Há um ano o Montreal Canadiens comemorava o seu ressurgimento como
uma força na NHL, com capacidade de vencer jogos difíceis, mostrando
uma boa química entre seus jogadores e com grandes atuações de um goleiro
novato que os mais afoitos chegaram a cometer a heresia de comparar
ao grande Patrick Roy.
Bem, isso foi um ano atrás. Agora em 2009 a história é totalmente diferente. O técnico Guy Carbonneau não sabe mais como mesclar as linhas, cansou de fazer novas combinações e de xingar seus jogadores durante os jogos, o antigo artilheiro parece ter perdido o faro do gol e o outrora celebrado goleiro, bem, esse é ainda mais triste de ver.
O antes alegre, entusiasmado e excitante de ver jogar Carey Price agora não parece sequer um rascunho do goleiro que parecia ser na temporada passada. Muitos acham que ele ainda não conseguiu superar a decepção dos últimos playoffs quando foi um dos principais responsáveis pela eliminação precoce dos Habs. Há quem diga mesmo que jamais ele irá se recuperar.
A situação dos Habs parece bastante complicada no atual momento. O time não consegue se impor jogando em casa e não consegue incomodar como visitante. Das últimas 13 partidas os Canadiens perderam 10 e só venceram em três oportunidades.
Desde que Carey Price retornou de sua recuperação devido a uma contusão que o tirou de ação por quase todo o mês de janeiro, ele só conseguiu vencer em duas oportunidades. Para piorar a situação, depois da derrota contra o arqui rival Toronto por 5-2 no começo de fevereiro, Price foi praticamente massacrado pela imprensa pelo fato de não ter demonstrado confiança no gelo, tomando pelo menos três gols que seriam claramente defensáveis para um goleiro teoricamente do porte que se acredita que ele seja. Price também se mostrou excessivamente frio durante a partida, como se estivesse distante do presente, como se não desse a mínima para o que estava acontecendo no Centre Bell. Outro montante de críticas foi para o seu péssimo posicionamento no gol, demonstrando fragilidade e falta de confiança em si mesmo.
O técnico, a imprensa e os torcedores não perdoaram a apatia de Price e surgiram boatos que o ex-novato teria rompido em lágrimas no vestiário após a partida. Para aliviar um pouco a pressão sobre ele, nas últimas quatro partidas o reserva Jaroslav Halak foi quem começou no gol, mas os Habs só venceram uma dessas quatro. Antes tivessem vencido todas, o que demonstraria que o principal problema do time eram as atuações de Price.
Mas se entra goleiro e sai goleiro e os Habs não conseguem voltar a vencer a demonstrar o bom hóquei que tinham na temporada passada, como resolver a questão então?
Price ainda se mostrou insatisfeito por não ter começado a partida contra o Vancouver Canucks no GM Place, naquela que seria sua primeira atuação como profissional da NHL na sua terra natal (ele é natural da Colúmbia Britânica) e em frente a seus familiares e amigos. O técnico dos Habs foi curto e grosso em resposta a Price durante entrevista antes do jogo: "Estamos aqui para vencer jogos e marcar pontos, não para encontrar família e amigos".
Price deve ter engolido em seco.
Carbonneau ainda deu uma colher de chá a Price e colocou-o no gelo na metade final do terceiro período, quando a partida já estava definida em favor dos Canucks.
Como nem tudo pode ser 100 por cento ruim, os Canadiens foram no mercado e trouxeram de volta o veterano defensor Mathieu Schneider, que estava defendendo o fraco Atlanta Thrashers. O retorno de Schneider visa dar maior poder de fogo à vantagem numérica dos Habs e melhorar também a ofensividade da defesa, que já conta com Andrei Markov em excelente fase.
Schneider começou sua carreira justamente com os Canadiens, na temporada 1987-88, marcou 199 pontos durante sua primeira passagem com o time e esteve presente quando o maior vencedor da história da Copa Stanley levantou a taça pela última vez, em 1993.
Quando a semana dos Canadiens parecia se encaminhar para a rotina de sempre até o jogo de quarta-feira contra o Washington Capitals, foi que veio a notícia surpreendente de que a gerência e a comissão técnica estavam rebaixando o jovem Sergei Kostitsyn para o Hamilton Bulldogs.
Acha que acabou por aí? O gerente geral da equipe, Bob Gainey, surpreendeu a liga ao anunciar que o veterano atacante Alexei Kovalev foi afastado da equipe e não viajará com o time para as partidas contra os Caps e os Pens nessa semana. Kovalev tem apresentado um rendimento muito abaixo do esperado, principalmente quando se compara com a temporada anterior, quando ele foi bastante decisivo e liderou a equipe em pontos. Nas últimas 13 partidas pelos Habs, Kovalev registrou apenas um gol e cinco assistências, apesar do grande tempo de jogo que dispõe em algumas partidas, inclusive durante a vantagem numérica.
Em alguns momentos Kovalev passa a impressão de que realmente está sentindo a pressão para marcar gols, ao mesmo tempo em que procura dar aquele passe para colocar um colega em melhor posição de marcar esses gols. O resultado é um atacante hesitante e com péssima pontaria, chegando a deixar irritada sua própria torcida em alguns momentos, isso sem falar no difícil relacionamento com o técnico Guy Carbonneau, com quem declaradamente tem "reservas" e "assuntos não resolvidos", segundo o próprio Kovalev.
Apesar da dificuldade de marcar pontos nas últimas 13 partidas, os Canadiens ainda ocupam uma das oito vagas para os playoffs na Conferência Leste, mas a diferença para o nono colocado caiu para um nível perigoso, a ponto de fazer alguns torcedores e parte da imprensa esportiva especializada da América do Norte se perguntar se ainda vai dar para os Habs chegarem aos playoffs.
Claro que nem tudo é definitivo. A própria gerência ainda não definiu se o afastamento de Kovalev é irreversível, se ele voltará ao time ou se será trocado. Assim como também não deve ser definitiva a péssima fase de Carey Price.
Ok, nem tudo é passageiro. O péssimo humor e os palavrões de Guy Carbonneau devem continuar, independentemente do rendimento do time.
Mas o principal é que a gerência demonstrou que não vai ficar parada esperando o barco afundar. A chegada de Schneider, o rebaixamento de Kostitsyn e o afastamento de Kovalev foram claras demonstrações para os torcedores e, principalmente, para os jogadores, que ninguém tem lugar garantido e que todos precisam realmente se esforçar mais e demonstrar que vestir o manto dos Canadiens deve ser motivo de orgulho e garra no gelo.
Quem não quiser, é só pedir para sair. A porteira já foi aberta.