Por: Eduardo Costa

Assim que a transmissão da partida entre Montréal Canadiens e Dallas Stars foi iniciada pela RDS, testemunhamos a tensão que a estrondosa queda de rendimento da equipe vinha causando.

A tabela não demorou a aparecer, e mostrava os Habs na 8.ª posição, com um ponto a mais que o perseguidor mais próximo, o Carolina Hurricanes. Em seguida os analistas Joel Bouchard e Jacques Demers deram seus pareceres.

Mesmo sem entender nada de francês, o tom de voz e a exaltação acima do normal de Demers, último treinador a levar Montreal a uma conquista de Copa Stanley (1993), foi um bom indicativo.

Após uma frustrante derrota por 2-0 para o débil Atlanta Thrashers, que sucedia outro resultado medíocre — goleada para o desfalcado Buffalo Sabres por 5-1 —, Guy Carbonneau, então o treinador, sabia que o massacre de críticas se intensificaria.

Há muito a equipe apresentava um hóquei indigno, bem distante do que mostrou há uma temporada, quando, basicamente com o mesmo elenco, abocanhou a 1.ª colocação do Leste.

Constantes mudanças de linhas. O difícil convívio com algumas estrelas da corporação, que levou ao afastamento de duas delas para "refletirem" sobre a temporada. Predileção por atletas de poucos recursos técnicos em momentos decisivos de jogos importantes. Essas eram queixas comuns entre imprensa e torcida.

Ninguém entendia o por que do goleador do time, Andrei Kostitsyn, ter menos tempo de gelo do que o atacante de linha de confronto, Tom Kostopoulos, em um bom número de jogos. Nem o por que de Mathieu Dandenault estar no gelo nos minutos finais de uma partida na qual os Habs buscavam um gol para poder forçar a prorrogação.

Embora tenha mexido muito nos combos ofensivos, o duo Kovalev e Andrei Kostitsyn foi mantido por longos 36 embates, nos quais a sociedade rendeu apenas nove pontos.

Segundo Saku Koivu, o capitão da nau, a forma com que Carbonneau se dirigia aos seus subordinados estava longe da ideal. Na verdade ela nunca foi a ideal, mas não foi exposta antes devido aos bons resultados. Quando a crise chegou, a cizânia ganhou a luz.

"[comunicação] provavelmente não era seu ponto mais forte, mas todos nós temos nossas fraquezas."

Fraquezas que têm uma parcela gigantesca também na queda de produção do time. Da indiferença irritante de Alexei Kovalev em certos momentos, em especial quando o "C" voltou para o peito de Koivu. Dos excessos extra-gelo do ainda verde goleiro Carey Price. Do fator Robert Lang, que mesmo sem culpa, manteve a tradição de destruir sonhos.

Mesmo assim, pouco se falava de uma atitude drástica. Pouco se leu ou se escutou a palavra demissão na mídia que cobre a equipe de forma mais íntima. Até que ela aconteceu.

Óbvio que uma parcela da torcida pedia a cabeça do ex-capitão Carbo, como a primeira foto ao lado mostra. Mesmo assim o choque da demissão de Carbonneau pegou o mundo Habitant de surpresa. Ainda mais após uma rara vitória em Dallas, onde os Canadiens sempre sofreram em confrontos contra os Stars.

Nem o 3-1 em solo texano, nem mesmo o vitorioso passado de Guy Carbonneau com a camisa tricolor, tampouco sua notória amizade com seu ex-companheiro Bob Gainey, o responsável por ter feito de Carbonneau o 28.º treinador da história da mais vitoriosa organização da NHL, em 2006. Nada disso salvou a pele de Carbonneau.

De fato, antes mesmo do time colocar os pés em Dallas, o destino de Guy já estava traçado.

As péssimas atuações nas últimas oito semanas de ação e a crescente possibilidade de ficar fora dos playoffs em sua temporada centenária foram os motivos citados por Gainey.

"Escolhi Guy Carbonneau para ser o treinador. Eu estendi seu contrato após o time ter tido uma grande campanha na última temporada. Há pouco tempo respondi uma questão dizendo que aquela [renovação contratual] foi uma das melhores decisões que eu tive. A escolha que fiz hoje pode parecer uma contradição para tudo aquilo. Mas nas últimas oito semanas, nossa performance tem sido abaixo da média, e acredito que uma mudança de direção que causasse impacto direto no gelo era preciso."

Acredite também que o fato de Carbonneau ter perdido o respeito dos jogadores falou bem alto nessa mudança de direção.

Perder a capacidade de comandar um vestiário foi um dos motivos que levaram a várias demissões apenas nessa temporada. Gainey pode ter sido "embalado" pelo exemplo vindo de Pittsburgh, onde boa parte do elenco do vice-campeão da Copa Stanley parecia em total dessintonia com Michel Therrien. Após a saída de Therrien, os Penguins reencontraram o caminho das vitórias.

Gainey ainda decidiu fazer o mesmo que em 2005, quando demitiu Claude Julien, para logo após guiar a locomotiva até os playoffs. Naquela oportunidade ele venceu 23 jogos, perdeu 15 e empatou três. Nos playoffs sua equipe foi eliminada após seis jogos contra o eventual campeão Carolina Hurricanes, logo na primeira fase.

A atual aventura de Gainey como treinador começou com vitória.

Nessa última terça-feira ele escutou coros de "Guy" e "Carbo" vindo das tribunas do Bell Centre quando o Edmonton Oilers dominava completamente o time da casa no segundo período.

Segundo os atletas, bastou um discurso de Gainey no intervalo para o terceiro período, enaltecendo as qualidades do elenco e como eles deveriam tirar proveitos dos colegas de linha, para mudar o cenário.

Dois gols de Saku Koivu — o da vitória, marcado no tempo extra — restaurou um pouco da calma perdida. A equipe subiu para a 5.ª posição após os dois últimos sucessos, mas ainda está a apenas três unidades do 9.º lugar, o New York Rangers.

A pressão continuará forte nesse turbilhão de emoções que é o Montreal Canadiens, e todos os holofotes estarão sob Gainey. E a ele é concedida a palavra final, quando perguntado sobre o que espera após essa mudança:

"As reais repostas de minha decisão serão os resultados, 35 dias, sete semanas, a partir de agora."

Pagaremos para ver.

Eduardo Costa gostaria de ver um duelo entre Capitals e Penguins na próxima pós-temporada.
Arquivo TheSlot.com.br
Corneteiros perseguiram Guy Carbonneau até em Dallas. A opção Carbo-Yes acabou perdendo.
AP
No retorno de Gainey ao banco, vitória agônica frente aos Oilers. Ainda é cedo para dizer o que mudou.
(10/03/2009)
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Página publicada em 11 de março de 2009.