Por: Thiago Leal

Com um gol de Chris Stewart a menos de um minuto do final do terceiro período, o Colorado Avalanche vence o jogo 1 da série quartas-de-final dos playoffs e certamente causa desespero em boa parte (para não dizer em todos) dos torcedores do San Jose Sharks presentes no HP Pavilion. Com o histórico de eliminações da franquia, não é de se assustar que muitos fãs esperassem que o pesadelo estava voltando a acontecer. Tudo estava nos conformes para tal: boa atuação do goleiro adversário, omissão dos principais jogadores da franquia e uma potencial zebra pela frente.

Nem mesmo a vitória no jogo 2 deve ter animado muito a torcida. Afinal de contas, foi um sofrido 6-5 na prorrogação. E em seis gols marcados, Joe Thornton só tem coragem de aparecer duas vezes e como assistente. Apenas um ponto para Marleau E Heatley. E novamente a responsabilidade no time acaba sendo chamada por Devin Setoguchi, Joe Pavelski e Dan Boyle, como na temporada passada. O jogo 3 volta ao colorado e, por 1-0, o Colorado retoma a liderança da série, em mais uma prorrogação.

Quando penso no San Jose Sharks passando por esse tipo de coisa, só consigo me lembrar de um certo time de futebol alvinegro que, por mais favorito que apareça numa competição X, acaba falhando em momentos decisivos. A derrota no jogo 3 foi a gota d'água para muitos. O jogo 4 seria novamente em Denver e o San Jose Sharks tinha tudo para perdê-lo. Mais uma vez as minhas desculpas aos torcedores do Colorado Avalanche, mas o meu protagonista preferido nesse caso são os Sharks e o seu sofrimento. O sofrimento de ver jogadores como Thornton, Patrick Marleau e Dany Heatley sumidos. Um goleiro como Evgeni Nabokov falhando. E o favoritismo da franquia indo todo por água abaixo. Desta vez nem mesmo Jonathan Cheechoo está lá.

Até porque, convenhamos, o Avalanche não vem jogando bem. Também não vem jogando mal. Mas, como um time limitado que ainda é, tem que se esforçar para superar os problemas e os largos espaços que deixa no rinque e encarar de igual para igual um adversário gigante, que são os Sharks de hoje. No jogo 3 o máximo que conseguiram chutar a gol foi 17 vezes. Um entrou. Matt Duchene esteve longe de sua melhor participação e o mesmo vale para Chris Stewart, o melhor jogador da série até então. Quem fez a diferença foi Craig Anderson, parando os 51 chutes dos Sharks. Quem foi o maior responsável pela pressão do San Jose? Sim, acertou se pensou em Setoguchi. E é uma sensação estranha você pensar que isso nem surpreende mais.

Com o patamar estabelecido entre o jogo 1 e o jogo 3, dava para imaginar o seguinte: já era! Stewart e os meninos do Colorado vão resolver de um jeito ou outro. Setoguchi, Ryane Clowe, Joe Pavelski vão se esforçar, mas não vai fazer diferença. Se vencer o jogo 4, o Colorado aniquila o San Jose fácil, ou na Califórnia ou no retorno da série a Denver. Bem vindos ao desespero da torcida dos Sharks. Como pode um time tão bom... não é nem errar tanto, mas não acertar nunca?

Lá vamos nós para o jogo 4. Novamente um esforço sem fim de Craig Anderson. O Avalanche jogou a quarta partida bem melhor que qualquer uma da série. Duchene continuou apagado, mas Stewart teve sua melhor atuação. Paul Stastny empatou a partida no segundo período, após os Sharks abrirem o placar com Boyle. Terceiro período em branco e os Sharks vencem na prorrogação com gol de Joe Pavelski. Nem me dei ao trabalho de fazer a piadinha "Joe... Pavelski". Thornton, com quase 20 minutos de jogo, esteve novamente apagado.

A conclusão que tive após o jogo 4 foi a mesma: o Colorado ainda pode vencer essa série. Os Sharks não apresentam nenhuma virtude que me possa levar a acreditar que vencerão o confronto — lógico, aqui há um certo preconceito de minha parte devido ao histórico do San Jose em playoffs.

Mas aí acontece o jogo 5 e o time, de uma hora para outra, atua tão bem quanto o faz em temporada regular. Foi econômico nos chutes — não que tenha chutado pouco, mas chutou menos e acertou mais. Até Patrick Marleau e Dany Heatley jogaram bem! Por seus dois gols, Logan Couture foi, aparentemente o melhor no gelo. Mas o jogador mais regular da série continua sendo o Setoguchi, com mais uma boa atuação. Pavelski, Boyle e Clowe também mantiveram o nível de performance, mas a diferença em relação aos demais confrontos é que quase todo o time jogou bem. E o mais empolgante é que o Colorado jogou muito bem. Mas foi massacrado por 5-0, porque o San Jose estava simplesmente impossível. Repito, parecia jogo de temporada regular.

Faz tempo que não vejo os Sharks atuarem tão bem em playoffs, e esse jogo 5 é o termônetro da série e da pós-temporada para a franquia californiana. Esse é o padrão de jogo que o time tem que seguir. E gostaria de saber o que Thornton pensa quando vê todo o time movido por uma vitória e ele, mais uma vez, não faz nada no rinque.

Fora de brincadeira... por mais que pareça implicância de minha parte, é necessário que a gerência do San Jose Sharks descubra o que diabos acontece com um jogador de 1,93m, que consegue passar por cima de qualquer defesa e marcar gols com tanta facilidade, que ele simplesmente some em partidas de playoffs. Você vê Manny Malhotra se jogando no gelo, chutando a gol, dando assistências e pergunta como Thornton consegue entrar no rinque para chutar apenas uma vez a gol — iria argumentar que o seu tempo de gelo foi reduzido, mas a verdade é que no jogo 5 todo mundo atuou um pouco menos, com os turnos muito bem divididos entre jogadores. Definitivamente, Thornton não tem perfil de um líder, pelo menos em playoffs. É como o Roger, aquele jogador de futebol que hoje está no Cruzeiro. O cara é muito bom. Você só não sabe porque na maioria das vezes ele não rende o quanto deveria render. Thornton, um ganhador de Troféu Hart, às vezes tem o mesmo desempenho de um calouro tímido nos playoffs. Duchene, que sofreu críticas leves no artigo, tem aparecido tanto quanto ele. Mas é dez anos mais novo e está se adaptando à NHL agora. Thornton era ídolo em Boston e tem uma bagagem grande em seu currículo. Será que não lhe incomoda nem um pouco ver os coadjuvantes atuando mais que ele, em qualidade e quantidade? Não é o dever de um craque, especialmente um veterano, guiar o seu time?

Vejo tanta gente criticando Sidney Crosby ou Patrick Kane e não entendo porque se concentram nos garotos, que têm desempenhado seu papel. Imaginem vocês se o Crosby fosse um jogador apagado em jogos de pós-temporada.

A sorte é que desta vez o San Jose parece estar se virando sem Thornton. Marleau e Heatley ainda estão devendo, porque este ainda é o time de Boye e Setoguchi. Mas Thornton tem sido inaceitável há um bom tempo. Um protagonista que se resume sua participação a cameos nos capítulos mais importantes da história.

Com altos e baixos, a franquia californiana não justifica o favoritismo, mas já dá motivos para ser considerada favorita. Pela primeira vez os Sharks assumiram a liderança na série. Caso queiram avançar nos playoffs e chegar às finais de Conferência, precisam desse tipo de comprimetimento.

Aonde está a confiança que isso vá acontecer nos jogos 6 e, eventualmente, no sétimo, é que eu não sei. Pelo menos está nadando no caminho certo.

Thiago Leal acaba de receber pelo correio CDs do Ride e Teenage Fanclub.
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Página publicada em 23 de abril de 2010.