Por: Alexandre Giesbrecht
São apenas quatro em cinqüenta. Explicando melhor: nas últimas cinqüenta vezes que os Flames ficaram em desvantagem numérica, sofreram só quatro gols. Talvez assim o número nem pareça lá grande coisa, mas representam os últimos 14 jogos do time. Mais precisamente, desde que os Sharks marcaram quatro gols em vantagem numérica na vitória por 6-1 em 13 de novembro. Levou mais de um mês para o Calgary sofrer a mesma quantidade de gols com um ou mais homens a menos.

O assistente técnico dos Flames, Rich Preston, dá a receita. "Só o Anaheim ficava mais vezes em desvantagem numérica do que nós e desde aquele jogo [contra os Sharks] ficamos uma média de três vezes por jogo com homens a menos. É muito mais fácil lidar com isso. Você dá tantas chances a um time como, digamos, o Detroit e, não importa se a sua equipe de desvantagem numérica é boa ou não, eles vão marcar pelo menos um gol."

Essa não é a única fórmula do time, que teve uma recaída no jogo de terça contra os Blues, quando deram sete oportunidades ao adversário. Tudo bem sofreram um gol, mas isso não era uma grande surpresa, pois qualquer livro sobre estatística vai falar sobre regressão à média. Sim, porque até sofrer o gol de Brad Boyes os Flames não sabiam o que era sofrer gol com homens a menos havia dezoito tentativas. Ainda assim, foi apenas um gol em sete oportunidades, o que serviu para diminuir a eficiência dos Flames nessa situação em apenas dois pontos percentuais (de 94% para 92%) desde a derrota para os Sharks. E vale ainda citar que o gol teria sido em igualdade numérica se tivesse saído dois segundos depois?

Contando essa partida, nos 14 últimos jogos o time deu mais que quatro chances de vantagem numérica aos adversários em apenas três partidas. Em uma delas, foram cinco chances desperdiçadas pelos Wings, que ganharam na prorrogação. E na que sobrou, também contra os Blues, sofreu dois gols em cinco oportunidades — mas ganhou o jogo. Se eliminarmos as partidas contra o St. Louis da conta, o aproveitamento dos Flames nos 12 jogos restantes sobe para 97,4%.

A fórmula tem sido uma mistura entre veteranos matadores de penalidades e atacantes velozes. Entre os componentes desses grupos não há nenhum nome consagrado: Craig Conroy, Curtis Glencross, Dustin Boyd, Eric Nystrom, Matthew Lombardi, René Bourque e Wayne Primeau. Destes, o mais conhecido é Conroy e, mesmo assim, é alguém que está longe de ser uma estrela. Ainda assim, eles formam a quinta melhor equipe de desvantagem numérica neste instante, com um aproveitamento de 85,5% no geral.

Na defesa, o canadense nascido no Brasil Robyn Regehr é mais celebrado que qualquer um dos que jogam à sua frente quando um dos Flames vai para o banco de penalidades, mas ele não deixa de ressaltar que são justamente esses outros jogadores que têm feito a diferença: "Acho que estamos com muito mais velocidade lá na frente neste ano. Eles tornam mais difícil a vida dos adversários em vantagem numérica porque marcam-nos rapidamente e não dão muito tempo para que eles armem nada."

Regehr não mede elogios para seus colegas. Para Regehr, a chave é a marcação na frente, o que é um grande elogio vindo de um defensor de nome como ele. "Também acho que o nosso pessoal tem feito um bom trabalho matando as penalidades no ataque e na zona neutra", prossegue. "Eles são bem agressivos. é muito melhor para um defensor ficar mais à frente de olho na jogada do que na sua própria zona, num vai-volta, correndo atrás do disco e tentando esvaziar a boca do gol."

No ano passado, o time começou mal na desvantagem numérica, e isso atrapalhou a estatística durante o restante da temporada. Desta vez, houve um compromisso desde o início, que está rendendo frutos agora, depois de um começo que, se não foi desastroso, também não foi brilhante. "Desde o goleiro, cada um tem de fazer sua parte para a coisa funcionar", explica Preston. "Nós realmente temos reforçado a marcação na frente, e hoje temos mais jogadores que podem fazer isso [do que no ano passado]."

Até quem nunca tinha sido matador de penalidades em tempo integral, como Boyd e Glencross, está se dando bem na função. "Eu já tinha feito essa função aqui e ali na minha carreira", conta Glencross, "mas este é o primeiro ano em que a comissão técnica demonstra confiança em mim e me mantém lá." Já Boyd, que sempre fez parte das equipes de vantagem numérica quando estava nos juniores, também está gostando da nova função. "Eu adoro", diz. "Você fica lá por 20, 30 segundos, trabalha duro, bloqueia chutes, isola o disco. Na maior parte do tempo é bem simples."

Não, não é tão simples assim. Se fosse, os aproveitamentos de todos os times estariam na casa dos 90% ou mais. Como não estão, fácil é destacar na declaração de Boyd o ponto-chave: "trabalho duro". Isso é que faz a diferença — em qualquer aspecto do jogo ou da vida.
Alexandre Giesbrecht, publicitário, só escreveu "cinqüenta" por extenso para aproveitar os últimos dias do trema.
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Página publicada em 18 de dezembro de 2008.