Por: Alexandre Giesbrecht

A demissão de Michel Therrien é daqueles temas que dividiam opiniões desde muito antes de suas respectivas concretizações. Não é de uns meses para cá que muitos torcedores dos Penguins vinham clamando pela cabeça do técnico; isso se arrasta desde muito antes de a temporada atual começar. Mesmo os rumores de queda são antigos: quando o atual gerente geral, Ray Shero, assumiu o cargo, em maio de 2006, especulava-se quanto tempo ele levaria para substituir Therrien, que representaria uma "herança" supostamente incômoda de seu antecessor.

Pois bem, Therrien não só permaneceu como técnico dos Pens, como após a excelente campanha — é só no Brasil que um vice-campeonato é considerado má campanha — nos playoffs do ano passado ele teve seu contrato renovado. E por nada menos que três anos. O simples fato de a renovação ter sido por um período longo já deveria ter feito recrudescer o número de especulações em torno da demissão do treinador, mas o assunto continuou sendo discutido ad nauseam ao longo desta temporada, mesmo quando os Penguins ainda frequentavam a parte de cima da tabela.

Com a queda livre do time, que não ganha mais de dois jogos seguidos desde 15 de novembro (e mesmo duas vitórias seguidas só aconteceram duas vezes nesse período), os clamores foram aumentado, o que pôde ser facilmente percebido em qualquer fórum relacionado ao Pittsburgh. O sucesso do ano passado e o longo contrato recém-assinado eram os principais argumentos dos defensores do francofônico, mas os insucessos quase seguidos tornaram a discussão inócua, e Therrien viu sua cabeça rolar pelo cadafalso no último domingo.

Shero não chegou a citar um motivo específico, dando apenas a entender que a gota d'água fora a péssima atuação do time no jogo de sábado contra os Maple Leafs. Os Pens abriram 2-0 no primeiro período e sofreram seis gols seguidos, incluindo cinco nos últimos 20 minutos, e perderam por sonoros 6-2 para um time que deverá ser matematicamente eliminado dos playoffs em cinco, quatro, três... A derrota não acabou com as chances de os Penguins alcançarem os playoffs, mas a situação vai ficando cada vez mais delicada, com apenas 24 jogos pela frente e uma distância de seis pontos para o oitavo colocado. O time vai precisar não só de atuações inspiradas, como da queda de adversários diretos pela vaga. Rangers e Canadiens têm dado motivo para a cidade de Pittsburgh ter esperança; o problema é que as atuações dos Pens têm servido para esmagar tais esperanças.

O primeiro jogo com o técnico interino Dan Bylsma, até sábado o técnico do time dos Penguins na AHL, no comando foi bastante representativo nesse sentido. Ele não teve tempo de fazer sequer um treinamento, mas pegou de cara os Islanders, ancorados no fundo do poço com a lanterna na mão. Se o problema era mesmo Therrien, foi quase como se ele estivesse no comando, já que o resultado foi praticamente igual, derrota por 3-2, nos pênaltis.

Por outro lado, apesar do bom trabalho feito pelo técnico ao longo de seus pouco mais de três anos no comando, é inegável que certas características suas irritavam vários torcedores e, pior, até muitos jogadores. Therrien não se importava em criticar seus comandados, mesmo em público, e ninguém pode dizer que ele é uma pessoa exatamente afável em termos de relacionamentos interpessoais, isso sem falar em uma tendência quase irritante de modificar a configuração de suas linhas mais vezes do que ele escova os dentes. Ninguém dirá isso aos quatro ventos, mas é bem provável que a maior parte do elenco tenha ficado feliz com a notícia da queda.

"Apesar de ninguém ser obrigado a gostar de seu patrão para dar duro em seu serviço e trabalhar de maneira eficiente, motivar seus subordinados por meio do medo e de abusos verbais não vai fazer com que eles estejam dispostos a derrubar uma parede por seu chefe", analisa Dave Molinari, que cobre os Penguins para o jornal Pittsburgh Post-Gazette. Atuações apáticas em dezembro, como as derrotas para o Lightning e para os mesmos Maple Leafs, fazem crer que os jogadores não estavam dispostos sequer a atravessar uma parede de isopor por Therrien.

Avaliar as chances de Bylsma se dar bem — e consequentemente pleitear pela vaga de técnico do time para a próxima temporada — é difícil, pois a equação envolve diversas variáveis, muitas das quais não são sequer conhecidas. Ele já teve algum contato com o time, durante a pré-temporada, quando até ficou no banco com Therrien em dois jogos, mas seu estilo ainda é uma incógnita. Como jogador, ele era daqueles cuja constituição era uma combinação de muita raça com técnica tendendo a zero. E ele nunca negou isso.

"Jogar nesta liga é um privilégio", disse ele ao jornal Los Angeles Times em 1997. "Não dar tão duro quanto você pode no gelo vai contra o que é o esporte." Pode-se esperar que ele cobre exatamente essa determinação de seus novos comandados. Aliás, aqui vale um parêntese: ao menos um dos comandados já até jogou com ele: Petr Sykora foi seu companheiro no time dos Ducks que conquistou o vice-campeonato da Copa Stanley em 2003.

Se ele conseguir extrair dos jogadores tal determinação, isso valerá mais que a inegável técnica que já existe no time, espalhada pelos corpos de Evgeni Malkin e Sidney Crosby, hoje dois dos três principais artilheiros da liga, entre outros. Therrien pareceu ter desaprendido a usar esse talento, e agora ele não é mais o suficiente para levar o time aos playoffs. Vai ser necessário ver no gelo uma dose reforçada de raça e garra. De Crosby e Malkin podemos esperar ver algo nesse sentido. Agora, de Miroslav Satan e Ruslan Fedotenko é um pouco mais difícil. Se Bylsma obtiver sucesso na empreitada com esses dois, pode ser eleito imediatamente para o Hall da Fama.

Alexandre Giesbrecht, 32 anos, está sem seu e-mail funcionando direito desde sábado.
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Página publicada em 18 de fevereiro de 2009.