Por: Thiago Leal

Dizer que escolha número um de recrutamento sempre é badalada é óbvio. Todo aquele papo de expectativas altas, pressão, tudo isso é repetitivo. Algumas escolhas número um acabam vingando, como Mario Lemieux, Vincent Lecavalier, Mike Modano, Mats Sundin, Denis Potvin e, aparentemente, Sidney Crosby e Alexander Ovechkin. Outros chegam com a maior soberba em ser "o número um", uma vez que "ninguém lembra do número dois", e acabam tropeçando nos próprios patins e tacos, como é o clássico caso de Alexandre Daigle e Eric Lindros, camaradas queridos aqui no complexo TheSlot.com.br.

Em 2002, o Columbus Blue Jackets aproveitou sua escolha de número um para recrutar um jovem chamado Rick Nash, destaque do London Knights da liga juvenil de Ontário. Ao lado de Ilya Kovalchuk (2001), Alexander Ovechkin (2004), Sidney Crosby (2005) e Patrick Kane (2007, também do London), Nash é um dos atacantes a ser primeira escolha na década atual. Foi recrutado com 18 anos de idade, assim como Crosby, Kovalchuk e Kane. E se comparar Nash com Kovalchuk, Ovechkin e Crosby, me arrisco a dizer que o número um de 2002 é o mais fraco dos quatro atualmente, pelo menos em desempenho. Se levar em consideração seus números juvenis para compará-lo a Kane, Nash é o mais fraco dos cinco! Novamente, falando em termos de desempenho.

Como todo recruta de alta escolha, em especial número um, Nash chegou como grande promessa à NHL. E estancou nesse patamar. Não vou entrar nos méritos de que Nash joga em Columbus, porque Ovechkin se destaca em Washington, Kovalchuk em Atlanta e o calouro Crosby conseguiu chamar a atenção num Penguins que vivia fase horrorosa. Hoje os Jackets têm Adam Foote, Jiri Novotny, Fredrik Modin e Sergei Fedorov. Nash não está tão sozinho assim. Tudo bem que o garoto lidera o time, mas isso é pouco pelo que se julgava de Nash. Ou então se julgou errado.

Desde o juvenil, e isso se percebe vendo vídeos, analisando estatísticas, o habilidoso Nash não era um primor em pontos, sejam eles gols e, principalmente, assistências. Para Nash é necessário um bom central o servindo para que os gols surjam, e do meu ponto de vista os Jackets não têm esse central. Seu número de assistências é sempre baixo e insatisfatório, e o rapaz que tem um controle sobre o disco tão bom que em seus momentos mais brilhantes lembra Igor Larionov e Pavel Bure acaba servindo pouco ao time, ou pelo menos bem menos do que um time em evolução necessita. Nikolai Zherdev, a outra peça necessária dos Jackets, jogando pela direita, acaba tendo o mesmo problema. E aí cadê o central para apoiar os dois?

Esse é um defeito visível ao longo de sua carreira como jogador, desde o juvenil até suas cinco temporadas na NHL. Até agora, 2003-04 é considerada a melhor temporada do ponta esquerda na NHL, quando marcou 41 gols e dividiu a liderança do fundamento com Kovalchuk e Jarome Iginla. Seria o sufuciente para ter também um número alto de pontos. Iginla bateu 73 e Kovalchuk teve a bela marca de 87. Nash, no entanto, com miseráveis 16 assistências não passou dos 57 pontos. É pouco para quem era um prospecto promissor, chegou na Liga como escolha número um. E olhe que Nash não superou o "brilho" dessa temporada em momento algum, repetindo os pontos na temporada passada, mas com números bem mais aprazíveis, se dividindo desta vez em 27 gols e 30 assistências, o máximo do rapaz até agora.

Nash pode superar seu recorde de pontos na temporada atual. O provável é que consiga. Soma 43, com 26 gols e mais um número baixo de assistências, 17, enquanto Crosby possui 43 e até seu companheiro Zherdev, com 23, o supera.

Resumo da ópera, Nash é um cara que rende pouco, ou pelo menos não tanto quanto deveria, e isso é um problema. Com 23 anos, ainda novo, mas cinco temporadas de NHL, a evolução que o ponta apresentou é pequena, e a urgência de uma carreira vencedora exige muito mais de um recruta de número um.

Tudo isso me veio em mente ao ver o vídeo dos Jackets contra os Coyotes. Se eu tivesse de apostar em alguém para o manjado "gol do ano", certamente citaria Crosby, Ovechkin, Kovalchuk, Anze Kopitar, Ryan Getzlaf, Evgeni Malkin, Henrik Zetterberg, Joe Thornton, ou mesmo, de repente, Mike Richards ou Paul Stastny. Eu jamais imaginaria que logo Rick Nash marcaria esse gol. E mesmo sendo o gol do ano, não conseguia visualizar em Nash uma jogada de encher os olhos.

O lance é sensacional não só por sua habilidade no controle, o vulgo stickhandling, mas por sua capacidade de improviso e sua noção de espaço na hora de passar por Keith Ballard e Derek Morris. Foi o Nash, mas se visse esse gol de longe, sem conseguir identificar o marcador, eu diria que tinha sido Ovechkin ou Pavel Datsyuk. Foi um lance completo e perfeito em termos de ataque, com o perdão de todo o exagero que este colunista está cometendo, e a alcunha "gol do ano" está partindo não só de TheSlot.com.br, mas de todo lugar.

Nash precisa ter cuidado para não ser lembrado sempre por esse gol e apenas por esse gol. Enquanto sua habilidade empolga, e é uma habilidade possivelmente genuína e verdadeira, seu currículo o coloca como um jogador não confiável e isola esse belo lance. Não é só de um golaço que se vive um jogador. Ou alguém aí viu o Marek Malik virar estrela depois de um gol sensacional em disputa de pênaltis?

Eu estranhei porque não esperava isso do Nash. Habilidade eu sabia que ele tinha. Mas nem lembrava... afinal, ele não faz por onde lembrarmos de toda essa habilidade. Então, se o cara realmente a tem, é melhor começar a usá-la. Existem coisas que marcam o jogador na história do clube, da Liga, do esporte. Um gol isolado, definitivamente, não é uma delas. Ainda mais quando o atleta parece desperdiçar todo seu talento.

Thiago Leal, 23 anos, publicitário, agora dispõe on line seu portfólio de anúncios impressos e seu portfólio de anúncios eletrônicos.
Ronald Martinez/Getty Images
Rick Nash pronto para entrar no gelo, sempre causando altas expectativas, nem sempre as atendendo: promessa (ainda) não cumprida.
(19/01/2008)
Ross D. Franklin/AP
Rick Nash guardando um momento mágico após receber assistência de Michael Peca, cruzar a linha vermelha, deixar dois Coyotes no chão e passar pelo goleiro Mikael Tellqvist.
(17/01/2008)
David Zalubowski/AP
Uma rara assistência, que resultaria no gol de Fredrik Modin contra o Colorado. Nash precisa entender que muitas vezes um passe tem tanta importância quanto um gol.
(20/01/2008).
DVD Oficial IIHF/Campeonato Mundial 2007
Nash, campeão mundial com a Seleção Canadense e Jogador Mais Valioso do Torneio. Eficiência longe da NHL.
(13/05/2007)
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Página publicada em 23 de janeiro de 2008.