Por: Thiago Leal

Teemu Ilmari Selanne é, de longe, o jogador mais importante da história do Mighty Ducks of Anaheim/Anaheim Ducks, principalmente na Era pós-Locaute — antes disso podemos considerar o posto como pertencente a Paul Kariya. O finlandês é o maior pontuador da história da franquia e, neste domingo, fez história ao marcar seu gol de número 600 da NHL. Talvez a marca até passe desbercebida por quem não for torcedor dos Ducks (mas gosta de hóquei e acompanha a NHL) no Brasil. Talvez até mesmo o próprio Selanne não chame nem tanta atenção para quem torce por outra franquia. Mas o ponta direita tem uma história importantíssima dentro da NHL. Antes que seja tarde, conheça o legado deste finlandês prestes a completar 40 anos de idade (e, quem sabe, se aposentar).

Início da carreira
Em 3 de julho de 1970, na cidade de Helsinque, capital da Finlândia, Liisa deu a luz a dois filhos: Teemu Selanne e seu irmão gêmeo, Paavo (aposto que você pensou que seria o Humberto Fernandes). Num país onde o hóquei no gelo é o país mais popular, apesar da força do atletismo e do automobilismo, os gêmeos ingressaram nas categorias de base do Jokerit, um dos clubes mais importantes do país. Em 1988, Teemu foi campeão juvenil finlandês e o Winnipeg Jets, da NHL, o selecionou como 10ª escolha geral no recrutamento daquele ano. Teemu Selanne foi o único jogador europeu a ser recrutado na primeira rodada. A primeira escolha geral foi Mike Modano pelo Minnesota North Stars, e a nona, logo a frente do finlandês, foi Rod Brind'Amour, pelo St. Louis Blues. Trevor Linden, Jeremy Roenick, Tie Domi, Mark Recchi, Tony Amonte e Rob Blake estão entre os nomes importantes que também saíram daquela leva de atletas.

Desde já, Selanne chamava muita atenção por uma característica em particular, que era sua velocidade.

Mas Selanne só veio a jogar pela NHL em 1992, depois de ser artilheiro e conquistar o título finlandês pelo time adulto do Jokerit, além de ter levado a Finlândia à medalha de bronze da Copa Canadá no ano anterior. Ironicamente, quando chegou a Winnipeg, Selanne não pode usar seu número preferido, o #8, porque um defensor chamado Randy Carlile (isso mesmo, esse Randy Carlile em quem você está pensando) já vestia a camisa. Não teve problema. Com o #13, Selanne marcou 76 gols na temporada 1992-93, tornando-se o calouro com maior número de gols marcados. Mais que isso, Selanne é, ao lado de Alexander Mogilny, que marcou o mesmo número de gols na mesma temporada, o último atleta a atingir a marca de 70 gols numa temporada regular da NHL, apesar do seu sósia Humberto Fernandes jurar que Alexander Ovechkin vai repetir o feito. Naquele ano, Selanne também eslabeleceu o recorde de calouro na categoria pontos, com 132. Até hoje Selanne é detendor das duas marcas. Ele só não levou o Troféu Art Ross porque, em sua melhor fase, um tal Mario Lemieux marcou 160 pontos. Mesmo assim, saiu da temporada com o Troféu Calder de calouro do ano. E teria levado o Troféu Maurice Richard (dividindo com Mogilny) caso ele já existisse. Tudo bem, a justiça foi feita e Selanne foi o primeiro ganhador do prêmio em 1999, com 47 gols, já pelo time que o consagraria, o Mighty Ducks of Anaheim. Antes disso, tinha sido o maior goleador da liga na temporada anterior, com 52 gols marcados, também pelos Ducks. Aliás, e por falar em Ducks...

Primeira passagem pelos Ducks
Como em 1996 o Winnipeg Jets não estava com a saúde financeira muito boa (e na temporada seguinte mudaria para Phoenix...), a solução encontrada foi trocar Selanne. Ele foi mandado para a Califórnia, para jogar pelo Mighty Ducks of Anaheim, junto com Marc Chouinard e uma escolha de quarta rodada (o Winnipeg recebeu Chad Kilger, Oleg Tverdovsky e uma escolha de terceira rodada). Em Anaheim, com a camisa #8, como gostava, Selanne conheceu o número #9 ideal para formar uma linha ofensiva: Paul Kariya. Eles teriam tido a companhia do também finlandês Jari Kurri, que seria convertido em central caso sua idade não tivesse o forçado a jogar em linhas mais baixas.

Numa franquia jovem e irrelevante, com jeito de filme infantil e logo que mais parecia marca de loja de produtos esportivos para crianças, Selanne e Kariya jogaram o fino do hóquei. Se Jean-Sebastien Giguere mudou a história da franquia, ele apenas concluiu uma revolução que havia se iniciado em 1996 com o finlandês e o nipo-canadense. Foi com a dupla que os Ducks chegaram pela primeiras vez aos playoffs em 1997. Nessa temporada só dois jogadores passaram a marca dos 100 pontos: Selanne (109) e Lemieux (122). Em sua estreia na pós-temporada os Ducks passaram pelo Phoenix Coyotes em 7 jogos, mas acabaram varridos pelo Detroit Red Wings na rodada seguinte. Os Wings acabaram campeões, como todos sabemos.

Em 1998, após conquistar a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Nagano com a Seleção Finlandesa (derrotando o Canadá de Wayne Gretzky), liderando também a competição em pontos, Selanne foi pela segunda vez recordista em gols da liga e se tornou o primeiro europeu eleito Jogador Mais Valioso do Jogo das Estrelas, depois de um hat-trick que não foi suficiente para que a Seleção do Mundo batesse a da América do Norte (que venceu o jogo por 8-7). Selanne também venceu a competição individual na categoria de controle do disco.

Em 1999 liderou novamente a liga em gols e veio seu Troféu Maurice Richard, na primeira vez que o prêmio foi entregue. Com os Ducks varridos na primeira rodada dos playoffs pelo Detroit Red Wings, Selanne disputou o Campeonato Mundial com a Finlândia. Perdeu a final para a República Tcheca, mas foi eleito Jogador Mais Valioso do torneio.

Breve e discreta carreira pós-Ducks
Então sabe-se lá por que, os Ducks trocam Selanne em com o San Jose Sharks em 2001 por Jeff Friesen, Steve Shields e uma escolha de segunda rodada. Por pouco o finlandês não foi para o New Jersey Devils em 2003 em troca de Scott Gomez, o que seria irônico: talvez Selanne tivesse jogado a Copa Stanley com os Devils e derrotado os Ducks. A troca não aconteceu porque Selanne se recusou na última hora.

Quando completou 33 anos de idade, Selanne assinou como agente livre com o Colorado Avalanche junto com Paul Kariya, que acabara de deixar os Ducks. Os dois, no entanto, não formaram a dupla de sucesso que esperavam durante a única temporada em Denver, que foi a 2003-04. Mesmo assim, contribuiu com a campanha da Finlândia que foi à final da Copa do Mundo de Hóquei e perdeu para o Canadá. Foi na Copa do Mundo que Selanne lesionou o joelho. Durante o locaute, Selanne voltou a assinar com o Jokerit. Mas ainda estava machucado e acabou não jogando.

Volta aos Ducks e consagração
Selanne voltou aos Ducks para a temporada 2005-06, jogando com a camisa #13, já que a #8 estava com Sandis Ozolinsh. E ironicamente o técnico dos Ducks era Randy Carlile, aquele que impediu que Selanne usasse a #8 em Winnipeg. A franquia já tinha como donos Henry e Susan Samueli. Em seu retorno, Selanne marcou 90 pontos na temporada regular e 14 na pós-temporada, ajudando os Ducks a chegar às finais de Conferência contra o Edmonton Oilers. Foi nessa temporada também que Selanne chegou a seu milésimo ponto. No final das contas, o finlandês levou o Troféu Memorial Bill Masterton.

Em tempo: Na metade da temporada 2005-06, Selanne disputou os Jogos Olímpicos de Inverno e levou a Finlândia à final, onde perdeu para a Suécia do seu colega de time Samuel Pahlsson. Mas Selanne entrou para a seleção do torneio e ainda foi eleito o melhor atacante da competição.

Na temporada seguinte, já de volta com a camisa #8, e com um time montado para vencer a Copa Stanley, Selanne marcou seu gol de número 500, contra o Colorado Avalanche, sem assistência, pois roubou o disco de Joe Sakic. Ajudou os Ducks a conquistar a Copa Stanley com 94 pontos na temporada regular e 15 nos playoffs. Junto com os Ducks, Teemu Selanne venceu sua primeira Copa Stanley. A conquista do seu primeiro anel de campeão foi também a consagração para um craque como Selanne, que corria o risco de encerrar a carreira sem Copa, a exemplo de tantos outros — Dino Ciccarelli, Pavel Bure e Trevor Linden, só para citar três.

E então resolveu... parar? Selanne não sabia se voltaria a jogar hóquei e perdeu mais da metade da temporada 2007-08 e até se aposentou da Seleção Finlandesa. Voltou, mas os Ducks não engrenaram e foram eliminados na primeira fase. Selanne acabou voltando atrás da decisão de não jogar mais pela Seleção e disputou o Campeonato Mundial 2008, ficando com a medalha de bronze, e tornando a anunciar que não jogaria mais pela Seleção.

Com mais duas temporadas pelos Ducks, Teemu voltou atrás da decisão e tornou a jogar pela equipe de seu país nos Jogos Olímpicos de Inverno 2010, onde conquistou nova medalha de bronze.

O gol 600
Marcado também contra o Avalanche, com assistência de Scott Niedermayer e Corey Perry, Selanne é o terceiro jogador a ter ganho o Troféu Calder e atingir a marca de 600 gols. Os outros dois foram Luc Robitaille e Mario Lemieux. Por si só, isso tornaria a marca importante. Mas se marcar mais dois gols, Selanne se tornará o maior finlandês na história da NHL, por ultrapassar os 601 de Jari Kurri.

Se não tivesse sido jogador de hóquei, certamente Selanne seria professor (chegou a dar aulas no jardim de infância antes de jogar na NHL) ou empresário (cursou dois anos de Administração). Ao invés disso, tornou-se um jogador de hóquei com valor inestimável para o esporte. Até o final da temporada 2008-09, tinha 1212 pontos em temporada regular. É o atual recordista em pontos, gols e assistência na história dos Ducks, além de deter os recordes de mais gols (52) e mais pontos (109) numa única temporada. Caso encerre a carreira no final desta temporada, tudo indica que será o primeiro jogador a ter o número aposentado na história da franquia (embora Scott Niedermayer, que também pode parar, tenha a mesma possibilidade). Além disso, é o recordista em pontos na história dos Jogos Olímpicos de Inverno com 31.

Em sua vida pessoal, Selanne é casado com Sirpa e tem quatro filhos: Eemil, Eetu, Leevi e Veera Johanna, a única menina. É uma das única pessoas no mundo a ter uma Ferrari modelo Enzo Ferrari e disputa competições amadoras de golfe e rali. Fã de automobilismo, Selanne é amigo pessoal de Kimi Raikkonen e tem uma casa vizinha a sua na cidade de Porkkala. Pelo menos, diferentemente de Raikkonen, cresce barba no rosto de Selanne, e ele sabe sorrir.

E deve sorrir ainda mais caso marque mais dois gols na temporada e quebre o recorde de Kurri. Mas, mesmo que isso não aconteça, seu legado na NHL e suas marcas são tão fortes que se destacam, igual àquela cruz azul que contrasta perfeitamente com o branco na bandeira da Finlândia.

Thiago Leal tem Teemu Selanne e Kimi Raikkonen como dois de seus ídolos pessoais.
Kimmo Mäntylä/Lehtikova
Teemu Selanne campeão finlandês com o Jokerit em 1992.

Ken Levine/Getty Images
Com o Winnipeg Jets, já chegou fazendo história: recorde de gols e pontos entre os calouros.

Robert Beck/Sports Illustrated
O #8 e o #9: Selanne e Paul Kariya formaram uma dupla que deu notoriedade ao Mighty Ducks of Anaheim, então reconhecido apenas por pertencer à Disney.
Paul Sakuma/AP
Passagem pelo San Jose Sharks, rival dos Ducks.
(28/02/2010)
Arquivo TheSlot.com.br
Pelo Avalanche, Selanne não rendeu. Contra o Avalanche, Selanne marcou seus 500º e 600º gols.
Arquivo TheSlot.com.br
Medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Inverno de Turim em 2006.
(26/02/2006)
Arquivo TheSlot.com.br
Volta aos Ducks e a conquista da Copa Stanley.
(06/06/2007)
Victor Decolongon/Getty Images
600!
(21/03/2010)
Joha Kärkkäinen/Lehtikova
Com a esposa, seu primeiro filho, Eemil, e seus bichinhos de estimação.
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Página publicada em 25 de março de 2010.