Desde que o Detroit
Red Wings assinou
um novo contrato
com Henrik Zetteberg,
no final de janeiro,
várias perguntas ficaram no
ar. A principal delas: a equipe
vai conseguir manter Johan
Franzen e Marián Hossa
para a próxima temporada? A
expectativa do gerente geral,
Ken Holland, era a de assinar
com um dos dois atacantes
até o fim da temporada regular, o que não se
concretizou. Ainda.
Durante
esta semana, em
que os Red Wings viajaram
ao Canadá, Holland manteve
conversas com o empresário
de Hossa, Ritch
Winter, que reside
em Edmonton.
O jogador,
por sua vez, deu sua parcela
de colaboração, reafirmando
publicamente a sua vontade de
permanecer em Detroit: "Para poder
continuar nos Red Wings, estou preparado
para aceitar menos dinheiro, mas
em um acordo justo, então os dois lados
ficarão satisfeitos. É o que procuro. Sei
que, se eu fosse para outro lugar, poderia
receber mais, mas estou disposto
a receber menos para ficar aqui. Com
esperança tudo vai dar certo." Franzen
também já fez sua publicidade pessoal,
admitindo que concederia um desconto
para renovar em Detroit.
Baseado no contrato de Zetterberg,
Holland espera conseguir um acordo
de longo prazo com Hossa a um salário
semelhante, na casa dos US$ 6 milhões
por ano. Se é a vontade de ambos
e se existe uma forma criativa de que
isso seja feito, acredita-se que Holland
dará um jeito de mantê-lo em Detroit.
Além disso, o gerente também pretende
manter Franzen no time, e seu provável
salário é mais atrativo, cerca de US$ 4
milhões por ano. Para isso, ele sabe
que terá que abrir mão de jogadores
de salários mais baixos para
que seus dois maiores artilheiros
continuem vestindo vermelho e
branco em outubro. Isso pode significar
que os Wings
terão um verão
setentrional muito
movimentado, não
para anunciar
quem chega, mas para dizer adeus
a quem sai. "Nós vamos perder
jogadores", lamenta Holland. "As únicas coletivas de imprensa que
eu terei no verão serão para anunciar
quais jogadores estão saindo.
Não teremos entrevistas para
anunciar quem está chegando."
É possível que desta vez Holland
não alcance seu objetivo, simplesmente
porque mágica ainda não é
uma de suas habilidades. Embora
mantenha contato com os empresários
dos jogadores, as negociações não evoluem.
O que as partes já sabem é onde
cada uma está, o quanto um lado pretende
pagar e o quanto o outro lado quer
receber. Ainda não se sabe qual será o
teto salarial em 2009-10, mas é fato que
não será muito maior que o atual, talvez
US$ 58 milhões, existindo até o risco de
decréscimo. Talvez ele fique com o valor
vigente, de US$ 56,7 milhões.
O Detroit tem oito atacantes com
contrato assinado para o ano que vem:
Pavel Datsyuk, Zetterberg, Valtteri Filppula,
Dan Cleary, Tomas Holmström,
Kris Draper, Kirk Maltby e Darren
Helm. Ao todo eles consomem US$ 23,9
milhões do orçamento, o equivalente
a 42,2% do total. Toda a defesa do time
tem contrato para pelo menos mais
uma temporada, exceto Chris Chelios,
em seu último ano na equipe. Nicklas
Lidström, Brian Rafalski, Brad Stuart,
Niklas Kronwall, Andreas Lilja,
Brett Lebda, Derek Meech e Jonathan
Ericsson demandam US$ 23,5 milhões,
aproximadamente 41,4% do orçamento.
No gol, apenas Chris Osgood está
contratado, por US$ 1,4 milhão. Ty
Conklin vai receber propostas irrecusáveis
liga afora, muito acima do
que o Detroit poderia pagar por um
reserva e do que Holland realmente
pagaria por um goleiro. É provável que
Jimmy Howard, enfim, faça parte do
time. Seu contrato é de US$ 717 mil.
Então, com os goleiros, os Red Wings
gastarão pouco mais de US$ 2 milhões.
Ou seja, mais de US$ 49 milhões (87,3%
do total) do teto salarial já estão comprometidos.
Sobraram cerca de US$ 7,2
milhões para completar o ataque com
pelo menos quatro jogadores.
Entre as opções no próprio elenco
estão Tomáš Kopecký,
Mikael Samuelsson, Franzen e Hossa,
todos agentes livres irrestritos, e Ville Leino e Jiri
Hudler, agentes livres restritos. Leino provou
que está pronto para a NHL. É um
atacante talentoso e barato. Imagine
que assine por US$ 1,5 milhão, quase
o dobro do que recebe hoje. A gerência
já demonstrou interesse em renovar o
contrato de Kopecký. Seus US$ 500 mil
atuais podem subir para US$ 850 mil.
Por sua vez, Hudler, com uma produção
estupenda (22 gols, 54 pontos) para
quem atua poucos minutos por noite,
faz a melhor temporada de sua carreira,
progredindo ano a ano. Não faz
sentido abrir mão de seu talento agora.
Seu próximo contrato deve ter valor
igual ao de Cleary, US$ 2,8 milhões por
ano, a menos que ele também dê um
desconto para a gerência e aceite míseros
US$ 2,5 milhões e a promessa de
um contrato lucrativo no futuro. Para
Samuelsson as portas estarão abertas
para procurar outra equipe.
Sobraram US$ 2,3 milhões no orçamento,
insuficientes para assinar com
Franzen ou Hossa. Se Holland estiver
disposto a abrir mão de vários jogadores,
entre eles Hudler, para assegurar a
permanência de um dos dois artilheiros,
o espaço será maior. Mas até que
ponto é válido abrir mão de profundidade
em troca de um único jogador? "A decisão que teremos de tomar é:
queremos ser muito fortes nas linhas
principais e não ter profundidade?",
pergunta o gerente. "É por isso que
não estou agindo com pressa."
Se os Wings tiverem que escolher entre
Franzen ou Hossa, qual a melhor
opção? Franzen, 29 anos, está apenas
em sua quarta temporada na NHL. Em
283 jogos, marcou 80 gols e 137 pontos.
A Mula tem história curiosa em Detroit,
a começar por seu apelido, criado
por Steve Yzerman, que descreveu
Franzen como uma mula, graças ao seu
tamanho (1,98 m e 100 kg). Recrutado
em 2004 na terceira rodada, foi trazido
da Suécia no ano seguinte, aos 26 anos,
e imediatamente integrou o elenco titular
dos Red Wings. Central grande e
forte, tinha como características, além
de sua força, as habilidades defensivas.
No entanto, na segunda metade da temporada
de 2007-08, Franzen assumiu
lugar na primeira linha de vantagem
numérica da equipe e começou a fazer
gols. Muitos gols. Terminou a temporada
com 27, entrou quente nos playoffs e
destruiu o Avalanche com nove gols em
quatro jogos, recorde absoluto da NHL.
Foi o artilheiro do time nos playoffs,
com 13 gols, ao lado de Zetterberg, porém
com seis jogos a menos, graças
ao período em que esteve afastado por
ter sido diagnosticado com um coágulo
no cérebro. Tamanha atuação fez seu
nome ser cogitado inclusive para o
Troféu Conn Smythe.
Na atual temporada, Franzen
manteve a mão quente, com 31 gols
em 62 jogos — projetados em 82 jogos,
resultariam em 41 gols. E não
foram poucos os golaços, alguns
dignos de jogada da semana. Mas
disputar 82 partidas
numa temporada é algo inédito
para o sueco. Em
todos os quatro
anos com os Red Wings ele sofreu
alguma contusão que o afastou de
uma média de dez jogos por temporada,
histórico que sugere uma "propensão" a contusões, embora
isso possa acabar da noite para o
dia. A grande dúvida em relação à
Mula é definir se ele é ou está goleador,
o que ele não foi na Suécia e em
dois anos e meio de Detroit.
Por sua vez, Hossa é apenas um
ano mais velho que Franzen, porém
com quase o triplo de jogos disputados
no currículo. Foram 768 jogos, 335 gols
e 713 pontos em 11 temporadas. Ele chegou
a Detroit em julho, depois que seu
empresário ligou para Holland e disse: "Marián quer jogar nos Red Wings." O
eslovaco recusou fortunas de outras
equipes, como Oilers e Penguins, para
assinar por um ano com o atual campeão.
Seu objetivo estava claro: ganhar
o Santo Graal do hóquei pela primeira
vez em sua carreira. Com os Wings,
imaginava, ele teria maiores chances.
Recrutado e desenvolvido pelos
Senators, disputou sete temporadas
com a equipe, até ser trocado para
os Thrashers, onde passou três anos
antes de fazer escala nos Penguins no
final da temporada passada. Hossa é
um goleador nato. Tem no currículo
sete temporadas com mais de 30 gols,
sendo duas com mais de 40. Em outras
duas ocasiões bateu na trave, com 29
gols. Além disso, é um jogador completo,
responsável defensivamente e
capaz até de desferir trancos. Outra
de suas características é a durabilidade:
antes da contusão sofrida na
temporada passada, logo em sua estreia
com os Penguins, Hossa fez seis
temporadas seguidas com no mínimo
80 jogos. Pelos Wings, não participou
de seis jogos, todos de fevereiro em
diante. Talvez a sua desvantagem em
relação a Franzen seja o histórico da
organização, que valoriza os jogadores
criados em casa.
Se o time esperar até o fim de junho
para tomar sua decisão, terá informações
mais precisas sobre quanto poderá
gastar. Tudo indica que cada dólar
economizado terá impacto no elenco.
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