Nesta década, estamos assistindo a uma verdadeira supremacia das equipes da Nova Inglaterra nas principais ligas profissionais norte-americanas. O New England Patriots foi o precursor dessa boa fase, vencendo o Superbowl em 2002, e repetindo a dose em 2004 e 2005; depois veio o Boston Red Sox, que levou a Série Mundial de 2004 — após 86 anos de jejum —, voltando ao título em 2007. Na NBA, o Boston Celtics voltou a levantar o caneco na última temporada, após 22 anos de seca, e vem passeando no campeonato deste ano.

E quanto à franquia da NHL? Bem, o Boston Bruins, cinco vezes campeão da Copa Stanley — a última delas em 1971-72 —, e que até agora é a "ovelha negra" de Massachusetts, veio com uma nova cara nesta temporada. A equipe lidera com folga sua divisão, é líder da Conferência Leste, e já é apontada como uma das favoritas ao título da liga. Se durante a temporada regular passada os Bruins eram motivo de chacota em cidades como Montreal, por exemplo, hoje em dia a história é bem diferente.

A goleada de 6-1 sobre os Canadiens no mês passado foi apenas um dos pequenos exemplos que serviram para mostrar a todos seus adversários, principalmente os da Divisão Nordeste, que este ano os comandados de Claude Julien querem de fato deixar de ser o "patinho feio" da cidade. Em 30 partidas disputadas, foram 104 gols a favor e apenas 63 contra! Nenhum outro time da liga sofreu menos gols do que os Bruins até aqui.

Impressionante também é verificar que nove jogadores dos Bruins estão acima dos dois dígitos em +/-. O novato ponta esquerda Blake Wheeler tem +18, o veterano Marc Savard, +17. Isso sem falar que há mais quatro jogadores com +9.

Savard é o maior pontuador da equipe, com 34 pontos (8 gols e 26 assistências). O garoto Phil Kessel é o artilheiro, com 19 gols. E outros jovens vêm se destacando nas linhas de ataque, como Blake Wheeler, que já tem nove gols na temporada, e Chuck Kobasew.

"Sabemos que somos uma boa equipe, e muitos dos rapazes têm orgulho disso," diz Savard. "Aqui, qualquer linha pode marcar gols em qualquer jogo, e é justamente isso o que estamos fazendo agora."

Uma superioridade perante muitas equipes que também pode ser explicada pela habilidade do time quando joga em vantagem numérica (VN). A equipe esteve em VN apenas 109 vezes até aqui, mas soube aproveitar a maior parte dessas oportunidades. São ao todo 27 gols em VN, com aproveitamento de 24,8%, o terceiro maior da liga.

E todo esse desempenho poderia ter ido por água abaixo quando, em meados do mês passado, a equipe perdeu uma de suas peças-chave em VN. Contundido, Marco Sturm, que além de versátil é muito forte, foi afastado do elenco. A solução encontrada por Julien foi alternar P.J. Axelsson e Milan Lucic para cumprir a função de Sturm enquanto este esteve de fora. E, para a alegria de todos no Garden, os dois não decepcionaram.

Para não se comprometer, Lucic diz ter sido apenas necessário "entender aquilo que o Marc Savard está fazendo. Se ele está com o disco, vou até a linha do gol e jogo como se fosse um pivô. Quando você joga como o "homem da sobra", você tem que fazer a melhor jogada possível quando tem o disco. É mais fácil e, ao mesmo tempo, mais difícil, ficar de frente para o gol. Você recebe vários chutes a todo momento. Mas lá [na linha de gol], você vai e volta, vai e volta, vai e volta, e acaba ficando com o disco mais vezes quando está em vantagem numérica."

E se à frente da linha azul os fãs dos ursos de Boston não têm do que reclamar, o que dizer da defesa menos vazada do campeonato?

Mas talvez nada disso fosse possível se dois jogadores fundamentais não estivessem dentro do gelo.

O defensor Zdeno Chara é o capitão e xerife do time. Ninguém toca num jogador dos B's achando que sairá ileso do gelo. Muito menos quando o jogo é no TD Banknorth Garden. O maior exemplo disso foi visto durante a vitória por 4-2 sobre o Atlanta Thrashers, no último sábado. Momentos depois do ponta direita Phil Kessel marcar o primeiro gol dos Bruins na partida, o defensor do Atlanta Boris Valabik ficou tentando intimidar o jovem jogador dos Bruins. Foi aí que apareceu o capitão. Com os seus mais de 2m de altura, Chara foi logo na direção de Valabik, jogou suas luvas no chão, e começou a acertar seguidos socos no adversário, que parecia sem reação.

Para Chara, mostrar quem manda dentro do gelo faz parte de suas funções como defensor e capitão. No dia seguinte à partida, ele disse: "Ele [Valabik] estava fazendo o seu trabalho, tentando jogar fisicamente. Mas, ao mesmo tempo, não podemos permitir que outros times façam isso com os nossos jogadores. Phil está fazendo uma grande temporada e é uma das nossas principais peças. Mas não estou dizendo que só faço isso pelos craques do time. Eu faria por qualquer um."

"Naquele momento eu senti que precisávamos ficar atentos, ou então corríamos o risco de deixar o jogo escapar de nossas mãos," completou o defensor eslovaco.

Claude Julien ficou muito satisfeito com a atitude de seu capitão. "Ele fez o que tinha de fazer, e na hora certa," disse o técnico dos Bruins. "Ele é o líder desse grupo. Não há ninguém que goste de jogar contra ele, e, mesmo contra os melhores jogadores, ele não desperdiça sua força física."

E o que Julien teria a dizer do desempenho do seu goleiro, Tim Thomas, até aqui? O estadunidense de 34 anos é vice-líder da liga em percentual de defesas (93,8) e em média de gols sofridos (1,96), não deixando dúvidas quanto à sua importância para a campanha dos B's. Para melhorar, Manny Fernandez, o segundo goleiro, é o terceiro na lista de média de gols sofridos, com 2,07. Com dois arqueiros desse porte, almejar uma boa campanha na pós-temporada não requer muito esforço da comissão técnica — e muito menos dos torcedores.

E se é a justamente a Copa Stanley a última taça que falta na agenda de desfiles pela cidade de Boston nesta década, empenho para trazê-la é o que não faltará no Garden.

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• Para deixar de ser a 'ovelha negra'
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