Por: Marcelo Constantino

Desde que eu comecei a acompanhar a NHL, em 1996, eu já tinha visto o Detroit Red Wings sofrer goleadas. Lembro bem que em plenos playoffs de 1997 houve uma clássica troca de goleadas — ambas por 6-0 — entre Detroit e Colorado. Se não me engano, no jogo 4 os Wings meteram 6-0 e no jogo 5 os Avs retribuíram o favor.

Mas eu nunca tinha visto o Detroit levar de 8-0.

Aconteceu, na semana passada, precisamente no sábado retrasado, frente ao Nashville Predators. Ok, é o Nashville, que anda endiabrado na corrida por uma vaga nos playoffs. E daí? Dia ruim? Convergência de falhas sucessivas? Desfalques? Tudo isso junto e mais a lua no quadrante tal? Não há desculpa. Trata-se ainda de um adversário potencial na primeira fase.

Para piorar, quando muitos acreditavam que aquilo havia sido apenas um grotesco lapso na temporada, apenas três jogos depois os Wings caíram novamente de oito. Novamente num sábado, o passado. E agora frente ao Columbus Blue Jackets, que aplicou definitivos 8-2 sobre o atual campeão em plena Joe Louis Arena. Eu vivi pra ver o poderoso Detroit sendo devastado pelo Columbus, e jogando em casa. Outro adversário potencial na primeira fase.

Fato curioso e representativo do jogo: Rick Nash meteu um hat-trick, e todos os três gols foram sem assistências. Sabem há quanto tempo isso não acontecia na NHL? Há nada menos que 61 anos, quando Maurice Richard (ele mesmo) marcou três gols sem assistências. Aliás, a maior parte dos gols dos Blue Jackets foi resultado de cagadas defensivas do Detroit, geralmente entregando o disco de presente ao adversário.

Humberto Fernandes me informa que, comparativamente à temporada passada, a defesa dos Red Wings foi a que mais piorou, dentre todas as equipes da NHL. Isso não se trata de achismo, trata-se quantidade de gols sofridos. Pudera. Embora tenha o ataque mais positivo de toda a NHL, somente dois times — dentre os oito primeiros (esta matéria está sendo escrita na terça-feira) — sofreram mais gols que o Detroit na Conferência Oeste: Calgary e Edmonton. Na Leste, também apenas dois: Washington e Pittsburgh. A média de gols sofridos por jogo já beira os três, marca negativa que o time não alcança há nada menos que quase 15 temporadas. O time de matar penalidades é outro reflexo desse desastre: é o 27º entre os 30 times.

Então o time que era tão aclamado por saber jogar bem tanto ofensiva quanto defensivamente agora parece ter perdido a excelência defensiva. O que mudou efetivamente nos Red Wings para isso? A maioria expressiva atribui esse declínio a outro setor: aquele que fica debaixo das traves, o goleiro. Sobretudo pela horrorosa temporada de Chris Osgood, sendo suplantado inclusive pelo reserva Ty Conklin. Pura balela.

Ao longo de sua carreira no Detroit, Osgood sempre foi, digamos, irregular. O time já passou por diversos momentos ruins ao longo das últimas dez temporadas. Goleiros já se alternaram de forma patética na equipe (Joseph-Legace-Hasek). O time já atuou, num determinado momento de uma temporada passada, repleto de jogadores de ligas menores, em função de contusões. Março é tradicionalmente um mês ruim, de declínio do Detroit na temporada. Mesmo com tudo isso, somado ou não, o time não levava goleadas humilhantes como essas duas últimas. Não há justificativa que cole.

Estamos falando de um time que tem uma defesa composta por nomes como Nicklas Lidstrom, Brian Rafalski, Niklas Kronwall e Brad Stuart. Somente esses quatro comem mais de US$ 20 milhões da folha salarial, o que representa cerca de 35% do teto.

Estamos falando do time que tem uma penca de atacantes que comumente são apontados como bons nomes para o Troféu Selke. Henrik Zetterberg e Pavel Datsyuk são apontados como dois dos mais completos atacantes da liga, e o russo ganhou o Selke da temporada passada. Kris Draper também já levou o Selke para casa. Kirk Maltby forma (ou formava?) com ele uma das mais antigas e eficientes duplas defensivas da liga.

Outros jogadores, como Daniel Cleary e Johan Franzen, também são reconhecidos como bons atacantes em aspectos defensivos. A rigor, jogador que não sabe atuar defensivamente não se cria no sistema dos Red Wings. Do que se trata, então?

O que mudou de lá para cá, a ponto de promover essa brutal queda no rendimento defensivo do time, eu realmente não sei. O artigo fica incompleto nesse quesito, mas prefiro não me aventurar em respostas-suposições. O que fica claro para mim é que aquela propalada excelência defensiva do time — um dos pilares do sistema de jogo do Detroit — não existe mais. E times ineficientes defensivamente não têm vencido a Copa Stanley ultimamente.

Isso não significa, entretanto, que os Red Wings sejam carta fora do baralho na briga pela Copa Stanley. Há talento de sobra por lá para reverter, ou mesmo atenuar essa nova situação. Sobretudo depois de dois alarmes dessa magnitude.

Marcelo Constantino estará no "Somewhere back in time".

Julian H. Gonzalez/DFP
Chris Osgood leva um dos vários gols que sofreu dos Blue Jackets no último sábado. No caso era o quinto gol.
Julian H. Gonzalez/DFP
Osgood é sacado do time para a entrada de Ty Conklin.
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Página publicada em 11 de março de 2009.