Por: Eduardo Costa

De acordo com o roteiro original do Columbus Blue Jackets para esta temporada, Steve Manson deveria estar adquirindo experiência entre profissionais pelo Syracuse Crunch, afiliado do time na AHL. Mas a enésima contusão de Pascal Leclaire em sua tenra carreira abriu caminho para Mason no elenco principal.

O goleiro de 20 anos mais do que deu conta da tarefa. Poucos meses de ação já bastaram para que as atuações de Mason transformassem Leclaire em uma moeda de troca, usada para adquirir Antoine Vermette junto ao Ottawa Senators.

Mason não apenas suplantou Leclaire, ele é hoje é o maior destaque de uma equipe que tem boas chances de chegar à sua primeira série de playoffs em oito temporadas de existência.

Líder em shutouts (nove) e também muito bem colocado em média de gols sofridos e percentual de defesas, Mason carrega o favoritismo no Troféu Calder, como melhor novato da temporada. Curiosamente, dois companheiros de equipe largaram na frente nessa "disputa", mas Jacub Voracek perdeu um pouco do fôlego e Derick Brassard tornou-se desfalque após se contundir em uma inútil briga.

O rendimento estrelar de Mason o coloca também na disputa de outro troféu. Seu nome também está nas listas de muitos para o Vezina.

Mas seria Mason produto de um sistema defensivo, já que o CBJ segue a cartilha de Ken Hitchcock, ou se trata realmente de um arqueiro diferenciado?

A resposta para ambas as perguntas parecem ser afirmativas. Com boa vantagem para a segunda opção.

Assim como Niklas Backstrom, beneficiado pela presença de Jacques Lemaire no comando do Minnesota Wild, Mason não pode reclamar de ter o conservador Hitchcock atrás do banco dos Blue Jackets. Na última temporada, o CBJ já era uma equipe difícil de ser vazada. Apenas oito times sofreram menos tentos. O franco-canadense Leclaire voou alto e ficou a apenas um shutout dos dez de Henrik Lundqvist. Terminou bem colocado também em todas as outras estatísticas de sua posição.

Na temporada 2006-07, o já experimentado Fredrik Norrena chegou a passar 155 minutos e 28 segundos sem levar gol mesmo tendo um bando à sua frente.

Na atual campanha, os Blue Jackets sofrem, em média, pouco mais de 28 chutes por jogo, um facilitador para qualquer goleiro. E a maioria dos chutes vem de ângulos pouco favorecidos para o atirador.

Mas nem sempre Mason tem um dia de relativa tranqüilidade. Fomos buscar como foram suas atuações contra adversários de peso e de alto poder ofensivo. A constatação é que ele geralmente foi decisivo. Quando o ferrolho foi vencido, lá estava o novato.

Foi contra o Detroit Red Wings, Boston Bruins e o Washington Capitals, respectivamente primeiro, segundo e terceiro melhores ataques de toda a NHL, que Mason entrou de vez para o radar dos troféus.

Contra os Capitals foram dois shutouts, em dois prélios. E todos sabemos quem comanda o mortal grupo de atacantes do time da capital americana.

Em novembro, Alexander Ovechkin foi parado seis vezes por Mason em Columbus. A frustração ficou evidente na face mal desenhada do russo, que buscaria uma revanche.

Dezesseis jogos depois, eles voltaram a medir forças, desta vez em Washington. Os Blue Jackets estavam com inúmeros desfalques e sofreram 45 disparos a gol. Ovechkin deitou e rolou. Doze chutes. De longe, de perto, até mesmo sem marcação. Nenhuma delas passou por Mason. Ou seja, no "placar" entre o goleiro com mais shutouts na liga e o goleador (47), terminou em 18-0 para Mason. Imbatível em 71 chutes dos Capitals — que também têm o linha azul mais goleador da NHL em Mike Green — na temporada.

Contra os Red Wings, autores de 241 gols, Mason parou 44 discos no massacre do time de Ohio sobre o de Michigan por 8-2 no último sábado. A maior parte desses chutes não exigiu muito do goleiro, já que ele conseguiu ver de onde vinha o disparo. Mesmo assim 44 intervenções frente aos atuais campeões não é nada mal.

Contra o Boston Bruins, nessa última terça-feita, vimos o duelo entre dois goleiros que deverão estar entre os três que brigarão pelo Vezina. Mason foi o vencedor do aguardado confronto com Tim Thomas. Mais uma vez nada passou pelo arqueiro dos Blue Jackets. Nono shutout logo diante do time, até então, líder geral da NHL em pontos. Uma vitória que aproximou ainda mais a equipe de Ohio de sua primeira pós-temporada.

Mais uma noite em que os elogios sobraram. Mais uma noite em que nem mesmo o fator "sistema Hitchcock" foi capaz de ofuscar uma atuação primorosa.

Todos sabemos como é arriscado dar a um goleiro de tão pouca rodagem, tamanho cartaz. Mas algumas características soltam aos olhos.

A primeira delas é antes mesmo do disco ir ao gelo. Se trata de um gigante. Proporções de um atacante de força para um goleiro (1,93 m e 96 kg). Ele sabe usar esse tamanho, cobrindo sempre muito bem sua meta. Claramente o jovem baseia seu jogo em colocação e visão. Óbvio que os movimentos laterais não são dos mais espetaculares com um tamanho desses.

Também é um arqueiro econômico, que sempre espera até o último segundo para ver a intenção do chutador e raramente é visto nos vídeos das mais plásticas jogadas da semana. Nada de movimentos espalhafatosos ou mergulhos cinematográficos, o que favorece caso sua primeira defesa renda um rebote.

Por ser um goleiro pesado, o que acaba exigindo bastante do joelho, esse estilo pouco acrobático é também uma questão de sobrevivência. Ele aprendeu isso da pior maneira possível, com algumas contusões no hóquei de base — e esse ainda é um risco real, o que demanda um reserva decente para dar aquele descanso ao titular.

Como bônus, Mason também sabe manusear o disco. Hoje qualquer equipe que conte com um goleiro que distribua bem o disco, começa o jogo com uma pequena vantagem.

Números e características que justificam com sobras as indicações quase certas para o Calder e o Vezina. Vencer ambos os troféus colocaria Mason em companhia ilustre. Apenas quatro indivíduos levaram ambos para casa em uma temporada.

Frank Brimsek (Bruins, 1938-39), Tony Esposito (Blackhawks, 1969-70), Tom Barrasso (Sabres, 1983-84) e Ed Belfour (Blackhawks, 1990-91) tiveram longas e vitoriosas carreiras na NHL. Se Mason seguirá o mesmo caminho, só o tempo irá dizer.

Cabe a nós analisar o presente, e entre as traves nessa temporada ninguém tem sido tão importante e brilhante, mesmo dentro da simplicidade, como Steve Mason.

Eduardo Costa sempre fica com um pé atrás quando se trata de goleiros, mas vê um potencial absurdo em Steve Mason.
Claus Andersen/Getty Images
Gol menor: Steve Mason, um gigante de 1,93 m e 96 kg, mostra que os Blue Jackets são bem mais do que Rick Nash.
(07/03/2009)
AP
Campeão mundial de juniores com a seleção canadense, Mason tem na colocação e visão seus melhores aliados.
(01/03/2009)
Edição Atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Contato
© 2002-09 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução do conteúdo escrito, desde que citados autor e fonte.
Página publicada em 11 de março de 2009.