Por: Eduardo Costa

Mike O'Connell é mais conhecido pelo papel de ex-gerente geral do Boston Bruins, onde foi o responsável pela ida de Joe Thornton para o San Jose Sharks, do que como um ex-defensor de longa carreira na NHL. Mesmo assim deteve por muito tempo um recorde da mais competitiva das ligas — um não muito divulgado, é verdade.

Na temporada 1983-84, O'Connell marcou pelo menos um gol em sete partidas consecutivas pelos Bruins. Um fato ainda mais admirável se lembrarmos que aquela equipe tinha em seu elenco Ray Bourque, que marcara naquela mesmíssima campanha 31 tentos, sua melhor marca na carreira. Até poucos dias, até mesmo O'Connell desconhecia que nenhum outro linha azul jamais havia feito o mesmo que ele.

O recorde viveu na obscuridade, e só viu a luz quando um jovem defensor do Washington Capitals não apenas igualou a marca, como foi além. Oito jogos seguidos fazendo o que deve, primordialmente, ajudar a evitar.

Mike Green começou a reescrever a história contra os Bruins no dia 27 de janeiro, e 18 dias depois, terminava sua façanha contra o Tampa Bay Lightning. Uma sequência que ajudou o canadense a se consolidar no topo da tabela de pontuação entre os jogadores de sua posição, mesmo tendo ficado de fora de 13 partidas dos Capitals na temporada após uma contusão no ombro.

E essa não foi a única proeza alcançada nesse mesmo período. Dois ou mais pontos foram obtidos, de forma consecutiva, em seis desses confrontos. Algo que o coloca no mesmo corredor que apenas três defensores na história da NHL: Bobby Orr, Bourque e Paul Coffey. Nada mal. Nada mal mesmo.

Quando atingiu o destacável feito, Green possuía, sozinho, mais gols que toda a linha azul de times como o Montreal Canadiens, New York Rangers e Calgary Flames.

A média superior a um ponto por jogo (50 unidades em 44 embates) é o principal argumento dos que defendem a "candidatura" de Green ao Troféu Norris, concedido ao melhor zagueiro da temporada.

Sua produtividade e estilo de jogo começam a render comparações com Coffey. Até mesmo o fato de não ser muito responsável em sua função principal é usado para que a lembrança com o ex-Oilers faça sentido.

Embora qualquer comparação desse tipo deve ser vista com um olhar bem conservador, não podemos ignorar as semelhanças. De fato Green é um exímio patinador e também possui um chute forte e certeiro, características que fizeram de Coffey um monstro nos anos 1980 e início dos 1990. Não pensa duas vezes antes de se juntar aos três homens de frente, muitas vezes deixando seu time vulnerável na retaguarda. Carrega muito bem o disco pela zona neutra, mas quando alguma coisa dá errada...

Foi assim contra o Los Angeles Kings, há poucos dias. Em sua atuação não muito inspirada frente ao time da Califórnia, o "quarto" atacante Green foi pego algumas vezes fora de posição. O mesmo acontecera contra os Devils em um jogo chave nessa temporada. Obviamente isso fez aumentar ainda mais a comparação com Coffey, que detém o recorde de gols marcados por um linha azul em uma temporada — 48 gols na temporada 1985-86.

Coffey serve como paralelo, no sentido que marcar mais pontos nem sempre é garantia de Norris. Mesmo sendo o artilheiro em sua posição, Coffey várias vezes perdeu o Norris para atletas como Chris Chelios, Bourque e Rod Langway, porque esses eram zagueiros mais completos. Excelentes em ambos os lados do gelo. Por isso muitos analistas consideram que Green está alguns degraus abaixo de Zdeno Chara e Dan Boyle na corrida pelo Norris.

Mas, se não é um primor defensivamente, pelo menos ele está longe de ser um Sandis Ozolinsh.

Uma estatística sempre muita válida, o mais/menos, está do lado de Green. Apenas Dennis Wideman (+29), está acima do jogador dos Caps, e mesmo assim por uma mísera unidade.

Bruce Boudreau, treinador detentor do Troféu Jack Adams, adota a medida mais simples para minimizar os efeitos de uma aventura não bem sucedida de Green na zona ofensiva. Ele geralmente usa um defensor sem muitos recursos ofensivos, estritamente conservador, para atuar ao lado de Green. Um dos mandamentos mais antigos do hóquei.

O mesmo Boudreau é tido como um divisor de águas na carreira do atleta de 23 anos. Ex-treinador de Green no Hershey Bears, filial dos Capitals na AHL, Boudreau foi chamado para substituir Glen Hanlon em novembro de 2007. Até então Green contabilizava 22 pontos, seis gols e um mais/menos de -26 em 113 jogos sob o comando de Hanlon na NHL. Desde que a era Boudreau começou em DC, Green soma 99 pontos em 105 jogos, sendo 37 gols, e +42.

Boudreau recebe muito crédito pelo crescimento notável de Green, mas recusa seu papel:

"Ele poderia ter o Mickey Mouse como treinador e mesmo assim seria um grande jogador de hóquei."

Na verdade foi uma bela troca de "favores". Green foi um dos atletas mais importantes na arrancada fantástica dos Caps à vaga na última pós-temporada — o que foi fundamental para Bruce obter seu Troféu Jack Adams. E quando os playoffs chegaram lá estava o defensor, com sete pontos em igual quantidade de embates contra os Flyers.

Boudreau, tendo participado do crescimento de Green nas ligas menores, deu a confiança e espaço necessários para que o atleta crescesse também na NHL. A cada vantagem numérica é ele o responsável por fazer a transição defesa-ataque. Tem sido assim desde a demissão de Hanlon.

A mesma confiança que a torcida vem depositando no jovem elenco. Nunca se viu em Washington uma sincronia tão grande entre fãs e time.

Quando Alexander Ovechkin assinou um contrato de 13 anos de duração, muita gente considerou um desperdício de talento. Um atleta como Ovechkin em uma franquia que não parecia ter uma boa perspectiva a curto e médio prazo na NHL?

O amadurecimento de gente talentosa como Alexander Semin, Nicklas Backstrom e o líder em pontos entre os defensores da NHL, Mike Green, vem dando razão à escolha de Ovechkin.

Mesmo que Green não abocanhe o Troféu Norris, os Capitals podem se gabar de ter não apenas o atacante com mais faro de gol da liga, como também o defensor pesadelo para os goleiros adversários.

Eduardo Costa colocaria Mike Green entre os finalistas do Troféu Norris, mas na terceira posição.
AP
Ele chuta...
(14/02/2009)
AP
... e marca! Contra o Lightning, Green escreveu o seu nome na história.
(14/02/2009)
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Página publicada em 18 de fevereiro de 2009.