Por: Thiago Leal

Quantos jogadores param e, logo de cara, têm seu número aposentado pela franquia em questão? Vejamos... lendas como Alex Delvecchio, Ken Dryden, Phil e Tony Esposito, Grant Fuhr, Pat LaFontaine ou Bryan Trottier tiveram que esperar algum tempo entre suas aposentadorias até que as franquias que defenderam decidissem aposentar seus números. Alguns, como Syl Apps ou Red Kelly apenas tiveram seus números "honrados", e não definitivamente aposentados.

O Vancouver Canucks não quis cometer esse erro quando Stan Smyl decidiu parar de jogar. Seus 13 anos servindo à franquia foram imediatamente reconhecidos. Smyl parou ao fim da temporada 1990-91 e, durante a temporada 1991-92, seu número foi aposentado em cerimônia oficial, sendo a primeira vez que os Canucks colocavam a homenagem em prática. No rinque, assistindo ao banner ser pendurado no teto da arena, estava um jovem chamado Trevor Linden, que defendia o clube há quatro temporadas. Sem dúvida, Linden sonhava com o dia em que isso aconteceria com sua camisa. Mas não podemos dizer que ele esperava que isso fosse acontecer.

Recrutado como segunda escolha geral de 1988, Linden foi oficialmente recebido pelo lendário gerente geral Pat Quinn. Vindo de Medicine Hat, cidade que é um verdadeiro celeiro de craques, Linden estreou profissionalmente em 1988-89 com 59 pontos na temporada regular. Jogaria ininterrupamente pelos Canucks por dez temporadas, sendo as melhores em 1993-94, quando levou o clube à decisão da Copa Stanley, com 25 pontos na pós-temporada; e em 1995-96, com 80 pontos na temporada regular.

A passagem pelos Islanders, Canadiens e Capitals e a Presidência da NHLPA
Em 1998, próximo ao dia-limite de trocas, Linden foi envolvido em negociação com o New York Islanders. O ponta direita mudou-se para Long Island, enquanto os Canucks obtiveram as dores-de-cabeça Bryan McCabe e Todd Bertuzzi, e mais uma escolha de terceira rodada — que seria utilizada para recrutar Jarkko Ruutu. Linden só estreou pelos Isles após os Jogos Olímpicos, que disputou com a Seleção Canadense. Jogou 1/4 da temporada 1997-98 pelos Isles. Em junho, já de férias, Linden foi eleito presidente da NHLPA, ficando no cargo até 2006 e sendo o último a ocupá-lo, já que atualmente a NHLPA não tem presidente. Mas Linden não passaria muito tempo nos Isles. Após a temporada 1998-99, partiu para Montreal. Lá, com os Canadiens, jogou apenas mais duas temporadas. E mandou-se para Washington. Mais duas temporadas e Linden voltaria para casa, para defender novamente os Canucks.

O período fora de Vancouver marcou também uma longa era de contusões para Linden. O ponta teve dificuldades físicas durante suas passagens por Montreal e Washington, comprometendo também seu rendimento. Com um número e uma média de pontos bem baixos, Linden não agradou e foi novamente negociado. Dos Canadiens para os Capitals. Dos Capitals para os... Canucks.

A volta para casa e aposentadoria
Linden voltou para Vancouver durante a temporada 2001-02. Mas, assim como todo jogador de hóquei que começa a ter contusões em série, seu rendimento passou a ser prejudicado por limitações físicas. Suas seis últimas temporadas em Vancouver, incluindo duas temporadas completas e uma com 80 jogos, foram marcadas por um rendimento de pontos tão baixo quanto na era Montreal/Washington.

Seu valor como atleta, no entanto, era um item que o colocava acima de qualquer Sidney Crosby ou Alexander Ovechkin. Não é à toa que era o responsável por liderar seus colegas jogadores na frente da NHLPA. O prêmio NHL Foundation Player, ganho recentemente, também comprovam o valor que Linden agrega a esse esporte único.

Depois de seis temporadas com o Vancouver pós-retorno, Linden foi parando aos poucos. Em 2006, após as discussões que levaram ao locaute, Linden abandonou a presidência da NHLPA. Segurou-se mais duas temporadas e se aposentou também dos rinques. "Um cara que tentou trabalhar duro e sempre fazer o que é certo", disse Linden sobre si mesmo, em sua aposentadoria. Falta a Copa Stanley. Sobra honra.

E é atletas como Linden que me fazem questionar o que vale mais numa carreira? Títulos? Prêmios? Anéis? Ou caráter? Porque, pensando dessa forma, qual valor teria Claude Lemieux? Detentor de quatro Copas Stanley, Lemieux tem respeito por parte de quem? Dos torcedores do New Jersey Devils? Do Pedro Panda? Porque é tratado como um covarde por boa parte dos jogadores e torcedores da NHL. É visto como alguém traiçoeiro e sem caráter. Aí você compara com Linden, nenhuma Copa Stanley ou Conn Smythe. Mas que ouve de Jarome Iginla, no seu último jogo, as seguintes palavras: "Sua carreira... muitos de nós o assistíamos quando éramos mais novos, o quanto ele lutou na sua estréia. Ele joga a tanto tempo, e ainda hoje quando jogo contra ele, ele é um cara que joga duro o tempo todo. Ele é um líder. Ele é um cara bom, honesto, e alguém difícil para você enfrentar. Ele não é fácil. Temos muito respeito por ele e por tudo que ele fez por nós fora do gelo, enquanto um grupo de jogadores. Não tenho tanta certeza de que é o último jogo dele, mas se for, foi uma honra enfrentá-lo". E, bem, analisando a quantidade de redundâncias e o discurso quebrado, percebe-se o quanto Iginla estava emocionado ao falar sobre Linden.

A comoção da torcida do Vancouver em sua aposentadoria foi a mesma que os fãs esboçaram em seu retorno ao time. Porque Linden confunde-se com os Canucks. Em suas próprias palavras, "Se alguém me perguntasse o que me vem à mente quando penso na minha carreira no hóquei, não há dúvida nenhuma de que eu estaria com o uniforme do Vancouver Canucks".

Na noite de 17 de dezembro, os Canucks retribuíram o carinho com que Linden trabalhou pela franquia, e aposentaram sua camisa, numa cerimônia igualmente emocionante. Seus colegas de time, que há uma temporada atrás estavam ao lado dele, no rinque, se apresentaram usando sua jérsei, de número 16, levando o ex-jogador às lágrimas.

Linden foi um campeão. Mesmo sem levantar a Copa Stanley. Ele tem algo mais importantes que anéis em seus dedos. Tem respeito.

Talvez esta coluna não tenha ficado tão boa quanto eu gostaria. Mas, assim como Jarome Iginla, me emocionei escrevendo sobre Trevor Linden.

Thiago Leal é grande fã de Trevor Linden e de todos que tenham jogado este esporte com honra e hombridade.
Jeff Rud
Trevor Linden, ainda garoto, ao lado de Pat Quinn, no seu recrutamento.
(11/06/1988)

Vancouvercanucks.com
Uma imagem simbólica para os Canucks: Linden abraça Kirk McLean após a vitória sobre o New York Rangers, no jogo 6 da final da Copa Stanley.
(11/06/1994)

Kaiser Matias
Linden, em sua última temporada pelo Vancouver Canucks.
(16/11/2007)

AP
Linden, durante a cerimônia para a aposentadoria da camisa #16, homenageado por seus colegas.
(17/12/2008)

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Página publicada em 18 de dezembro de 2008.