marcaram 40 ou mais gols pela última vez. A maior concentração está entre os 27 e 30 anos de idade, com 57% dos jogadores. Ao todo 78% atingiram a marca antes dos 31 anos.

Após os 33 anos, apenas quatro jogadores marcaram 40 ou mais gols (cinco, se contarmos Teemu Selanne, ainda não aposentado). Messier é um deles.

Mas um jogador não precisa marcar 40 gols todos os anos para ser eficiente. Talvez se reduzirmos o parâmetro para 30 gols a situação mude. Veja o gráfico 3.

Infelizmente a conclusão é a mesma: 30 anos é o número mágico — 57% dos jogadores marcaram 30 ou mais gols pela última vez em suas carreiras antes dos 31 anos de idade. Por outro lado, um terço dos atletas atingiu a marca após os 32 anos, incluindo Robitaille e Marcel Dionne (36 anos), Dino Ciccarelli e Mike Gartner (37) e Brett Hull (38). Mas esses são os extremos do gráfico. A média é algo próxima do ponto máximo do gráfico.

Em termos de produção e longevidade dos integrantes do "clube dos 50", as médias são:

a) Idade em que disputaram pela última vez 60 jogos na temporada: 33,3 anos.
b) Idade em que marcaram pela última vez 40 gols na temporada: 28,5 anos.
c) Idade em que marcaram pela última vez 30 gols na temporada: 30,5 anos.

Tenha em mente que Ovechkin está sob contrato até os 35 anos de idade. Logo, os Capitals correm o risco de pagar US$ 9,54 milhões (valor médio) para um jogador que dos 30 anos em diante não marcará mais do que 30 gols, segundo as médias históricas.

Conclusão: em vez de 13, seria mais seguro para a equipe oferecer dez ou 11 anos de contrato.

Assim como é um jogador de habilidade acima da média, vamos torcer para que Ovechkin também seja acima da média histórica de durabilidade e produtividade.

Humberto Fernandes, em um processo seletivo para emprego, elegeu o Chapolim Colorado como o personagem com quem mais se identifica, durante a dinâmica de grupo.
Dave Sandford/Getty Images
Alexander Ovechkin, o homem de US$ 124 milhões de dólares, faz língua para você.
(23/01/2008)
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Gráfico 1: a idade com que os integrantes aposentados do "clube dos 50" disputaram 60 jogos em uma temporada pela última vez. Clique no gráfico para ampliar.
(23/01/2008)
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Gráfico 2: a idade com que os integrantes aposentados do "clube dos 50" marcaram pela 40 gols pela última vez. Clique no gráfico para ampliar.
(23/01/2008)
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Gráfico 3: a idade com que os integrantes aposentados do "clube dos 50" marcaram 30 gols pela última vez. Clique no gráfico para ampliar.
(23/01/2008)
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Página publicada em 23 de janeiro de 2008.