Por: Humberto Fernandes

Para voltar a vencer e derrubar a invencibilidade do Minnesota Wild na noite de quarta-feira, o Dallas Stars retornou ao básico do hóquei durante os dias que antecederam ao jogo. O treinador Dave Tippett colocou o time para praticar duelos de um contra um, dois contra dois e três contra três, recuperar discos perdidos, bloquear chutes, obstruir jogadas, atacar o oponente. Tudo ligado ao básico da defesa, algo que sempre esteve presente no hóquei dos Stars, mas que ainda não tinha aparecido nessa temporada.

Os jogos da equipe têm registrado muitos gols e, conseqüentemente, muitas derrotas. Os jogadores não estão comprometidos com a defesa como estiveram no passado. Isso fica evidente nas estatísticas, que apontam os Stars como a pior defesa da liga, com média de 3,95 gols sofridos por jogo. No ano passado, o número não passou de 2,49, ou seja, aumento de quase um gol e meio sofrido por jogo. Desde 2002-03, a pior campanha defensiva do Dallas registrou 2,65 gols sofridos de média, a sexta pior da liga, em 2005-06. Ou seja, nas últimas cinco temporadas, o mínimo que a equipe conseguiu foi a sexta posição nos aspectos defensivos.

O mais surpreendente na ineficiência da equipe nesse quesito é a constatação de que o sexteto é praticamente o mesmo do ano passado, com Stephane Robidas e Nicklas Grossman formando a principal dupla de bloqueio, Trevor Daley e Matt Niskanen na segunda linha e Mark Fistric e Philippe Boucher compondo o terceiro par.

Robidas e Grossman assumiram esse papel nos playoffs, quando demonstraram química e competência. Por outro lado, a dupla Daley e Niskanen tem sido um perigo, sofrendo constantemente gols no 5-contra-5.

O retorno de Sergei Zubov, mesmo aos 38 anos de idade, vai causar impacto imediato, porque ele ainda é um jogador diferenciado, dotado de muita inteligência e controle do disco. Zubov sempre foi essencial nos times especiais, tanto em vantagem numérica quanto para matar penalidades. Tippett deve escalá-lo ao lado de Niskanen, rebaixando Daley para atuar ao lado de Boucher. Assim os Stars terão um veterano e um jovem defensor em cada linha, evitando confiar em dois garotos ao mesmo tempo no gelo.

O russo deverá ter condições de jogo na primeira semana de novembro e seu retorno será possível pela baixa de Joel Lundqvist, que fraturou o ombro e deve perder as próximas seis semanas da temporada. Os Stars têm séria restrição no teto salarial, exigindo malabarismos da gerência para manter-se dentro do limite.

De sexto para 30.º, a queda da defesa é preocupante, o suficiente para Tippett querer ensinar o bê-a-bá do hóquei para seus comandados. Tanto que o treinador resgatou a figura de Andy Moog, há muito tempo o preparador de goleiros do Dallas, mas que nos últimos dois anos ocupou-se mais de suas outras responsabilidades com a organização, como o desenvolvimento de jogadores, e também porque Marty Turco estava treinando sozinho. Porém a pior média de gols sofridos da liga e o pior percentual de defesas (84,6%) significam que é hora de Moog, ex-goleiro da NHL por 18 anos, passar um tempo com seus semelhantes.

"Ele tem o olhar da perspectiva de um goleiro," declarou Tippett. "Ele conhece os movimentos, conhece as idiossincrasias da posição".

Para Turco não houve sinal mais claro da insatisfação do treinador com seu trabalho que os comentários de Tippett após a derrota para o Washington Capitals por 6-5: "Você não pode ter 82,0% de defesa e sobreviver nessa liga. Nosso goleiro não tem sido muito bom."

Apesar disso, Tippett hesitou durante duas semanas para escalar o reserva Tobias Stephan pela primeira vez na temporada, o que aconteceu no jogo contra o Wild. Até então, Stephan era um cara que não havia demonstrado sua capacidade e não parecia ser a solução para o problema da equipe. A primeira vitória de sua carreira o credencia a passar mais tempo no gol dos Stars, pelo menos nos jogos em noites consecutivas, mas representa apenas uma solução de curto prazo. O que o time precisa mesmo, em primeiro lugar, é ter Turco de volta.

A expectativa antes da temporada era ver o Dallas competindo pela Copa Stanley. Definitivamente isso não tem acontecido. Os Stars aparentemente estão de ressaca, como se tivessem vencido a Copa em junho, quando na verdade eles foram derrotados nas finais da Conferência Oeste. Quando o time está realmente determinado a vencer, é possível enxergar sinais em cada jogo, mesmo em outubro.

A comparação mais próxima para a equipe está a dez anos atrás. Na campanha de 1999 os Stars demonstravam em quase todas as noites que fariam o que fosse preciso para recuperar a Copa perdida para o Detroit Red Wings nas finais de conferência do ano anterior. Em outubro de 1998, aquele time perdeu dois jogos e, até o Ano Novo, tinha apenas cinco derrotas. Tudo para que o título não lhe escapasse novamente.

Nesse ano, no entanto, os Stars não passam de incompetentes. Já foram quatro derrotas, incluindo tropeços contra Columbus Blue Jackets, Nashville Predators e St. Louis Blues. E o problema não está apenas no gol e na defesa. O ataque do time também tem vacilado.

Brad Richards, de quem muito se esperava, tem apenas três gols em dez jogos. O capitão Brenden Morrow soma 20 minutos de penalidades. Fabian Brunnstrom, aquele mesmo, fez um hat trick e lidera o time em gols, mas é o líder da liga em gols sofridos por tempo de gelo — por isso o receio do Dallas de escalá-lo regularmente. E a lista segue, com Sean Avery, maior contratação das férias e míseros seis pontos.

Ainda há muito tempo para os Stars se recuperarem. Eles ainda podem engrenar uma sequência vitoriosa como a do ano passado, quando derrubaram times favoritos e avançaram nos playoffs. Mas as expectativas fazem as pessoas esperarem o melhor da equipe em todos os jogos, invariavelmente. Como se um jogo numa quarta-feira de outubro valesse a Copa Stanley. Não vale, não. Mas é melhor ganhar do Minnesota do que perder para o Columbus, mesmo que isso não faça tanta diferença em junho.

Humberto Fernandes proibiu sua namorada de fazer aniversário às quartas-feiras. Vocês sabem por quê.
AP
Em outubro, Marty Turco e o disco não estão se entendendo muito bem.
(25/10/2008)
AP
Esse aí passou, goleirão.
(25/10/2008)
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Página publicada em 30 de outubro de 2008.