Não chegou a ser  unanimidade — a única unanimidade entre os nossos palpites foram os Blackhawks,  que não estão comprovando esse favoritismo contra os Predators —, mas quase  todos os colunistas de TheSlot.com.br que opinaram disseram que os Sabres  bateriam os Bruins nas quartas-de-final do Leste. O primeiro jogo, ou ao menos  o seu placar, serviu para confirmar que tal expectativa não era exagerada. Mas  o que se seguiu a partir de então serviu para mais uma vez mostrar que a  garantia das nossas bolas de cristal já expirou faz tempo.
          
          É verdade que o time  de Buffalo vinha com algumas contusões de jogadores importantes e a contusão de  Tomas Vanek no jogo 2 não ajudou nesse quesito. Mas o fato é que Ryan Miller  está jogando bem como o esperado, e isso deixou de ser  suficiente, ao menos contra o time de um  Tuukka Rask tão inspirado quanto Miller. Um dos motivos? A quase completa  nulidade que tem sido Raffi Torres desde que foi trocado pelo bom defensor  Nathan Paetsch no dia-limite de trocas. Torres marcou apenas cinco assistências  ao longo dos catorze jogos finais da temporada regular e duas assistências nos  playoffs. Ele não veio para ser um goleador no estilo de Kovalchuk…
          
          Parêntese: por falar  nele, já parece certo que, com a precoce eliminação dos Devils, ele não ficará  em Nova Jersey, e dizem por aí que ele pode até voltar para a Rússia na  temporada que vem. Sua falta de entusiasmo durante o curto período com a camisa  vermelha fez potenciais interessados em sua contratação como agente livre  irrestrito começar a avaliar se ele vale mesmo tudo o que vai pedir. Talvez com  um novo e longo contrato em mãos ele redescubra o entusiasmo goleador do início  da carreira, mas poucos vão estar dispostos a pagar cerca de US$ 10 milhões  para ver. Será uma situação a se acompanhar atentamente, especialmente se ele  não assinar contrato já no dia 1.º de julho. Fim do parêntese.
          
          Como eu ia dizendo,  Torres não veio para ser um goleador no estilo de Kovalchuk, mas um ou outro  golzinho seria bem-vindo, ainda mais em uma série apertada como essa, cujos  jogos foram todos decididos por um gol de diferença (os Bruins venceram por  dois gols o jogo 2, mas com um gol em rede vazia). Essa produtividade de  bicho-preguiça deverá custar-lhe uma vaga no jogo 5, a ser disputado após a  publicação destas linhas. Será que alguém acha que o gerente geral Darcy Regier  está satisfeito?
          
          Torres não é o único  atacante a impersonar a versão 2009 de Vágner Love: Derek Roy, Tim Connolly e  Jason Pominville têm apenas um ponto cada um nos quatro primeiros jogos da  série, e apenas um desses pontos, o de Pominville, foi um gol. Os três foram os  artilheiros do time na temporada regular. Não escolheram uma boa hora para o  sonambulismo. "Nossos principais jogadores têm de fazer a diferença, e  isso eles ainda não fizeram", discursou o técnico Lindy Ruff. "É  decepcionante."
          
          Decepcionante também é  o aproveitamento da equipe de vantagem numérica, que desperdiçou todas as  catorze oportunidades que teve na série. E mesmo a defesa não escapa das  críticas, já que os Sabres abriram o placar em todas as partidas e permitiram a  virada nas três últimas. Mesmo no primeiro jogo, a única vitória, por 2-1, o  time chegou a sofrer o empate antes de garantir o resultado.
          
          "Não é a melhor  época do ano para lidarmos com [esses problemas], mas é assim que funcionam os  altos e baixos de uma temporada", lamenta o atacante Tim Kennedy, um dos  cinco "artilheiros" do time na série, cada um com meros dois pontos.  "Ainda sentimos que estamos jogando bem."
          
          E realmente estão, ou  ao menos não estão jogando mal. No jogo 4 havia a impressão de que os percalços  seriam superados e o time voltaria para casa com a série empatada, mas dois  gols dos Bruins no terceiro período forçaram a prorrogação, vencida pelo Boston  com um gol de Miroslav Satan, um ex-Sabre que atualmente era refugo dos  Penguins e que já tinha perdido um gol incrível, na verdade uma senhora defesa  de Miller.
          
          A choradeira com  arbitragens, praga difundida pela Internet que se propaga com velocidade  especialmente alta no Brasil, deu as caras também em Buffalo — como, aliás, em  diversas outras cidades da NHL, liga que nunca foi muito famosa pela qualidade  de seus árbitros. No jogo 4, por exemplo, os questionamentos vieram da penalidade que deu origem ao primeiro gol dos Bruins e até de uma  penalidade encerrada mais de dois minutos antes do gol de empate. Acho que o  limite para choradeira já foi ultrapassado há um bom tempo; este é só mais um  bom exemplo disso.
          
        É possível que quando esta coluna for lida os Sabres  ainda estejam vivos nos playoffs. É possível até que eles virem a série e se  classifiquem no jogo 7. O problema é que há muita coisa correndo contra eles, o  que não gera um prognóstico dos mais favoráveis. Quer dizer, não gera na nossa  bola de cristal. Ela está, como você já sabe, com a garantia vencida.