Por: Alexandre Giesbrecht

Não chegou a ser unanimidade — a única unanimidade entre os nossos palpites foram os Blackhawks, que não estão comprovando esse favoritismo contra os Predators —, mas quase todos os colunistas de TheSlot.com.br que opinaram disseram que os Sabres bateriam os Bruins nas quartas-de-final do Leste. O primeiro jogo, ou ao menos o seu placar, serviu para confirmar que tal expectativa não era exagerada. Mas o que se seguiu a partir de então serviu para mais uma vez mostrar que a garantia das nossas bolas de cristal já expirou faz tempo.

É verdade que o time de Buffalo vinha com algumas contusões de jogadores importantes e a contusão de Tomas Vanek no jogo 2 não ajudou nesse quesito. Mas o fato é que Ryan Miller está jogando bem como o esperado, e isso deixou de ser  suficiente, ao menos contra o time de um Tuukka Rask tão inspirado quanto Miller. Um dos motivos? A quase completa nulidade que tem sido Raffi Torres desde que foi trocado pelo bom defensor Nathan Paetsch no dia-limite de trocas. Torres marcou apenas cinco assistências ao longo dos catorze jogos finais da temporada regular e duas assistências nos playoffs. Ele não veio para ser um goleador no estilo de Kovalchuk…

Parêntese: por falar nele, já parece certo que, com a precoce eliminação dos Devils, ele não ficará em Nova Jersey, e dizem por aí que ele pode até voltar para a Rússia na temporada que vem. Sua falta de entusiasmo durante o curto período com a camisa vermelha fez potenciais interessados em sua contratação como agente livre irrestrito começar a avaliar se ele vale mesmo tudo o que vai pedir. Talvez com um novo e longo contrato em mãos ele redescubra o entusiasmo goleador do início da carreira, mas poucos vão estar dispostos a pagar cerca de US$ 10 milhões para ver. Será uma situação a se acompanhar atentamente, especialmente se ele não assinar contrato já no dia 1.º de julho. Fim do parêntese.

Como eu ia dizendo, Torres não veio para ser um goleador no estilo de Kovalchuk, mas um ou outro golzinho seria bem-vindo, ainda mais em uma série apertada como essa, cujos jogos foram todos decididos por um gol de diferença (os Bruins venceram por dois gols o jogo 2, mas com um gol em rede vazia). Essa produtividade de bicho-preguiça deverá custar-lhe uma vaga no jogo 5, a ser disputado após a publicação destas linhas. Será que alguém acha que o gerente geral Darcy Regier está satisfeito?

Torres não é o único atacante a impersonar a versão 2009 de Vágner Love: Derek Roy, Tim Connolly e Jason Pominville têm apenas um ponto cada um nos quatro primeiros jogos da série, e apenas um desses pontos, o de Pominville, foi um gol. Os três foram os artilheiros do time na temporada regular. Não escolheram uma boa hora para o sonambulismo. "Nossos principais jogadores têm de fazer a diferença, e isso eles ainda não fizeram", discursou o técnico Lindy Ruff. "É decepcionante."

Decepcionante também é o aproveitamento da equipe de vantagem numérica, que desperdiçou todas as catorze oportunidades que teve na série. E mesmo a defesa não escapa das críticas, já que os Sabres abriram o placar em todas as partidas e permitiram a virada nas três últimas. Mesmo no primeiro jogo, a única vitória, por 2-1, o time chegou a sofrer o empate antes de garantir o resultado.

"Não é a melhor época do ano para lidarmos com [esses problemas], mas é assim que funcionam os altos e baixos de uma temporada", lamenta o atacante Tim Kennedy, um dos cinco "artilheiros" do time na série, cada um com meros dois pontos. "Ainda sentimos que estamos jogando bem."

E realmente estão, ou ao menos não estão jogando mal. No jogo 4 havia a impressão de que os percalços seriam superados e o time voltaria para casa com a série empatada, mas dois gols dos Bruins no terceiro período forçaram a prorrogação, vencida pelo Boston com um gol de Miroslav Satan, um ex-Sabre que atualmente era refugo dos Penguins e que já tinha perdido um gol incrível, na verdade uma senhora defesa de Miller.

A choradeira com arbitragens, praga difundida pela Internet que se propaga com velocidade especialmente alta no Brasil, deu as caras também em Buffalo — como, aliás, em diversas outras cidades da NHL, liga que nunca foi muito famosa pela qualidade de seus árbitros. No jogo 4, por exemplo, os questionamentos vieram da penalidade que deu origem ao primeiro gol dos Bruins e até de uma penalidade encerrada mais de dois minutos antes do gol de empate. Acho que o limite para choradeira já foi ultrapassado há um bom tempo; este é só mais um bom exemplo disso.

É possível que quando esta coluna for lida os Sabres ainda estejam vivos nos playoffs. É possível até que eles virem a série e se classifiquem no jogo 7. O problema é que há muita coisa correndo contra eles, o que não gera um prognóstico dos mais favoráveis. Quer dizer, não gera na nossa bola de cristal. Ela está, como você já sabe, com a garantia vencida.

Alexandre Giesbrecht, 34 anos, compareceu ao show do Social Distortion em São Paulo ao lado do mito Dave Clayton.
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Página publicada em 23 de abril de 2010.